Para onde corre Gyokeres?
O secretismo do Sporting roça o absurdo e suscita, no mínimo, a especulação. Primeira vítima do embaraço causado pelo silêncio: o treinador Rui Borges
O Sporting não informa, de modo oficial, sobre a lesão ou o condicionalismo físico que afeta ou afetou Victor Gyokeres, o seu melhor jogador. Fonte oficial do clube leonino, contactada por A BOLA (notícia na página 10 desta edição), disse que «o Sporting não comentários sobre o boletim clínico dos jogadores, a menos que se trate de uma situação grave ou de longa duração», e que essa decisão decorre de «política do clube e é uma questão de ética». Ou seja, fica-se na mesma sobre o que efetivamente condiciona o avançado sueco, sem se saber, e a justificação para o secretismo não convence ninguém.
Distantes vão os tempos em que o chefe do departamento clínico dos clubes, geralmente o médico, chamava a si a responsabilidade de informar sobre a afluência à enfermaria do estádio, dispensando o treinador dessa tarefa. Este nunca o fazia e remetia a comunicação para quem de direito e competente. No máximo, esclarecia se este ou aquele jogador estariam ou não disponíveis para o(s) próximo(s) jogo(s), sem detalhar o relatório.
Agora, e em especial no Sporting, o secretismo roça o absurdo e suscita, no mínimo, a especulação. Primeira vítima do embaraço causado pelo silêncio: o treinador. Rui Borges não escondeu o desconforto, que tem como consequência imediata a dificuldade comunicacional, que, nos tempos que correm, inconveniente aos técnicos.
Pelos vistos, Gyokeres sofre (ou sofria) de fadiga muscular com incidência nos adutores da perna esquerda e esteve em gestão de esforço, depois de ter parado por dois jogos. O treino condicionado, a diminuição do tempo de utilização em competição ou a inatividade completa, são as formas de debelar esta lesão. Será o que o jogador tem estado a cumprir, com precauções para prevenir a recaída. Se houver recidiva, a paragem por tempo indeterminado é a única solução para a crise nos adutores.
Segundo o que Rui Borges pôde revelar no final do jogo com o Dortmund, o Gyokeres estará a recuperar o ritmo competitivo, o que significa que se encontra apto clinicamente, mas abaixo dos índices físicos exigíveis a jogar a tempo inteiro e em rendimento máximo. Por isso, tem treinador condicionado e sido suplente utilizado não muito mais de meia hora. Sem a exigência da competição, continuou no relvado após a partida com os alemães para algum trabalho de corrida. Haverá assim tanta ética a preservar nesta explicação, se é que a explicação é esta...
Não se entende o que está em causa no processo clínico, de gestão de treino e de competição de jogadores como Gyokeres ou Morita, sem mencionar Pedro Gonçalves. A verdade é que, não recuperando totalmente, e só assim o ritmo competitivo para render a 100%, estes jogadores arriscam a tornarem-se improducentes o resto da temporada, impondo constrangimentos ao treinador na gestão do plantel, e no fim da cadeira de prejuízos, ao rendimento da equipa. É o que já acontece ao Sporting. Os próximos jogos serão cruciais para este estranho caso, quase novelesco.