Rui Borges elogia «espírito de família» do Sporting

Sporting: tudo (o que ainda não sabe...) sobre o sucesso de Rui Borges

Como o técnico uniu e cicatrizou as profundas feridas no plantel deixadas após a saída de Ruben Amorim. As maiores proezas e o lado humano que não deixa ninguém indiferente. De Mirandela ao topo nacional. As ameaças da mãe, dona Cândida, que lhe dizia 'se não comeres a sopa, não jogas futebol'. Uma viagem às origens e os testemunhos dos verdadeiros amigos através de A BOLA

Foi, por certo, uma das declarações mais marcantes de Rui Borges nestes 150 dias de leão ao peito. Recordemos: «Eu e a minha equipa técnica chegámos aqui pelo trabalho, pela resiliência. É uma equipa técnica desconhecida, não fui um grande jogador, não estudei, sou apenas o Rui Borges de Mirandela, comecei lá atrás... e isto é o culminar de um sonho.» Um desabafo durante os festejos de um bicampeonato que fugia há mais de 70 anos. Uma proeza que, diga-se em boa verdade, poucos acreditariam após a aposta num treinador inexperiente que apanhou um camião descontrolado a grande velocidade conduzido, na altura, por João Pereira.

Já muito se falaram dos méritos desportivos de Rui Borges, reforçados no discurso de Frederico Varandas na receção na Câmara lisboeta, mas pouco se conhece do homem. Dos traços de personalidade retirados nas conferências antes e depois dos jogos. Uma humildade e frontalidade, diz quem o conhece desde miúdo, que terão mesmo sido decisivos para unir e cicatrizar profundas feridas deixadas com a saída de Ruben Amorim. Pois bem, então, afinal o que Rui Borges tem de especial? Mais do que as 11 proezas que enumeramos (ver quadro ao lado), A BOLA foi em busca de algumas histórias que mostram o lado humano deste treinador que fez história no leão.

Rui Borges começou a carreira de jogador e treinador no clube da terra, o Mirandela

Andava sempre com uma bola nas mãos. Mesmo dentro de casa. Recordo sempre as palavras da dona Cândida que lhe dizia 'se não comeres a sopa, não jogas futebol

«Era quem jogava melhor e montava as equipas»

Rui Borges é uma pessoa de afetos e emoções. A forte ligação aos pais, Cândida e Manuel Borges, assim como o avô Zé Pedro, a única estrelinha, que o treinador já fez questão de destacar publicamente. A mulher e o filho são suportes fundamentais que tem tentado resguardar de todo o aparato mediático desde que assinou pelos leões. A sua ligação às raízes, Mirandela, nunca se perdeu. É onde se sente acarinhado e passa longo tempo durante as férias.

«Andava sempre com uma bola nas mãos. Mesmo dentro de casa. Recordo sempre as palavras da dona Cândida que lhe dizia 'se não comeres a sopa, não jogas futebol'», conta Albino Guimarães, vizinho e amigo de infância de Rui Borges que era sempre da sua equipa nos jogos de rua.

«Ele era quem jogava melhor, tinha liderança, por isso era sempre o Rui que fazia as equipa [risos].»

Dimensão humana

Rui Borges nunca perdeu ligação com quem moldou o seu percurso. Dentro e fora do futebol. Dimensão humana que foi transportada para a relação com os jogadores. Sempre próxima, disposto a perder tempo, muitas vezes, para os ouvir também sobre as suas vidas pessoais. Frontal, sem impulsividade, não gosta de se esconder de forma a nunca perder a coesão do grupo. Porém, firme, não tolera comportamentos inadequados como, de resto, ficou visível nestes poucos meses em Alvalade, com Edwards, tendo sido afastado por desrespeitar o regulamento interno. Uma justificação, sabe A BOLA, que foi transmitida pelo próprio ao inglês, pois, para ele, nada está acima da equipa.

Rui Borges, aqui no Bragança, era conhecido pelos lances de bola parada

Desconfiança (ainda) presente

Mesmo fazendo história em Alvalade, com a conquista da dobradinha, de ter encaixado em cheio no plano mental dos jogadores, com um discurso simples e prático, tudo o que teve de ultrapassar com lesões que dizimaram o plantel, ainda há quem desconfie das capacidades do técnico. «São críticas injustas, mas percebo a desconfiança porque veio do nada. Não teve um percurso de grande, mas na próxima época vai estar mais experiente, vai conseguir fugir das ratoeiras dos jornalistas e terá uma comunicação diferente», acredita Albino Guimarães.

Carreira de Rui Borges subiu a pulso até ao topo do futebol nacional (IMAGO)

Tudo na carreira de Rui Borges aconteceu de forma meteórica. O futebol surgiu através do pai, Manuel Borges, ex-Tirsense, mas nunca chegou aos grandes palcos. Médio direito — melhor época em 2011/2012, no Mirandela, com 9 golos — forte nas bolas paradas, a carreira de treinador começou no clube da terra em 2017/2018, na 4.ª divisão. Cerca de seis anos depois, imagine-se, chegou ao topo: campeão nacional e vencedor da Taça. Pelo meio, Ac. Viseu, Vilafranquense, Académica, Mafra, Moreirense e V. Guimarães. Média de um clube por época.

Entrou na 'equipa' Jorge Mendes

Com a chegada a Alvalade em dezembro do último ano, Rui Borges não trocou apenas o Vitória de Guimarães pelo Sporting. Também entrou numa outra equipa, de renome, por norma onde constam os maiores. Falamos da mudança de empresário, pois Rui Borges a carreira do técnico passou a ser gerida pela Gestifute que, recorde-se, é liderada também pelo super-agente Jorge Mendes.

Futebol mas também séries e telenovelas...

Quando não está com a família e amigos, o treinador dos leões gosta de ficar em casa e acompanhar jogos de futebol. Mas não só. É também um seguidor de várias séries televisivas assim como telenovelas. Mas não até muito tarde, pois gosta de descanso e também de acordar cedo mesmo em dias de folga...

Sempre a valorizar ativos por onde passou

Em todos os clubes por onde passou, Rui Borges teve o dom de catapultar jogadores para palcos maiores. Uma das qualidades também determinantes para a chegada aos leões. Exemplos? Mangas, Zidane Banjaqui e Zaidu (Mirandela), Jean Patric e Kevin Medina (Académico Viseu), Bouldini (Académica), Lucas Silva, Pedro Pacheco, Diao (Mafra), Gonçalo Franco e André Luís (Moreirense), Alberto, Kaio César e Manu Silva (Vitória de Guimarães).

Homenagem (outra) no dia 10 em Mirandela

Rui Borges partiu ontem para férias nas quais irá tentar recarregar baterias para atacar o tricampeonato. Um período no qual não estará completamente desligado até porque, pelo meio, será alvo de (mais) uma homenagem no clube onde deu os primeiros passos como jogador e treinador: o Mirandela. O clube transmontano, na ocasião do 99.º aniversário, com um cartaz muito preenchido, irá prestar um tributo ao técnico leonino que marcará presença durante as cerimónias festivas. Uma enorme festa marcada para o próximo dia 10 de junho e que terá, claro está o treinador do Sporting como figura de cartaz e maior atração.