O jornalista Alexandre Pereira analisa o momento do jovem médio do FC Porto

Rodrigo Mora: de herói a suplente silencioso

Desportiva_MENTE é uma rubrica de opinião quinzenal

Rodrigo Mora habituou-nos, na época passada, a ser protagonista. Com apenas 18 anos, conquistou lugar cativo no onze e, era visto como um verdadeiro talento e claramente o motor equipa do FC Porto. Muito se equacionou sobre a possível saída para um clube ainda de maior dimensão, algo que não se concretizou até então. Com o arranque da nova época tudo parece ter mudado. Este artigo não pretende analisar a utilização do Rodrigo Mora na perspetiva tática do jogo, mas sim no impacto psicológico que esta mudança abrupta traz ao jovem atleta. Por muito que a decisão seja (sempre) do treinador a reflexão impõe-se: como lida um jogador, sobretudo tão jovem, com a transição de herói em campo para suplente silencioso? Que impactos tem esta mudança do ponto de vista emocional, motivacional e de desempenho do atleta?

A decisão do treinador pode ser uma questão tática, mas é inevitável (e até é desejável) analisá-la do ponto de vista emocional. É difícil para um atleta que era a estrela (sem qualquer julgamento negativo da expressão) e de repente ser apenas um.

A identidade de um atleta constrói-se na relação entre o seu desempenho e o reconhecimento do grupo. A teoria da identidade social lembra-nos que o valor pessoal é, muitas vezes, medido pelo valor atribuído pela equipa. Quando esse reconhecimento parece diminuir, instala-se a dúvida: «Ainda conto?». É normal que o atleta, perante esta situação, passe agora por um período de questionamento sobre o seu papel na equipa. Há ainda que referir que a frustração é inevitável. Segundo a teoria da atribuição, os jogadores procuram sempre explicações: «Fui eu que falhei?» ou «onde falhei?» ou «voltarei a conseguir chegar lá?».

Temos aqui o outro senão: a incerteza, a insegurança, a frustração e a quebra de autoestima trazidas pela situação podem aumentar a ansiedade competitiva do atleta e, como sabemos, excesso de ansiedade competitiva tende a reduzir o rendimento em vez de o potenciar, logo, quando utilizado em curtos períodos o atleta pode estar condicionado e cometer mais erros devido à pressão em que a situação o coloca. Isto pode conduzir o atleta a maior dificuldade reafirmação no plantel. Este é, então, um cenário de risco, que a equipa técnica terá de gerir com pinças, mesmo quando à primeira vista o jogador possa compreender e aceitar as decisões.

O banco de suplentes não é apenas um lugar físico, é um espaço psicológico. Para Rodrigo Mora, este pode ser o maior jogo da sua carreira, aquele que não se joga dentro das quatro linhas, mas no campo interior da resiliência. Porque os campeões não se fazem apenas de golos e assistências, fazem-se também da forma como suportam a adversidade e a sombra, transformando-as em força e crescimento, mas para tal é necessário que atleta, treinador e clube tenham consciência disto e procurem o apoio certo para que este talento não se perca na desmotivação.