Portugal pode ser talismã a histórico João Almeida
Todos os holofotes sobre João Almeida, todas as esperanças de que torne o primeiro português a vencer uma grande Volta. Separam-no deste feito histórico 21 etapas da edição mais montanhosa da Volta a Espanha dos últimos anos e com a especialidade de começar em Portugal, hoje, com um contrarrelógio individual entre Lisboa e Oeiras, e que de cá permanecer durante três dias.
Tarefa árdua, mas a oportunidade privilegiada, a mais propícia a glória inédita no ciclismo do nosso País que já se deparou ao corredor de 26 anos das Caldas da Rainha. João Almeida chefiará a toda a poderosa equipa da UAE Emirates, ainda que em parceria igualitária com o britânico Adam Yates, mas livre de subalternidade ao líder indiscutível Tadej Pogacar, vencedor do Giro de Itália e do Tour de França esta temporada, e não enfrentará, além do companheiro de equipa esloveno, os adversários que ficaram à sua frente na prova francesa, em que alcançou excelente quarta posição final, Jonas Vingegaard (Visma Lease a Bike) e Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step).
«Começar uma grande Volta em Portugal é um sonho. Ter o apoio dos adeptos portugueses, da minha família, dos meus amigos, será especial, talvez uma oportunidade única na vida. Vou lutar por vencer esta Vuelta. Será difícil, mas quem não gosteria de ser o número 1», declarou ontem João Almeida.
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— La Vuelta (@lavuelta) August 13, 2024
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Com o português (e Adam Yates) ao leme, a UAE Emirates tentará replicar o feito histórico, único no ciclismo de estrada, da Jumbo-Visma (atual Visma-Lease a Bike) em 2023: a conquista do triunvirato Giro-Tour-Vuelta no mesmo ano.
Além da concorrência interna do seu próprio companheiro de equipa - não efetiva, mas a ter forçosamente de superá-la -, João Almeida enfrentará alguns adversários categorizados. Desde logo, Primoz Roglic, vencedor de três Vueltas consecutivas (2019-21), mas nas duas últimas temporadas falhando o quatro triunfo, que lhe permitiria igualar o recorde do espanhol Roberto Heras. O esloveno lidera o forte elenco da Red Bull-Bora-hansgrohe, em que o colombiano Daniel Martinez, segundo no Giro 2024 atrás do irresistível Pogacar, e o russo Alexandr Vlasov, serão planos alternativos na eventualidade de o líder acusar no rendimento a paragem por lesão (fratura de vértebra) causada por queda no Tour.
Entre os principais candidatos está também o surpreendente vencedor da edição da Vuelta de 2023, Sepp Kuss, à frente de poderosa armada da Visma-Lease a Bike que integra o belga Wout van Aert, favorito a vestir de vermelho nas etapas em Portugal. O norte-americano falhou o Tour devido a covid e só regressou na recente Volta a Burgos, que ganhou, assumindo-se preparado para defender o cetro.
O rival que mais ameaçou o quarto lugar de João Almeida na Volta a França poderá voltar a ser a sombra do português, Mikel Landa, que assume a liderança da Soudal Quick-Step na ausência de Remco Evenepoel. O espanhol exibiu-se a um nível elevado na Grande Boucle e a correr em casa é trepador a ter em conta numa edição muitíssimo montanhosa.
Outro oponente que Almeida teve de bater no Tour foi o jovem líder da Ineos Grenadiers (23 anos), sétimo na prova francesa, e que mantém o estatuto para a Vuelta, corrida em que brilhou na estreia em 2022 com sexto lugar.
Richard Carapaz, vencedor do Giro em 2019, segundo na Vuelta em 2020 e terceiro no Tour em 2021, é voltista de créditos firmados e procurará voltar a lutar pelos primeiros lugares da geral após falhanços e acidentes nos últimos três anos. O equatoriano, que tinha esse objetivo no último Tour, quando vestiu a amarela teve um dia mau e hipotecou-o, destacando-se depois na montanha, onde deu espetáculo, vencendo uma etapa e coroando-se seu rei, que lhe conferiu direito à prestigiada camisola às bolinhas vermelhas.
O eterno candidato à vitória na grande Volta do seu país, mas sempre adiado, Enric Mas repete a pretensão, ainda que pareça ainda mais afastado do que é habitual dos lugares cimeiros. Para o ajudar na montanha (ou plano B), o espanhol da Movistar terá o este ano regressado à equipa da Telefónica, Nairo Quintana.
Por fim, na Lidl-Trek, o dinamarquês Mattias Skjelmose, o italiano Giulio Ciccone e o britânico Tao Geoghegan Hart serão adversários a temer na alta montanha - e como esta é abundante nesta edição da Vuelta!
Rui Costa: «Venho do Tour com motivação em alta»
Rui Costa venceu uma etapa da Volta a Espanha em 2023, quando estava ao serviço da equipa Intermarché-Wanty. Esta temporada, na formação EF-Education EasyPost, depois de um início de temporada prejudicado por fratura de omoplata devido a queda na Volta ao Algarve, o português, de 37 anos, regressou no Tour e afirma-se motivado para a Vuelta. Em conferência de imprensa da equipa norte-americana, ontem, o corredor de Aguçadoura, na Póvoa de Varzim, esteve acompanhado pelos companheiros Richard Carapaz, equatoriano que é líder da equipa designado, e o carismático colombiano Rigoberto Uran, que faz a última grande Volta, retirando-se no final da temporada.
«Depois do Tour, a minha motivação e a da equipa estão em alta. A nossa formação está muito sólida. Creio que as coisas podem sair-nos bem. Temos o Richard Carapaz, que é um grande corredor, que já sabe o que é ganhar uma grande Volta. Vamos com tudo», assume Rui Costa, cuja função principal nesta Vuelta é apoiar o vencedor do Giro de 2019. «Nós acreditamos no Richard para o pódio final. O nosso objetivo será auxiliá-lo», declarou o ciclista, que recorda os meandros da sua vitória em etapa na Vuelta.
«O ano passado pedi à minha equipa de então para fazer a Vuelta porque me sentia bem depois do Tour e as coisas correram bem. Uma vitória muito importante para mim. A vida é feita de objetivos. Ganhei etapas no Tour [duas em 2013 e uma em 2011), depois na Vuelta, e no Giro fiquem perto. Este ano, com a Vuelta a começar em Portugal, correr perante o nosso povo, o entusiasmo é ainda maior», conclui Rui Costa.
Nelson Oliveira: «Tentarei fazer bom contrarrelógio»
Nelson Oliveira tem hoje, no contrarrelógio inaugural da Volta a Espanha, de 12 quilómetros entre Lisboa e Oeiras, oportunidade de brilhar perante os fãs portugueses. «Gostava de fazer bem, claro. É um contrarrelógio curto, plano. Haverá outros corredores que também terão a pretensão de vencê-lo. Será fundamental saber como o corpo reage, por ser o primeiro dia de uma competição e nunca se sabe como iremos corresponder fisicamente», afirmou o corredor, que aos 35 anos participará na 10.ª Vuelta da sua carreira.
«Se não for no contrarrelógio, poderá haver outras oportunidades [de vencer] em etapas em linha», acrescentou Nelson Oliveira, que venceu uma etapa na edição de 2015 da corrida espanhola, e terá funções de apoio aos líderes da equipa, que nesta edição da corrida espanhola serão três, segundo dois planos estratégicos.
«A equipa aposta em Enric [Mas, três vezes segundo na Vuelta], será o plano A. Mas teremos também o Nairo [Quintana, que venceu a corrida em 2016 e está de regresso à equipa da Telefónica esta temporada] e ainda o [Einer] Rubio, que fazem parte de um plano B», revelou Oliveira, que alinhará ainda no octeto da Movistar com Pelayo Sánchez, Oier Lazkano, Carlos Canal e Jorge Arcas.