Pontos por perder? Campeonato com dois clubes? Eis as ligas mais bizarras do mundo
Enquanto na Europa as principais competições continuam fiéis ao clássico todos contra todos e outras regiões copiam o modelo norte-americano com playoffs até à grande final, há campeonatos que simplesmente decidiram reinventar o futebol... ou apenas inventar.
A verdade é que, espalhados pelo mundo, existem formatos tão curiosos que fazem qualquer adepto franzir o sobrolho. Eis uma viagem leve - e cheia de surpresas - por algumas das ligas mais peculiares do planeta.
Campeões para todos os gostos
Se ver o seu clube levantar um troféu é motivo de orgulho, imagine viver num campeonato com... oito campeões por época. Na Argentina isso acontece mesmo - e não, não é exagero.
Além dos já tradicionais Apertura e Clausura, cada um com o seu campeão, existe a Copa Argentina, o Trofeo de Campeones, a Supercopa Internacional, a Supercopa Argentina e, mais recentemente, a Recopa de Campeones, um mini-torneio entre os vencedores da Copa, da Supercopa Argentina e da Supercopa Internacional. E quando parecia que já ninguém conseguia acompanhar esta maratona de títulos, a federação argentina (AFA) decidiu criar mais um: o campeão da soma de pontos entre Apertura e Clausura.
Nesta época, este novo título coroou o Rosario Central, de Di María, de forma inesperada... e polémica. Os restantes clubes alegaram que este novo título não tinha sido acordado, embora a AFA contestasse isso, mas a animosidade ficou clara quando o Estudiantes de La Plata foi instruído a apresentar uma guarda de honra ao Rosario, na partida seguinte à conquista. Os jogadores do Estudiantes alinharam-se, mas viraram as costas para criar uma guarda de desonra. O Estudiantes acabou por vencer o jogo por 1-0, mas o presidente do clube, Juan Sebastián Verón, foi suspenso por seis meses devido ao protesto.
Mas a peculiaridade argentina não se fica pela atibuição de vários títulos de campeão. O sistema de descidas de divisão também é criativo. Enquanto uma equipa é simplesmente despromovida por terminar com o menor número de pontos acumulados no Apertura e no Clausura, outra equipa é condenada à descida por ter a menor média de pontos por jogo... nas últimas três temporadas. Porque não?
Pontuação cortada a meio (sim, mesmo a meio)
No campeonato belga, terminar a fase regular em primeiro não garante absolutamente nada. Quando chegam os playoffs, os seis primeiros seguem para uma segunda volta, com 10 jogos a disputar, … mas com os pontos divididos pela metade. Só após esta fase, o campeão é coroado.
O sistema, criado para aumentar a competitividade, transformou várias temporadas em autênticos thrillers futebolísticos. A época de 2022/23 é o melhor exemplo: o Union St. Gilloise parecia ter o título na mão, o Genk já tinha preparado as faixas e, no fim, Toby Alderweireld apareceu para marcar nos últimos minutos da última jornada para entregar o troféu ao Antuérpia. Um campeão decidido no caos, graças ao sistema mais confuso da Europa.
Toby Alderweireld scored an exciting goal in the 94th minute, securing the title for Royal Antwerp, his hometown club.🤯
— FootballWTF (@FootballWTF247) June 4, 2023
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Apesar da adrenalina, a Bélgica vai abandonar esta fórmula em 2026/27 para regressar ao clássico campeonato de 34 jornadas. É provável que os adeptos mais cardíacos agradeçam.
Derrota vale... pontos?
Se há ligas onde perder é sinónimo de tragédia, nas ilhas caribenhas de Guadalupe e Martinica a história é outra: aqui, a derrota oferece um ponto.
A explicação? Uma regra que atribui quatro pontos pela vitória, dois pelo empate e um pela derrota. Resultado: tabelas classificativas que fariam qualquer adepto europeu coçar a cabeça e questionar a matemática.
Esta generosidade evita que os clubes mais fracos se afundem demasiado cedo - mas também cria situações deliciosamente absurdas, como o AS Gosier somar 31 pontos… em apenas nove jogos. É o futebol ao estilo tropica.
Descer a meio da época
Na liga moldáva, um início complicado pode ter consequências devastadoras. Após 21 jornadas, quando os adeptos ainda estão a tentar perceber que equipa realmente tem hipótese de ser campeã, duas equipas são despromovidas... ainda a meio da época.
Mas, ao contrário do que acontece no resto do mundo, a descida não é necessariamente uma sentença definitiva. Essas equipas juntam-se à segunda divisão, onde disputam a fase 2 — um mini-campeonato que pode devolvê-las ao principal patamar, ainda antes do fim da época.
O lado positivo? Cada jogo ganha significado imediato. O negativo? Nem os próprios jogadores devem saber ao certo em que divisão estão...
Uma final disputada a três mãos
A maior parte dos países prefere uma final única e épica ou, noutros caos, a duas mão (casa e fora). Contudo, em São Cristóvão e Neves decidiram que mais é melhor. Por isso, o título do campeonato do país é decidido numa final à melhor de três jogos, estilo NBA.
Para vencer o título, basta triunfar nas duas primeiras partidas. E foi exatamente o que aconteceu este ano: o St Paul's United venceu o Village Superstars por 2-0 em ambos os jogos, arrumou a questão de forma limpa e nem deu hipótese de existir uma terceira e dramática final.
Este formato curioso garante mais jogos decisivos, mais bilheteira, mais emoção… e mais oportunidades para os adeptos encherem as bancadas.
Uma liga com... duas equipas
No arquipélago das Ilhas Scilly, ao largo da Cornualha, em Inglaterra, está o mais pequeno campeonato do mundo e uma das experiências futebolísticas mais bizarras do planeta: uma liga composta por apenas duas equipas - os Garrison Gunners e os Woolpack Wanderers. É possivelmente o único campeonato do mundo onde todos os jogos são dérbis.
Estas equipas enfrentam-se 20 vezes por temporada, o que significa que cada jogador conhece o adversário melhor do que muitos conhecem os próprios colegas de equipa. E nem existe a questão do casa e fora, dado que todas as partidas são disputadas no mesmo sítio.
Para evitar monotonia total (ou talvez para intensificá-la), ainda disputam três taças: a Galley Cup, a Scillonian Club Cup e a Charity Shield. Numa terra pequena, a rivalidade nunca é pouca - e ao menos ninguém precisa de fazer longas deslocações.