7 abril 2025, 07:24
A análise de Duarte Gomes à arbitragem
Excelente trabalho de toda a equipa em jogo teoricamente difícil
'O poder da palavra' é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, antigo árbitro
1 — Era tido como um dos clássicos mais escaldantes dos últimos tempos. O FC Porto ainda alimentava a esperança de chegar ao título e queria dar mostras de força, até porque do outro lado estava o grande rival de Lisboa. Por outro lado, o Benfica precisava vencer para manter a liderança e não ser ultrapassado pelos vizinhos de Alvalade, que só recebiam o SC Braga no dia seguinte. De apito na mão, João Pinheiro — em dupla com Tiago Martins (VAR) — voltou a ser nomeado para jogo transcendente.
Já o disse antes e é justo manter a coerência nessa linha de pensamento, independentemente de quem esteve ou esteja no Conselho de Arbitragem: apesar de ser um árbitro de topo (não é à toa que a UEFA o colocou no Grupo de Elite) e o mais experiente e categorizado juiz português, João Pinheiro é escolha recorrente para jogos desta dimensão, o que para o exterior passa duas mensagens muito claras: a ausência de alternativas dentro do grupo e a exposição desgastante do bracarense em jogos exigentes e mediatizados.
Há uma realidade que convém sublinhar: esta nova equipa, a que tomou posse em meados de fevereiro na estrutura da arbitragem não teve tempo nem oportunidade para mudar hábitos ou impor mudanças. Nesse contexto, a nomeação do bracarense foi natural e expectável. Importante é que num futuro próximo consigam criar-se condições para o aparecimento de outros rostos na direção destas partidas. Só adquire experiência quem é posto à prova e isso vale para árbitros, jogadores, treinadores e dirigentes.
7 abril 2025, 07:24
Excelente trabalho de toda a equipa em jogo teoricamente difícil
Mas não nos afastemos do título desta crónica. Quando escrevi barulho do silêncio referia-me à ausência das habituais fanfarronices em torno do trabalho do árbitro. Desta vez não há escândalos, não há roubos de igreja, não há declarações bombásticas, insinuações ofensivas ou lenha para a fogueira. Mesmo tendo-se ouvido, logo após a nomeação, vozes de censura há tanto silenciadas, a verdade é que o trabalho da equipa de arbitragem no Dragão foi «limpinho, limpinho».
Hoje todos falam da vitória esmagadora, da derrota pesada, dos três golos de Pavlidis, da tática arrojada, dos erros defensivos, mas ninguém fala de João Pinheiro e colegas. Isto apenas reforça o óbvio: mesmo que o foco não esteja sempre no trabalho dos árbitros, é possível haver emoção, entusiasmo e adrenalina. Não é preciso o penálti duvidoso ou o vermelho mal exibido para haver animação, converseta de café, indignação e regozijo. O jogo, em si, chega e sobra. Há tanto para ver e rever, para analisar e discutir, que só mesmo uma forma de pensar pequenina insiste em viver futebol numa ótica que, por esta altura, já não devia fazer sentido.
Deixem lá os árbitros em paz. O trabalho é terrível e ninguém quer acertar mais do que eles. Acreditem, porque estou a ser muito sincero convosco. É óbvio que erram e nalguns casos devem ser responsabilizados por isso, mas aprendamos a ver bola com o encanto que ela oferece e que é mais, muito mais, do que meia dúzia de slow motions ou ângulos enviesados.
2 OFFTOPIC — O mundo está entregue a malucos. É com muita, muita pena que constato o óbvio. Aquilo que qualquer pessoa sensata, normal e de bem consegue constatar de caras, sem esforço nenhum. Por ora, o homem mais poderoso do mundo é o absurdo mais absurdo que já se viu em tempos recentes. É tão, mas tão mau, que apetece mandar logo para bem longe qualquer idiota que ache tudo aquilo normal ou engraçado. Pior mesmo só os criminosos que, ao comando das suas potências nucleares, continuam a infligir a milhares de inocentes (crianças e bebés sobretudo) tanta morte, dor, desespero e sofrimento. E andam outros por aí, mascarados de impolutos, a validar tudo aquilo com sorriso amarelo, porque a ideologia política obriga ao silêncio ou porque convém não hostilizar gente daquele calibre. É a diplomacia podre, protagonizada por gente fraca, sem nervo, sem caráter. São esses que dão cobertura ao terror que meia dúzia impõe a milhões. A história ensinou-nos que os maus da fita acabam sempre mal. Esperemos que não seja diferente desta vez.
Sempre se disse que é muito bom para o futebol, quando o trabalho dos árbitros não é comentado pela negativa. Mas muitos mas muitos, sempre se puseram a jeito a esses comentários negativos. Pois ainda recentemente o VARi-ssimo teve um erro do tamanho dos clérigos, como era dito antigamente. Há regras e leis no futebol, que nunca devem ser interpretadas pela vontade de cada um, basta cumpri-las.