Pavlidis foi muito importante na vitória do Benfica sobre o Estoril
Pavlidis foi muito importante na vitória do Benfica sobre o Estoril (Foto: Imago)

Benfica: a postos para o dérbi

'Visão de golo' é o espaço de opinião semanal de Rui Águas, treinador e antigo internacional português

Está, finalmente, concluído com êxito um caminho que se antevia complicado até ao grande dérbi da Luz, onde agora tudo se define. Foi confirmada a expectativa na Amoreira, quanto ao jogo interessante que se esperava, entre um visitado tranquilo, mas querendo ser protagonista, e um ilustre visitante na última prova que era imperioso vencer antes do clássico. Uma entrada dominadora do Benfica e vantagem dupla ao intervalo parecia indicar uma vitória tranquila. Um segundo período de afirmação caseira viria, porém, a colocar dúvidas no desfecho, que seria discutido.

Pavlidis sobressaiu, mais uma vez, na capacidade de se mostrar a quem lá atrás, apertado, procura uma saída, uma opção de passe, alguém para manter a bola mais à frente e depois progredir para a baliza adversária. É difícil encontrar alguém por aí que o faça com tanta naturalidade, mesmo correndo contra a direção da bola, algo especialmente difícil, e ainda mais, sempre seguido de perto pelos seus marcadores diretos. O primeiro golo do Benfica aconteceu muito por essa arte que o Benfica já tinha ensaiado, poucos minutos antes, com os mesmos intervenientes. Em linguagem piscatória: ao engodo que Pavlidis representa e atrai, seguiu-se o lançamento da linha por Kokçu e a fisgada decisiva de Aursnes, que ferra o peixe e o guarda na rede.

Voltando a Pavlidis, esta habilidade preciosa de guardar a bola e cedê-la com critério carece ainda de ser complementada com a sua afinação posicional.

Várias foram, novamente, as situações de ataque da equipa anuladas pela sua precipitação e adiantamento excessivo, que fazem levantar a bandeirola.

Falta acertar o tempo da desmarcação de rutura, esta sim, a movimentação no sentido da baliza adversária. A coisa complica-se mais quando se defrontam equipas, como o Estoril, que jogam subidas e promovem a posição faltosa dos adversários.

Antevendo: com o regresso de Carreras, a única dúvida do onze estará no ataque e na definição de quem será o terceiro homem, a juntar a Pavlidis e Akturkoglu.

Na eventual indisponibilidade física de Amdouni, quem será o terceiro homem da frente escolhido para o dérbi? Schjelderup tem estado bem e é um forte candidato. Bruma parece fora de questão. Já Di María completa a terceira semana desde a queixa muscular e não mais competiu, mas poderá entrar sempre nas contas. Entre o risco e o ritmo perdido, está o talento extra...

Mercado campeão

O balanço do último mercado futebolístico deve ser feito antes de terminarem as competições, porque, muitas vezes, os resultados finais influenciam, quanto a mim erradamente, os juízos e conclusões quanto às escolhas e operações efetuadas. Os jogadores recrutados devem ser apreciados individualmente e não dependendo do eventual êxito ou insucesso das respetivas equipas.

Vejamos o caso do Benfica: Belotti e Bruma representaram o reforço do ataque com jogadores experientes e consagrados, para rendimento imediato. O efeito de ambos foi bastante positivo, embora com diferentes desenvolvimentos. São dois valores que, entretanto, confirmaram o porquê da sua escolha e que facilmente se imagina continuarem a fazer parte do próximo plantel.

Por outro lado, Manu e Dahl foram duas apostas jovens para posições onde eram necessárias alternativas. O médio português correspondeu a um investimento, que, desde logo, se confirmou como inteligente. O defesa sueco, este por empréstimo, veio para render Carreras quando necessário, mas também como projeto a prazo, salvaguardando também a eventual saída do seu concorrente espanhol, muito pretendido. Manu, ultrapassando o mau tempo que uma lesão grave representa, será por certo um médio de referência do nosso campeonato. O mínimo que se pode dizer de Dahl é que convenceu sempre que jogou, ala ou lateral, na direita ou na esquerda, mostrando forte personalidade e surpreendente maturidade para alguém tão jovem.

Em conclusão, o mercado de janeiro fortaleceu claramente o plantel para o Benfica chegar ao título, mesmo considerando o duplo revés que as lesões de Manu e Bah representaram. Bom trabalho!

Triste e sentado

Outro episódio, agora em Faro, da triste farsa a que aqui já antes fiz referência. O guarda-redes do Famalicão a ter de se deitar por determinação da sua equipa técnica, para interromper o jogo, simulando uma qualquer queixa de ocasião.

O mister reúne a malta e empunha orgulhosamente a tábua tática, iniciando seu providencial discurso. É bem triste esta moda do vale tudo. Acredito que uma ação tão ostensiva de antijogo já devia merecer intervenção da UEFA. Claro desrespeito pelo público, pelo adversário e pelo árbitro, este limitado pelas regras. A lei permite, mas já agora, o médico e o massagista escusavam de entrar, porque sabem que é tudo a fingir. Mais vale poupar o spray... Talvez se conseguisse parar esta rábula proibindo os ajuntamentos, como antes do 25 de abril... Até lá, é cruzar os braços e esperar que o mister brilhe e que o médico regresse ao banco o mais devagar possível.