Editorial: O tempo de jogo
Pep Guardiola, treinador dos 'citizens'

Editorial: O tempo de jogo

OPINIÃO27.09.202308:26

A compensação promete criar debate. É normal, sempre que alguma coisa muda

 Confesso que não tenho ainda opinião definitivamente formada sobre uma matéria que promete ainda bastante debate. Em tese, parece fazer todo o sentido o aumento generalizado de tempo de compensação nos jogos de futebol. A propósito, creio que vale a pensa insistir que não se trata de tempo de descontos (não se está a descontar tempo ao tempo de jogo), mas sim de tempo de compensação (acrescenta-se tempo ao jogo como forma de compensar o tempo alegadamente perdido). 

Em tese, sublinho, creio que faz todo o sentido aumentar, pois, o tempo de compensação como forma de dar resposta aos profissionais (em particular treinadores) que, justamente, se queixavam do pouco tempo útil de jogo e do tempo voluntariamente perdido por algumas equipas como meio de ganhar vantagem sobre adversários teoricamente mais fortes. Em tese, portanto, partilho da opinião dos que defendem que o jogo não pode ser demasiado curto nem o espetáculo demasiadamente prejudicado quanto ao tempo para não defraudar quem paga o bilhete. 

Na prática, porém, admito ainda algum debate sobre o tema, porque me pergunto, igualmente, se fará sentido, em condições relativamente normais, prolongar um jogo de futebol muito para lá dos 90 minutos regulamentares, e quando digo muito para lá, refiro-me, à luz do normal bom senso, a excessivamente para lá dos 90 minutos. Até Pep Guardiola já veio criticar o que lhe parece um «abuso» no tempo de compensação que passou a ser dado por recomendação, note-se, do próprio International Football Association Board (IFAB), a entidade que dita as leis no futebol mundial. 

Mas, no fundo, parece uma daquelas situações em que se é preso por ter cão e preso por não ter. Quando o tempo de compensação era, geralmente, de meia dúzia de minutos ou menos, ouviam-se os treinadores das equipas mais fortes afirmar-se contra o baixo tempo útil de jogo. 

Já fazia parte da estratégia de jogo de algumas equipas, sempre que se apanhavam em situações de vantagem (a ganhar ou, pelo menos, a empatar), começarem a perder tempo. Quedas súbitas, guarda-redes a deixar-se ficar no chão, simulações de dores musculares, demoras nas reposições da bola. 

Por causa disso, o IFAB resolveu dar indicação para que os árbitros passassem a ter muito mais cuidado no tempo real de compensação e a medida pareceu bem acolhida. Até se ver, no caso de Portugal, compensações de 18 minutos (no Boavista-Benfica), 19 (no Casa Pia-Sporting) ou quase 25 (no FC Porto-Arouca). Soou o alarme. 

Volto ao início para sublinhar a ideia de não ter, ainda, uma opinião definitiva sobre o assunto. Parece-me claramente positivo que se compense melhor o tempo perdido. Mas pergunto: faria sentido um limite? Quinze minutos, por exemplo, seria razoável, caso não se verificassem excecionais situações de interrupção do jogo? Deitemos todas as cartas na mesa: o tempo de compensação é um problema para quem está a defender um resultado e uma forte vitamina para quem ainda procura ganhar ou, no mínimo, não perder. Para uns, serão mais 15 minutos de sofrimento; para outros, mais 15 minutos de ânimo. 

Contra mim escrevo: o que queremos afinal? O que quer Pep Guardiola? Mais jogo ou mais estratégia e tempo perdido? Creio percebê-lo: geralmente não precisa de tempo extra para ver a sua equipa resolver os jogos, e defende, por agora, que os seus puros-sangues não deviam ser submetidos a mais de 100 minutos por jogo. Reagirá Pep da mesma forma quando numa final da Champions (para exagerar o impacto) um dos seus jogadores conseguir o golo da vitória aos 90+15’?... 

PS: Creio que o Sporting não era líder da Liga desde a época do título (2020/21). Ainda é muito cedo, mas creio que deve marcar-se a ideia de o melhor futebol do Sporting (como o da 1.ª parte do jogo com o Rio Ave) ser, ao mesmo tempo, o futebol que melhor se joga de momento em Portugal. Um bom líder, portanto!