Estabilidade da mediocridade?

Bruno Lage utilizou a conferência de imprensa de lançamento da grande final de hoje, no Jamor, para passar a mensagem de necessidade de estabilidade para o seu sucesso, querendo, pelo facto de ter regressado à Luz com a época em andamento e a cinco pontos da liderança, justificar a perda do campeonato. Lage realçou a estabilidade do Sporting como fator decisivo para o título, mas fica a pergunta: qual foi essa estabilidade? A de uma época com três treinadores e com todo o impacto que teve a saída de Ruben Amorim?

Ou a estabilidade de ter sido obrigado a recuperar do trauma de Alcochete (2018) e, sete anos depois, ser o clube mais bem preparado em todas as frentes em Portugal? Bruno Lage teve o match point do campeonato em casa, frente ao Sporting, e falhou redondamente, vendo-se uma equipa sem chama e incapaz de fazer face à responsabilidade do jogo. Para isso não é preciso ter uma base de anos e anos de trabalho, mas sim conseguir fazer passar a mensagem certa à equipa. E, nesse capítulo, o treinador do Benfica peca.

Olhando para a equipa tipo do Sporting que foi campeã em 2020/21, num contexto muito especial devido à pandemia, restam, nesta bicampeã, Matheus Reis, Eduardo Quaresma, Daniel Bragança, Gonçalo Inácio e Pedro Gonçalves!

E se ter a tal base de trabalho é fundamental para o sucesso de forma consistente, por que não fez o Benfica o mesmo quando, em 2022, assinou um mercado de verão de grande sucesso — Bah, Aursnes, Enzo Fernández e David Neres —, foi campeão de forma destacada com Roger Schmidt e acabou por desfazer essa equipa? Desse plantel sobram Samuel Soares, Bah, Otamendi, António Silva, Aursnes e Florentino. Em dois anos apenas, Rui Costa desbaratou esse plantel, com algumas vendas questionáveis, como os €30 milhões por Neres, um jogador bastante acima da média e que anteontem se sagrou campeão italiano, ou a de João Neves por cerca de €60 milhões, valor bastante desajustado quando falamos de um dos jogadores mais importantes do possível futuro campeão europeu.

E para a estabilidade que Lage apregoa não contribuiria dar seguimento à grande temporada de Trubin, que ainda na última jornada do campeonato, em Braga, evitou uma desgraça para as águias, num jogo tão importante como o de hoje? É certo que Samuel Soares tem estado em bom plano na Taça de Portugal, mas numa final devem jogar os melhores e o ucraniano foi um deles na época do Benfica...