Sport Recife: viagem ao clube mais português do Brasil
«Pelo Sport, nada? Tudo! Então como é, como vai ser e como sempre será? Cazá! Cazá! Cazá, cazá, cazá! A turma é mesmo boa! É mesmo da fuzarca! Sport, Sport, Sport». Este ano a fanática torcida do Sport Clube do Recife enche de novo o peito para cantar um dos gritos de guerra mais famosos e antigos – com origem na folia carnavalesca dos anos 30 do século passado – do futebol brasileiro. Afinal, o Leão da Ilha, como é chamado, depois de três épocas de sofrimento na Série B está de volta à Série A do Brasileirão após subida dramática em 2024.
E pela mão de um português: Pepa, que já canta o cazá na perfeição, pegou na equipa em setembro fora da zona de subida e levou-a ao terceiro lugar e consequente promoção. Além dele, mais quatro portugueses, os adjuntos Samuel Correia, Hugo Silva, Pedro Azevedo e Pedro Oliveira, contribuíram para a subida. Este ano, àqueles cinco, juntam-se três compatriotas, o central João Silva, o médio Sérgio Oliveira e o atacante Gonçalo Paciência. Paciência e Silva, a propósito, fizeram os dois golos da vitória por 2-0 do Sport sobre o rival Santa Cruz na primeira mão da meia-final do estadual de Pernambuco, onde o Leão é rei incontestado: são 44 títulos, contra 29 do Santa e 24 do Náutico.
Olha esse gol do Sport. Treinadorzaço que é o Pepa. https://t.co/M21IM5Ds8V pic.twitter.com/m7LvxDtvgO
— DESGRAÇA CEC (@desgracacec) January 27, 2025
Além disso, o Sport foi campeão nacional em 1987 e ganhou a Copa do Brasil, em 2008, razão pela qual se autointitula «o maior do Nordeste» e é visto como um dos mais prestigiados clubes do Brasil.
A BOLA foi, por isso, conhecer um gigante que é hoje «o clube mais português do Brasil». E com o presidente Yuri Romão e o guarda-redes e capitão Caíque França como guias pela Ilha do Retiro, o charmoso estádio do clube, e pelo José de Andrade Médicis, a cada vez mais moderna academia do clube.
«Quando chegámos, em 2021, o clube estava em decadência financeira, patrimonial, administrativa, política e desportiva, com a queda para a Série B por essa altura. De então para cá, um grupo de pessoas liderado por mim iniciou um trabalho de diagnóstico em cada área e já recuperou muito mas ainda falta fazer outro tanto», conta Romão.
«Como o Sport chegou a ser visto como mau pagador no Brasil, tivemos também de resgatar a credibilidade, hoje o clube já se senta na mesma mesa com a CBF, com dirigentes de qualquer clube, com empresários, já participa em torneios europeus de formação, no Algarve, em Madrid, em Viareggio, agora vamos para o Japão, a marca começa a entrar no ecossistema mundial, falta muito ainda claro, mas é um início».
«Em 2025 e 2026, a ideia é consolidar o que foi feito, vamos dobrar o tamanho do centro de treinos, fazer reforma no estádio e deixar o clube apetecível para eventuais investidores numa Sociedade Anónima de Futebol, ou seja, para poder chegar ao mercado e dizer ‘é isto que temos para oferecer’, nós estamos, como se costuma dizer, a ‘enfeitar a noiva’”.
Por falar em casamento, no futebol foi amor à primeira vista entre Sport e Pepa. «O professor Pepa é um treinador especial, alguém que encaixou no ADN do clube», assegura Romão. «Infelizmente não conseguimos entregar o plantel pronto logo em dezembro, tivemos de ir contratando em janeiro e fevereiro e isso atrapalhou-o um pouco na busca da melhor equipa, do melhor formato tático, mas, por mais que a torcida, impaciente, às vezes não entenda, a nós compete-nos, como dirigentes, blindá-lo».
«Com um investimento de 10 milhões de euros, o objetivo este ano é não cair e ficar pelo meio da tabela, em 2026, a ideia será investir mais e lutar por uma Libertadores», continua o dirigente.
«Como o futebol brasileiro está inflacionado, o futebol europeu é alternativa e como temos uma equipa técnica portuguesa foi-nos possível chegar ao Silva, ao Sérgio e ao Paciência».
«E o Paciência, casado com uma brasileira, já é meio brasileiro», complementa Caíque França, guarda-redes titular e um dos capitães. «Ele já conhece mais músicas daqui do que alguns de nós, usa palavras daqui do nosso português, está muito ambientado».
«Com o Silva converso bastante nos jogos por ser ‘zagueiro’ e nunca houve qualquer falha de comunicação, eu entendo-o e ele entende-me muito bem, não atrapalha nada haver gírias diferentes no futebol, já o Sérgio é mais um jogador de qualidade, faz assistências, golos, é jogador de nível de seleção portuguesa».
Eis o Sport, o clube que hoje mais une Portugal e Brasil.