Oito jornadas jogadas: o bloco de notas
Roger Schmidt, treinador do Benfica (IMAGO/Marco Canoniero)

Oito jornadas jogadas: o bloco de notas

OPINIÃO15.10.202309:54

De uma forma geral, nos candidatos ao título, os resultados têm superado em muito as exibições

Resultados ‘vs’ exibições

Ao contrário dos últimos anos, nestes primeiros jogos não conseguimos encontrar uma equipa que nos encha as medidas, ou seja, que tenha demonstrado estar mais forte, compacta e consistente que os rivais. De uma forma geral, nos candidatos ao título, os resultados têm superado em muito as exibições. Existem vários fatores que podem justificar estes factos e que irei abordar mais à frente.

Contudo, existe um que pode estar a criar maior pressão em todos: este ano só o vencedor tem entrada direta na Liga dos Campeões! Num ano em que está muita coisa em jogo, até pelo novo formato que vai gerar mais prémios na melhor prova de competições de clubes, um ponto pode fazer uma enorme diferença no sucesso desportivo e, sobretudo, na estabilidade e capacidade financeira!

Sporting - união

O Sporting, de uma forma justa, é o atual líder do campeonato. Planeou a época de forma cirúrgica, procurou os alvos que considerava essenciais e atacou-os. Teve paciência, cometeu alguns erros na negociação, mas alcançou o objetivo final. Rúben Amorim e a estrutura leonina perceberam que a última época podia deixar marcas, uma vez que em muitos momentos os jogadores não conseguiram gerir a pressão da melhor forma. Mesmo assim, correram o risco e contrataram poucos jogadores, mas com lógica. Acreditaram que a época passada foi um passo em frente e que o atual plantel iria ter outro comportamento quando fosse colocado à prova. Assim, ganhou uma relevância superior a entrada do Sporting no campeonato. As vitórias conseguidas vão trazendo confiança e ajudam os atletas a superar traumas do passado. Aqui e ali ainda se sente que o Sporting fraqueja em momentos em que, aparentemente, tem os jogos controlados. Rúben Amorim tem sido fundamental para o trajeto do Sporting. Tem valorizado os jogadores, dá confiança a todos e faz com que a união seja a força do grupo.

Depois há outro ponto que o Sporting 2023/2024 conseguiu recuperar e que vimos muito na época em que foi campeão: a crença, acreditar até ao fim, lutar até ao último minuto, cair e levantar-se dentro do próprio jogo. Os jogos com Arouca, Farense e Vizela demonstram isso mesmo: jogos que estavam controlados e que se tornaram complicados, mas que a equipa conseguiu resolver nos últimos minutos. Em 25% de campeonato já concretizado o Sporting demonstra uma enorme união entre todos: equipa técnica, jogadores, direção e adeptos. Esta caraterística é muito importante e pode fazer a diferença numa competição longa e dura.

Benfica - desconfiança e expetativas

Depois de uma época bem conseguida em termos exibicionais (sobretudo a primeira metade), com o título conquistado e com uma boa performance na Liga dos Campeões, as expetativas estavam em alta. Numa primeira fase, o planeamento foi bem feito: definiram-se alvos e concretizaram-se. Kokçu, para colmatar a saída, em janeiro, de Enzo, Di María, que traz ilusão aos adeptos e qualidade à equipa, e Jurásek, que foi a solução escolhida para a saída de Grimaldo. Em julho a questão estava resolvida e com qualidade reconhecida, sendo Jurásek a exceção, que ainda tem de provar, mas que, pelo valor da transferência, não deixou dúvidas a ninguém na estrutura encarnada!

O pior veio a seguir. A péssima gestão de Vlachodimos por parte de Roger Schmidt (RS) começou a gerar instabilidade. A não preparação antecipada da venda de Gonçalo Ramos que era, há muito, desejada por grande parte dos administradores encarnados, acabou por ter consequências no jogo da equipa. A grande questão é que o Benfica continua a ter um grande plantel. Também continua a ter o mesmo problema coletivo (este ano mais vincado). O futebol praticado é inferior. Mas será que o perfil de jogadores contratados encaixa na forma de jogar que RS pretende ou implementou? Se a resposta é não, não terá o treinador de alterar alguns pressupostos coletivos? RS referiu que é difícil repetir um ano como o último, em que ganhou o campeonato (na ultima jornada) e chegou aos quartos final da Liga dos Campeões, algo que Nélson Veríssimo também tinha feito no ano transato. Num clube grande, este tipo de discurso não encaixa, ou melhor, encaixaria se tivesse ganho tudo no ano anterior.

Em termos concretos, o discurso, as opções, a forma como tem mexido no jogo, a incapacidade de corrigir o problema coletivo (permitir que os adversários explorem as costas dos médios com muita frequência e espaço), o facto de ainda não ter conseguido extrair o potencial de alguns reforços que acarretaram um custo elevado e as exibições pouco conseguidas (em contraponto com as do ano anterior), fazem com que a desconfiança de jogadores, adeptos e administração comece a aumentar. Se a tendência se mantiver e a desconfiança continuar a instalar-se, uma época que tinha todas as condições para ser muito positiva pode virar um pesadelo.

FC Porto - posicionamento

O início de época do FC Porto está a ser complicado. A abordagem ao mercado foi limitada pelas dificuldades financeiras (que se comprovaram num ano com um resultado negativo de €47 M). Ainda assim, conseguiu fazer boas contratações e reforçar o plantel em posições que necessitava. Acrescentou opções, juventude e qualidade. Também perdeu muito: Uribe e Otávio, que davam estabilidade, consistência, segurança, liderança e fiabilidade em todos os momentos. Para piorar o cenário, no início de época lesionaram-se Pepe e Marcano, os atuais líderes da equipa. Assim, Sérgio Conceição (SC) tem várias missões. Adaptar a forma de jogar da equipa a novos jogadores e incutir as caraterísticas da equipa nos recém-chegados.

A ausência de liderança em campo é algo que SC também tem de resolver e com o campeonato em andamento. De uma forma simples, tem de fazer crescer a equipa em futebol praticado com resultados associados e, em simultâneo, aumentar a pressão sobre alguns jogadores que terão de crescer mais rápido e transformarem-se em líderes. Este início de época tem sido muito isto: exibições fracas, mas com coração, alma e resultados. Nas competições europeias o FC Porto que nos habituou e que se bate de frente com qualquer adversário. Internamente, as dificuldades em ultrapassar adversários teoricamente, mais frágeis. Estes primeiros jogos do campeonato serviram para SC e os seus jogadores se posicionarem. A partir daqui a exigência será superior tanto internamente, por parte do treinador portista, como externamente, por parte dos adeptos.

A figura - Gyokeres

Tem sido a figura do campeonato até ao momento. Não só pelos golos que marca mas, sobretudo, pelo que oferece ao jogo. Tem uma disponibilidade física e mental incríveis. Desgasta as defesas, é móvel, abre espaços, ataca a profundidade com muita agressividade, tem técnica, sabe segurar a bola, trabalha para o coletivo, valoriza quem joga ao seu lado pela forma como participa no processo ofensivo da equipa e tem golo.

Para complementar, não sentiu a pressão do investimento que o Sporting fez em si, conseguiu de forma célere criar enorme empatia com os adeptos e ganhar o respeito de colegas e adversários. Gyokeres é a prova de que o ser caro ou barato tem a ver com rendimento e não com o investimento.

A valorizar 

Seleção de Râguebi

Uma grande performance da nossa Seleção frente às Ilhas Fiji, um poderoso adversário. Com muito menos condições, conseguimos vencer porque tivemos alma, querer, dedicação, sacrifício, motivação, qualidade e porque acreditámos muito. Sem dúvida, uma grande exibição dos nossos jogadores num desporto que é um exemplo pela forma como consegue incutir os valores certos nos praticantes e adeptos.

A desvalorizar

Administração do FC PORTO SAD

Uma SAD muito alavancada e com um resultado negativo de €40,7 M (relatório individual da SAD) no ano, com um passivo corrente (inferior a um ano) de €281 M e com resultados acumulados de anos anteriores de - €282.828 M!! As contas são o reflexo da gestão ao longo da última década. Por muito que se queira desvalorizar, a má gestão irá acabar por se refletir na vertente desportiva pela redução de capacidade financeira associada e pela pressão de realizar mais-valias a todo o custo!