Rui Costa assistiu à final da Taça de Portugal ao lado do primeiro-ministro, Luís Montenegro
Rui Costa explodiu após a final da Taça de Portugal (Foto Miguel Nunes)

Rui Costa só tem de seguir o exemplo de Varandas

Depois de ter agido de cabeça quente, momento exige cabeça fria. Presidente do Benfica, mesmo pressionado pela oposição, tem de manter as convicções. Este é o 'Livre sem barreira', espaço de opinião de Hugo do Carmo

A época terminou com o Benfica a disparar em todas as direções. Rui Costa explodiu logo em pleno Jamor, depois de o Benfica ter perdido a Taça de Portugal para o Sporting, mas o presidente dos encarnados não ficou por aí e no dia seguinte continuou ao ataque e ainda mais incisivo. Árbitro, VAR, Matheus Reis, Maxi Araújo, FPF, Liga, FIFA, UEFA, IFAB, Governo… Ninguém ficou de fora do contundente comunicado emitido pelo clube.

Percebo a revolta de Rui Costa. O Benfica foi prejudicado pela arbitragem na final da prova rainha, uma vez que a agressão de Matheus Reis não poderia ter passado impune e percebo a frustração de Rui Costa, já que terminar a época apenas com uma Taça da Liga para um clube com a dimensão do Benfica é muito pouco, mais até por ter visto o rival Sporting celebrar em dose dupla e, curiosamente, após dois dérbis.

O futebol é um jogo e como em qualquer outro, por vezes, a sorte e o azar têm um peso decisivo. Foi o sucedeu nos dois últimos jogos entre águias e leões. A bola bateu no poste, Rui Costa. O que fez toda a diferença.

No encontro decisivo do campeonato, o poste esquerdo da baliza de Rui Silva devolveu o remate de Pavlidis, que daria a vitória aos encarnados e, provavelmente, o título. Já no Estádio Nacional, foi o guarda-redes do Sporting a desviar, também para o poste esquerdo, o disparo igualmente do ponta de lança grego. O que seria o primeiro golo do jogo e o corolário do ascendente do Benfica, que só terminou ao minuto 90+11, quando Gyokeres marcou o golo do empate — o Sporting, depois, foi superior no prolongamento.

Uns meros centímetros foram decisivos. A diferença entre a vitória e a derrota. A glória ou a frustração. Se aquelas duas bolas tivessem entrado, hoje estaríamos todos a tecer elogios. Não só a Pavlidis, mas também a Bruno Lage e a Rui Costa, claro.

Contudo, o presidente do Benfica, e melhor do que ninguém, ou não tivesse sido um jogador de eleição, um verdadeiro craque, sabe que no futebol tudo muda muito rápido e, no meu entendimento, a prioridade, neste momento, tem de ser a autocrítica.

Perceber o que falhou esta época e não cometer os mesmos erros, alguns fáceis de identificar, como a continuidade de um treinador, Roger Schmidt, em quem os sócios já não acreditavam e, acredito, também grande parte dos jogadores ou a não contratação de um lateral-direito, no verão ou no inverno, que fosse alternativa a Bah.

Dada a capacidade financeira do clube e o investimento no mercado de janeiro, chega a ser incompreensível como os encarnados não se preveniram para uma possível ausência prolongada do dinamarquês, o que, infelizmente, veio a acontecer — isto para já não falar das limitações físicas do central Tomás Araújo, o eleito para ser adaptado à posição —, tendo optado por inflacionar as opções para um ataque já bem recheado de opções.

Para mal dos pecados de Rui Costa, o clube vai para eleições, em outubro, e a oposição não perdeu tempo em posicionar-se. Dia após dia surge um candidato, um candidato a candidato ou um pseudo-candidato.

Depois de ter agido de cabeça quente, entendo que o momento exige cabeça fria. Rui Costa tem de manter as convicções e até considero que deve olhar para o rival: é só seguir o exemplo de Frederico Varandas.

O presidente do Sporting, como sabemos, não teve um início fácil, muito pelo contrário…, foi muito criticado e até apupado e ofendido em pleno José Alvalade, mas a tudo resistiu. Acreditou numa estrutura e hoje ninguém o questiona. As eleições serão uma formalidade, depois de se ter sagrado bicampeão e isto após uma época com três treinadores!

Já na Luz as próximas eleições nunca serão um formalidade, mas não acredito que seja uma bola no poste a decidi-las…