Rodrigo Rêgo, o «irreverente» que está «em vias de extinção»
Rodrigo Rêgo saltou para as luzes da ribalta, depois de estrear-se pela equipa principal do Benfica, contra o Atlético, sexta-feira, em jogo da Taça de Portugal. Mas história da mais recente promessa das águias não começou no clube da Luz, que representa desde 2022 — deu os primeiros passos no Beira-Mar com quatro anos e aos seis, em 2011, mudou-se para o FC Porto.
Nos sub-8 dos dragões, em 2012, encontrou Afonso Sousa. Os dois jovens, ambos com 20 anos, coincidiram nas camadas jovens azuis e branco até 2016. Separaram-se e reencontrar-se nos sub-15 do FC Porto, em 2019/20, e nos sub-17 do Famalicão, duas épocas depois.
Rodrigo Rêgo abandonou os famalicenses em 2022 para rumar ao Benfica Campus, mas a relação de amizade com Afonso Sousa permaneceu. O extremo de 20 anos, que representou os sub-23 do Académico de Viseu na época passada e está sem clube, não escondeu o orgulho pela estreia do amigo de longa data na equipa principal dos encarnados.
«Dei-lhe os parabéns e disse-lhe que não me surpreendeu, mas, sim, que confirmou aquilo que esperava dele. Não mostrou medo algum e esteve bastante bem. Recebeu o prémio de homem do jogo e foi merecido», começou por contar a A BOLA.
Afonso Sousa revelou que sentiu o ala dos encarnados «sem euforias excessivas» e «totalmente preparado» para continuar a responder positivamente à aposta de José Mourinho. «É uma oportunidade de sonho para qualquer jovem, mas até nisso revelou maturidade, entrou lá para dentro como se já estivesse habituado a esse andamento», defendeu o extremo de 20 anos.
José Mourinho, no rescaldo da vitória do Benfica sobre o Atlético, afirmou que a atitude, o carácter e a polivalência de Rêgo precipitaram a estreia. O treinador de 62 anos exaltou a qualidade da exibição de um dos dois jogadores que não pensou tirar de campo ao intervalo. «Era um miúdo que tinha a certeza que não me ia defraudar. Não gosto de jogadores que me traiam e sabia que ele não o iria fazer», justificou.
O antigo companheiro de equipa de Rodrigo Rêgo reforça os elogios de Mourinho e considera que o «irreverente» ala encarnado «sai muito beneficiado por conseguir ocupar os dois corredores». Afonso Sousa explica que a capacidade de Rêgo estar «sempre atento a todos os pormenores do jogo» permite-lhe conjugar um «talento extraordinário» ofensivamente, com um desempenho sólido no plano defensivo, «sempre ligado».
«A adaptação dele para jogar a lateral/ala vem daquilo que é, não só no futebol, mas como ser humano cá fora. É um rapaz que sempre teve muito espírito de sacrifício e isso ajuda-o no comportamento em campo», explicou o extremo. Afonso Sousa desfaz-se em elogios a um jogador «agressivo nos duelos, muito forte em situações de um contra um e nos cruzamentos e sem medo de arriscar».
A polivalência e conforto a jogar nas duas alas com a mesma eficácia traçam um perfil «em vias de extinção» no futebol moderno. As primeiras indicações no futebol sénior, aliadas a seis épocas ao lado de Rodrigo Rêgo nos relvados, precipitam a «total convicção» de Afonso Sousa numa chamada do amigo à Seleção Nacional.
«É um tipo de jogador que está em carência no futebol hoje em dia Falta comprovar que realmente consegue manter-se nesse patamar e dar continuidade ao trabalho que tem feito. Se continuar neste ritmo, ou seja, de boas exibições e de confiança — acho que está muito confiante —, é um jogador que pode ser o que quiser», rematou Afonso Sousa.
Mudança decisiva para o Famalicão
Rodrigo Rêgo trocou o FC Porto pelo Famalicão em 2021, após nove temporadas de ligação aos dragões. Afonso Sousa, que tinha trilhado esse caminho um ano antes, procurou justificar a mudança: «Já não me lembro dos contornos da situação, mas sei que ele também não estava contente e procurou uma alternativa.»
O avançado que se sagrou campeão de juniores pelos famalicenses em 2022/2023 destacou o papel do dirigente Rui Borges, que deu «uma segunda vida» a muitos jogadores.
«O Rodrigo fez um grande ano nos sub-17 no Famalicão [em 2021/22] e conseguiu dar o salto para o Benfica com todo o merecimento», explicou Afonso Sousa, que permaneceu no clube até 2023 e jogou depois no Canelas 2010 e Académico Viseu.