Sergey Grankin: «Quando o Sporting disse que podia vir com a família fiquei pronto para assinar»

PARTE 1 - Tido com um dos melhores distribuidores do mundo, com um palmarés onde falta pouca coisa para ganhar ou somar mais outra medalha ao mais alto nível, o russo foi a grande surpresa dos reforços do campeão Sporting para a temporada 2025/26 e não tardou a mostra o seu valor. Conversou com A BOLA sobre como veio parar a Portugal, porque suspendeu o início da carreira de treinador que deseja abraçar e o que ainda pretende conquistar

Detentor de um palmarés nunca visto na Liga Una, que inclui duas medalhas olímpicas, uma delas de campeão, dois títulos europeus, cinco subidas ao pódio na Liga Mundial, duas para receber o ouro, uma final da Liga dos Campeões e três conquistas da CEV Cup, Sergey Grankin (1,95m, 96 kg) já demostrou que não veio para Portugal para adiar a reforma aos quase 41 anos.

No pouco tempo ao serviço do Sporting, o experiente distribuidor confirmou porque é considerado uma estrela do voleibol mundial e, logo na estreia, ajudou os leões a conquistar a Supertaça, frente ao Benfica, ampliando o currículo de mais de uma dezena de troféus ganhos por clubes entre Rússia, Alemanha e agora Portugal. Apenas há dois meses em Alvalade, A BOLA conversou com o russo.

— Com estas conquistas que alcançou com as suas equipas, e descobri mais algumas a título individual, como é que veio parar a Portugal para jogar voleibol, porque sei que é uma superestrela?
— Obrigado. No último ano, como sabe, fui treinador principal na II Divisão russa. Sim, ganhámos e gostámos de ir para a I Divisão e tentei transmitir a minha experiência aos jogadores. Isso é como gosto. Gosto deste trabalho. Gostei muito desse ano com a rapaziada, mas... tive alguns problemas com os nossos dirigentes. Quero dizer, não entendíamos todos as coisas da mesma maneira. Quero ir para a Rússia mais como uma relação europeia, como existe nas relações europeias. Mas ainda não temos a mentalidade certa. É assim que penso. É apenas a minha mente. E porque é que decidi parar? Porque, no ano passado, quando joguei na Rússia, sofri muitas lesões e não foi fácil para mim. Também tive problemas com o treinador, porque ele estava sempre a tentar tirar-me da equipa, para a recuperação e tudo mais, mas eu continuava a querer jogar. E foi por isso que, quando recebi uma proposta do Sporting, pensei: ‘Porque não? Ainda quero jogar’. Quero dizer, para mim isso é suficiente.

— Provavelmente, Portugal nunca esteve no seu pensamento durante a sua longa carreira? Nunca pensou que um dia estaria a jogar voleibol em Portugal.
— Não, na minha vida, só joguei uma vez em Portugal, contra o Benfica. Acho que em 2022, para a Liga dos Campeões.

— E jogou quatro anos na Alemanha. Portanto, esta é apenas a segunda vez que está a jogar fora do seu país.
— Sim, exatamente.

— Ficou surpreendido quando recebeu o convite do Sporting para vir jogar para cá?
— Sim, foi uma surpresa,até  porque, na verdade, estou mais virado para a carreira de treinador. Mas quando o meu agente me ligou e perguntou: ‘Queres?’ Eu respondi: ‘Está bem, preciso apenas de algumas semanas porque necessito perceber se posso ir com a minha família, pois isso é importante para mim’. Nos últimos seis anos, estive quase sempre sozinho. Também enquanto joguei na Alemanha, porque, sabe, não temos [Rússia] uma boa..., mesmo em relação aos documentos, não temos uma boa relação. Tenho sempre um visto só para 10 meses. Mas se quiseres ir com a família, precisas de ter um visto  com, pelo menos, mais de um ano. Foi por isso que, depois do segundo ano, assinei um contrato com o clube de Berlim por duas épocas. Queria estar com a minha família. Era importante. Quando o Sporting me disse: ‘Sim, Sergey, não há problema. Podes vir com a família’. Respondi: ‘Ok, estou pronto. Estou pronto para assinar contrato’.

— O facto de o Sporting, não apenas por ter sido campeão, mas estar a jogar na Liga dos Campeões foi igualmente importante para vir?
— Sim, foi também uma das razões. Um dos pontos. Entendo que talvez este não seja o nível mais alto, no que se refere ao nível do campeonato em si. Mas tenho a certeza de que isso não importa. Quando se tem uma equipa e se deseja ganhar, podes vencer.

— Chegou a Portugal, treinou apenas uns dias com a equipa e depois já estava a disputar a Supertaça contra o Benfica…
— Não só alguns dias, mas com toda a equipa sim, porque havia rapazes que tinham vindo do Campeonato do Mundo.

— Como é que foi adaptar-se a tudo em tão pouco tempo?
— Não sei. Adaptei-me muito bem. No campo adapto-me rapidamente. Não me interessa, também gosto de fazer o meu trabalho. Não me interessa de todo. Por vezes temos dias bons, outras ocasiões dias menos bons, Como, por exemplo, o primeiro jogo da Liga dos Campeões [contra os alemães do SVG Luneburg, em que o Sporting perdeu por 1-3].

— Ia perguntar-lhe sobre isso...
— Eles tiveram demasiada sorte. jogaram em casa, com o pavilhão cheio. Compreendo que alguns jogadores nunca tenham disputado competições a este nível, mas não jogámos muito bem. Foi uma experiência. Acho que na próxima partida [Warta Zawiercie, 6 de janeiro] iremos ser muito melhores.

— Mesmo no primeiro jogo do campeonato contra o Leixões… Vocês venceram a supertaça, mas duas semanas mais tarde [perderam por 3-2]…
— Sim, mas lá, posso afirmar que não jogámos tão bem. Foi  por isso que perdemos. Devíamos ter ganho. Talvez não por 3-0, mas 3-2. Mas está tudo bem, esperamos por eles aqui no domingo [o Sporting venceu entrentanto por 3-0].

— A equipa está muito diferente desde que chegou, a ligação entre si e o grupo? Porque nem todos os jogadores cá estavam na época passado, mas a maioria já estava junta há algum tempo...
— Sabe, foi diferente porque a primeira vez foi na Alemanha. Estava confuso. Talvez porque, durante muito tempo não tinha falava inglês, foi um pouco difícil. Mas quando cheguei os companheiros disseram: ‘Oh, Sergey, não te preocupes, não te preocupes. Ajudamos-te aqui e ali. Não há problema’. Penso que, após dois ou três meses, comecei a falar melhor inglês e tinha uma boa ligação com os rapazes. No Sporting já foi a segunda vez [fora da Rússia] e quando entrei na equipa pensei: ‘Claro que vou usar a minha língua'. Alguns não sabiam, mas tentámos encontrar a ligação. É algo normal nas equipas. O mais importante é tentar estabelecer uma boa ligação no campo.

— Está a jogar em Portugal há apenas dois meses, mas, até agora, como vê o campeonato português e as equipas portuguesas?
— Não posso dizer que este seja o nível mais alto a que já joguei. No entanto, há alguns clubes que têm boa equipa e que realmente podem fazer jogos bastante bons. Por exemplo, quem defrontámos no primeiro jogo, o Leixões. Existem quatro ou cinco formações que possuem um nível muito bom, mas nós temos outros objetivos.

— Jogou no Dínamo de Moscovo 11 anos. Foi o clube no qual atuou mais tempo na carreira. E, tal como o Sporting, o Dínamo tem muitas outras modalidades, todo o tipo de modalidades...
— Mas não têm a mesma estrutura. Porque, por exemplo, para o râguebi, futebol, hóquei, voleibol ou basquetebol, existem clubes diferentes. Têm o mesmo nome, mas são clubes diferentes. Antes havia uma única organização, como o Sporting, mas depois começaram a separar-se.

— Ficou surpreendido no Sporting com todas estas modalidades e todas a jogar no mesmo recinto?
— Sim, é bonito, é bonito... Falei sobre isso na minha primeira entrevista e disse: ‘É verdade, gosto muito desta boa organização’.

— Costuma ir ver outras modalidades? Vai ao futebol ou...?
— Não, ainda não fui, mas, por exemplo, o andebol, estou sempre a acompanhar pela televisão.

— Creio que começou a jogar voleibol aos sete anos. Chegou a fazer alguma outra modalidade nos primeiros anos?
— Não, nem tentei.

— Nem sequer tentou? E se não fosse jogador de voleibol, que modalidade gostaria de praticar?
Queria ir para a universidade porque era bom na escola. Tinha boas notas e queria ser engenheiro.

— Mas se não fosse jogador profissional de voleibol, qual seria a outra modalidade que gostaria de disputar? Hóquei no gelo, basquetebol, futebol?
— Há três anos, experimentei o ténis. E gostei. Joguei ténis quase o verão inteiro.

— E qual é aquela que nunca experimentou e, como alguém que um dia pensa que devia ter aprendido piano ou guitarra, ou qualquer coisa assim, gostaria de o ter feito?
— O meu pai é muito bom a tocar guitarra. Eu tentei, mas é muito difícil para mim. Talvez experimente outra vez, veremos.

Continua....

Palmarés de Sergey Grankin

SELEÇÃO
Três vezes olímpico
Ouro nos Jogos de Londres-2012
Bronze nos Jogos de Pequim-2008
Prata Grande Taça do Mundo Japão-2013
Ouro no Europeu Copenhaga-2013
Ouro no Europeu Polónio-2017
Ouro Liga Mundial Gdansk-2011
Ouro Liga Mundial Mar del Plata-2013
Prata Liga Córdova-2010
Bronze Liga Mundial Rio de Janeiro-2008
Bronze Liga Mundial Belgrado-2009

Clubes - Rússia
Vice-campeão Champions, Din. Moscovo 2009/10
Campeão CEV Cup, Dínamo Moscovo 2011/12
Campeão CEV Cup, Dínamo Moscovo 2014/15
Campeão CEV Cup, Belgorod 2017/18
Campeão da Rússia, Dínamo Moscovo 2007/08
Taça da Rússia, Dínamo Moscovo 2006/07
Taça da Rússia, Dínamo Moscovo 2008/09
Supertaça da Rússia, Dínamo Moscovo 2008/09
Supertaça da Rússia, Dínamo Moscovo 2009/10

Alemanha
Campeão da Alemanha, Berlin Recycling 2018/19
Campeão da Alemanha, Berlin Recycling 2020/21
Campeão da Alemanha, Berlin Recycling 2021/22
Taça da Alemanha Berlin, Recycling 2019/20
Supertaça da Alemanha, Berlin Recycling 2019/20
Supertaça da Alemanha, Berlin Recycling 2020/21
Supertaça da Alemanha, Berlin Recycling 2021/22

Portugal
Supertaça de Portugal, Sporting 2025/26