Angel Di Maria com o troféu da Taça da Liga 2008/09 (Carlos Vidigal Jr. A BOLA)

Di María merece muito mais...

Tive o pesadelo de ver Di María a ir à Luz buscar os últimos pertences e sair de mansinho sem um obrigado e um estamos juntos... Eu sou o Jorge Pessoa e Silva e esta é a crónica semanal do meu Livro do desassossego

Não. Não e não. Um simples post publicado por Di María nas redes sociais a revelar que já não será jogador do Benfica na próxima época é demasiado curto. O jogador mais titulado a vestir de águia ao peito. Um astro de nível mundial. Um jogador cuja imagem o Benfica fará bem em continuar a partilhar, qualquer que veja a ser o futuro.  

O Benfica tem todo o direito a entender que a ligação profissional com Di María termine no Mundial de Clubes. Mais, acho até que será a decisão mais lógica em termos desportivos e financeiros. Tal como o jogador tem todo o direito a dar por finda esta relação. E nem tem de dar justificações. Alguém que dá o que Di María já deu ao Benfica, em dois períodos diferentes, deve até ser poupado a explicações. Respeita-se e agradece-se.  

Dito isto, não sei como se chegou a esta decisão, quem decidiu o quê, até se foi uma decisão conjunta. O que não poderia ter acontecido era Rui Costa, logo após o jogo de Braga, ter dito que ainda iria falar com Di María para discutir o futuro e, ao mesmo tempo, o argentino publicava nas redes sociais a publicação em que anunciava o adeus no final da época.

Não esqueço as imagens de Di María, numa varanda do Estádio da Luz, de frente para a estátua de Eusébio, acenando a tantos benfiquistas que festejaram com ele o regresso a casa. Seria digno de Di María, dos adeptos e da História gloriosa do Benfica que a despedida fosse marcada por uma justa homenagem. Ainda há tempo para corrigir um passo em falso. Porque, confesso, me entristeceria muito ver Di María sair de mansinho, carregando a mala com os seus pertences sem ninguém para lhe dizer «obrigado» e «estamos juntos». 

Veja-se o que aconteceu em Roma, no jogo com o Milan. Claudio Ranieri, um dos mais carismáticos treinadores da era moderna, o homem do milagre de Leicester, dono do sorriso dos competentes e confiantes, vai reformar-se e no último jogo pela Roma, em casa, recebeu uma homenagem arrepiante dos adeptos, com coreografia nas bancadas e hino do clube. É nesses momentos que se percebe a diferença entre ter sucesso e ser sucesso.  A diferença entre vencer – e esteve longe de ser dos treinadores mais titulados – e ficar no coração dos adeptos, aqueles que alimentam, pela paixão, o futebol.

No final de um percurso, no final de uma carreira como no final da vida é verdade que é a nossa consciência que ditará a qualidade do nosso sono. Mas é o reconhecimento que recebermos dos outros com quem nos cruzámos na vida que nos permitirá ser mesmo felizes e dar pleno significado ao que foi feito: conseguir fazer a diferença e ficar no coração do outro, já que ninguém vive apenas em função de si próprio.

Gyokeres também está de partida. Que o Sporting também saiba prestar-lhe a devida homenagem. Incrível como os adeptos já se habituaram à ideia e seguramente saberão despedir-se com um obrigado. O sueco deu tudo. E esse tudo foi tanto. Todos percebem que chegou agora a hora de dar novo impulso à carreira. Gyokeres pode estar de saída, mas a máscara tem de ficar. Se eu fosse Frederico Varandas, haveria de mandar fazer uma máscara e colocar no museu do Sporitng. 

PS - Para um cota como eu, a tradição é um valor em si. Passe o óbvio exagero, ainda se lembravam como era a camisola tradicional do Sporting? Depois de mais um ano de equipamentos para todos os gostos menos, com cores mais ou menos berrantes, o mundo volta ao seu estado normal com a camisola oficial para 2025/2026. Sim, camisola com listas horizontais verdes...