Benfica: Di María, um luxo
Ángel Di María e Roger Schmidt. Foto: Miguel Nunes

Benfica: Di María, um luxo

OPINIÃO23.05.202409:45

Schmidt não conseguiu resolver o paradoxo de ter alguém com tanta qualidade e que ao mesmo tempo enfraquecia a equipa a defender

Roger Schmidt foi o primeiro a defender Ángel Di María da insatisfação de alguns adeptos. Que ferveram, várias vezes e sobretudo no final da época, em pouca água com alguns erros ou dificuldades do campeão do mundo em momentos de jogos quando já deles deveria ter saído, ou seja, quando já deveria ter sido protegido pelo treinador e estar a descansar.

Agora que a época acabou, o regresso de Di María ao Benfica, saudado por benfiquistas e provavelmente por poucos questionado no último verão, parece ter sido um paradoxo que não foi resolvido. Se dá muito à equipa a atacar, também tira a defender. Se esteve tanto tempo em campo como há dez anos não acontecia, a idade (36 anos) aconselhava outra gestão física. Se ficar no plantel, jovens por quem o Benfica pagou muito dinheiro, como Rollheiser ou Schjelderup, têm o caminho da afirmação dificultado.

Não é difícil concordar que Di María é um dos melhores jogadores de sempre, o percurso e os títulos falam por ele, e que mantém algumas das melhores qualidades. Tem o lastro de uma carreira ímpar e o comportamento de líder. Deles se valeu, também, quando algumas vezes ultrapassou o risco vermelho em campo.

Esta época foi o sétimo mais utilizado do plantel, marcou 17 golos e somou 13 assistências, contribuiu com o primeiro golo para a conquista da Supertaça contra o FC Porto, marcou o golo da vitória sobre o FC Porto no clássico da Luz para o campeonato, foi muitas vezes um raio de luz na escuridão. A isso se poderá juntar a vantagem intangível de ser, apenas e só, Di María, com tudo o que isso representa.

Para o bem e para o mal, Di María é um luxo para o Benfica. E um clube como o Benfica tem de dar-se ao luxo de ter alguém em campo com a qualidade rara de resolver um jogo com um passe ou um remate. Continuar no Benfica, porém, só faz sentido se Schmidt encontrar a solução para se proteger das fragilidades que a presença do argentino provoca e que Sérgio Conceição, com a magnanimidade que uma goleada de 5-0 no clássico oferece a qualquer um, tão bem explicou. O que não se consegue imaginar, sobretudo a quem está prisioneiro do momento, ou seja, da má época do Benfica, é como o treinador será capaz de fazê-lo, apesar de estar interessado em fazê-lo, tomando por bons os elogios ao argentino no final do jogo com o Arouca, penúltimo do campeonato. Para quem está dominado pelas atuais circunstâncias — e talvez possamos estar todos —é mesmo difícil imaginar que o Benfica possa dar-se ao luxo de continuar a ter Di María.

Rui Costa fala, hoje, aos benfiquistas. Explicar bem explicadinho como será possível reconciliar sócios e adeptos com o treinador é só um primeiro passo para que a próxima época possa correr bem. Foi Schmidt que disse ser impossível o Benfica voltar a ser campeão nestas circunstâncias e colocou o presidente nesta situação.