Guardiola e Amorim: não é fácil lidar com fantasmas
Rúben Amorim - quanto pesará a sucessão? FOTO IMAGO

Guardiola e Amorim: não é fácil lidar com fantasmas

OPINIÃO31.01.202410:00

Faz sentido comparar Rúben Amorim a Pep Guardiola? Sim, se pensarmos na sucessão

Pep Guardiola fez-se jogador de futebol em Barcelona, onde durante 10 anos como sénior conquistou 16 títulos. Andou por Itália e pelas Arábias e foi fazer-se treinador, de novo, em Barcelona.

Teve no balneário um conjunto de jogadores quase incomparável. Estudou os fundamentos de Johann Cruyff, incorporou a cultura especial do clube e dirigiu uma das melhores equipas da história do futebol. Abro naturalmente o espírito a outras convicções, mas não me recordo de tanta diversão e prazer a ver o Grande Jogo como com o Barcelona de Pep (e Messi, e Xavi, e Iniesta). Parecido só o Brasil de 1982, vítima do maior crime lesa-futebol positivo que a Humanidade testemunhou.

Xavi fez-se jogador (e que jogador!) em Barcelona. Andou pelas Arábias e foi tentar fazer-se treinador em Barcelona. Há pouco dias anunciou que está de saída no final da época, vergado a uma pressão inusitada e vítima de um clube em convulsão. Um clube sem Messi (ainda não percebi a quem aproveitou a saída do argentino), sem Xavis e sem Iniestas na equipa. Com muitos e caros craques, mas sem o sentido do tempo de Guardiola.

Xavi, por todos os paralelismos, apresentava-se como a encarnaçãode um possível Guardiola II. Foi campeão e venceu uma Supertaça, mas isso não chegou. Vamos ver se será feliz noutras paragens.

Cerca de 1250 km a sudoeste, salvaguardadas todas as outras distâncias, um grande clube português está a caminho de criar um fantasma para os os próximos largos anos.

Além do nível de conquistas, qualidade global e orçamentos, há diferenças óbvias entre os casos, desde logo porque Rúben Amorim se fez jogador no maior rival do Sporting, nunca tendo aliás escondido as palpitações do coração enquanto adepto.

Mas a partir daí surgem as semelhanças. Mesmo que saia no final da temporada, como já afirmou ser inevitável caso não conquiste títulos, Amorim será o segundo treinador com mais anos seguidos no banco leonino. O primeiro é Joseph Szabo (1937-1945). Neste século só Paulo Bento lhe chega próximo.

Ganhou, até ver, uma Liga, uma Supertaça e três Taças da Liga. É pouco? Vejamos então o historial de conquistas do Sporting desde a década de 80 do século passado. Ficou claro?

Rúben Amorim defendeu uma ideia de construção de futuro da qual pouco se tem desviado. Chegou e venceu pouco tempo depois. É jovem, simpático e excelente comunicador. Reuniu um cocktail perfeito para uma comunhão suprema com a massa associativa leonina.

Desde 2020 a equipa tem naturalmente oscilado entre melhor e menos bom futebol, entre maior e menor eficácia. Mas tem um rumo definido.

A dúvida para o futuro próximo do Sporting é se o projeto é mesmo do clube/SAD ou do próprio treinador. Se a segunda hipótese estiver certa (e nada nos garante que esteja), os futuros treinadores terão de lidar com fantasmas do tipo Guardiola, o que não é fácil.