MOTOGP: Miguel Oliveira, 'o menino que acreditou', na primeira pessoa
A noite já tinha caído e Miguel Oliveira quase passava despercebido junto ao Hospitality da Pramac Yamaha, a casa da equipa onde viveu este ano e que vai deixar depois de Valência, quando terminar a época, mas não a carreira, porque pela frente tem já um novo desafio: o Mundial de Superbikes. Há cinco anos, venceu em casa e a bandeira que carregou ficará na memória de muitos. Mas, mais do que essa que desfraldou em Portimão, foi durante 15 anos ele próprio a bandeira que correu mundo.
Em entrevista a A BOLA, falou sobre o momento especial mas garante que só quer retribuir o carinho e não viver na nostalgia.
- Portimão é um Grande Prémio especial, sem querer transformar isto numa despedida?
- Sempre, tem sempre um sabor especial. Traz sempre memórias boas, já cá venci e penso sempre em repetir o feito, apesar de cada ano trazer a sua particularidade, a sua dificuldade. Faz sonhar e dá sempre aquela motivação extra.
- E sente o apoio do público desde o primeiro minuto em que pisa a pista? O carinho é o mesmo?
- Sempre, até acho que tenho mais e que ano após ano as coisas vão tomando outras proporções. As pessoas acarinham-me muito e isso dá me bastante força para querer fazer bem, também por elas. Ter esta noção de que também posso deixar o público orgulhoso do meu desempenho dá, logicamente, força e uma responsabilidade para fazer bem e sempre melhor.
- E como é que acha que vai correr este fim de semana em pista?
- Acho que tecnicamente até pode ser uma pista boa para nós. A Yamaha tem nos dado surpresas agradáveis este ano em pistas, onde, de antemão, nem se pensava que fosse competitiva. Mas as coisas têm corrido surpreendente bem e eu acho que pode acontecer nesta corrida em Portimão, porque não?
- Acha que a expectativa é sempre demasiado grande e aqui em Portimão ainda mais?
-Não, eu acho que faz bem ser elevada e as pessoas quererem o melhor de nós, não é? E ambicionar as vitórias só traz força, não traz peso, não traz essa cobrança.
- O seu capacete diz ‘o menino que acreditou’, é uma mensagem?
- Quando pensei no capacete queria fazer algo, mas patriótico, talvez. E isso vê-se, obviamente, na bandeira de Portugal que eu tenho na frente. Mas também quis passar uma mensagem um bocadinho mais profunda. E essa mensagem passa por mostrar um menino que acreditou no seu sonho de ser piloto no MotoGP e que agora está a vivê-lo e a concretizá-lo. Pintar aquilo não foi fácil, mas a mensagem está lá. A frase também foi debatida por algum tempo e a frase aceite foi esta. Passa a mensagem de que é possível acreditarmos nos nossos sonhos e cumpri-los. Se estivermos com o apoio certo do nosso lado, as pessoas certas, logicamente, porque há também uma quantidade extra de fatores que eu poderia estar aqui a enunciar durante muito tempo. Mas o mais importante é não desistirmos do sonho que temos.
- E o Miguel continua a sonhar?
- Claro que sim!
- As Superbikes vão ser só uma passagem ainda sonha com o regresso ao MotoGP no futuro?
- Eu deixo sempre a porta aberta, como é óbvio. O meu desejo é poder divertir-me também nas Superbikes e poder chegar numa posição onde possa dar o meu melhor, lutar por pódios e vitórias. É preciso, neste momento, colocar- me nessa posição. E depois logo penso no MotoGP, se haverá abertura e se fizer sentido porque não voltar?
- Não tem medo de se desafiar?
- Não, não. Nunca! [sorri].
- O circuito de Portimão é conhecido como a ‘montanha russa’. Vai ser uma ‘montanha russa’ de emoções?
- Não, vai ser um fim de semana muito tranquilo nesse aspeto. Não estou à espera de passar por muitas emoções no sentido de nostalgia ou tristeza, ou muita alegria. Acho que vai ser tranquilo.