Pablo Rosario celebra golo ao Saint-Étienne pelo Nice
Pablo Rosario celebra golo ao Saint-Étienne pelo Nice - Foto: IMAGO

Pablo Rosario: o que vale mesmo o médio que o FC Porto contratou ao Nice

Médio dominicano de 28 anos chega ao Dragão para fazer concorrência a Alan Varela

Formado no Ajax, ainda que com breve passagem pelo Feyenoord, e amadurecido no PSV Eindhoven, Pablo Rosario tornou-se peça-chave do Nice — até se recusar a jogar (diante do Benfica, na pré-eliminatória da Champions e na Ligue 1) por estar a ser negociada a sua saída, tendo entretanto regressado à competição. Aos 28 anos, mostra ainda disponibilidade enorme para se adaptar a novos desafios e uma invejável capacidade de adaptação aos mesmos. Trabalhador incansável, percebe-se porque Francesco Farioli pretende resgatar o seu pupilo dos tempos passados na Côte d'Azur. Na última temporada reforçou os traços de médio exemplar, quase invisível, mas ainda assim imprescindível. É, claramente, o braço direito de qualquer treinador.

Nascido em Amesterdão a 7 de janeiro de 1997, a maior parte da sua formação foi passada no Ajax, mas foi no Almere que ganhou espaço no futebol profissional, estreando-se na segunda divisão dos Países Baixos em 2015/16. Rapidamente chamou a atenção do PSV Eindhoven, que o resgatou no ano seguinte. No Philips Stadion, a ascensão foi rápida: primeiro na equipa B, depois presença habitual no onze e finalmente capitão. Entre 2016 e 2021, somou 138 jogos oficiais, cinco golos, 11 assistências e o título de campeão nacional em 2017/18. O trabalho tático invisível e o precioso sentido coletivo valeram-lhe também a estreia pela seleção dos Países Baixos nesse mesmo ano.

Em 2021, Pablo Rosario seguiu para França para se juntar ao Nice, aposta que se revelou certeira. Desde a estreia num particular com o Milan, apresentou-se como médio fiável, capaz de acrescentar equilíbrio e disciplina à equipa. Terminou a primeira época com 37 jogos. Tinha ganho a confiança imediata do treinador Christophe Galtier. Nos anos seguintes, reforçou a ideia, apesar das mudanças no banco: Lucien Favre saiu e entrou Didier Digard. Em 2022/23, participou em 39 encontros e, em 2023/24, com Francesco Farioli já no banco, ultrapassou os 100 jogos pelo emblema gaulês. Sempre regular, sempre consistente.

A chegada de Franck Haise em 2024/25 não lhe alterou o estatuto: Pablito manteve-se como um dos esteios da equipa. E ainda acrescentou ao seu jogo novos argumentos: os primeiros quatro golos com a camisola do Nice, prova de que, mesmo com características eminentemente defensivas, podia capitalizar a presença em zonas mais adiantadas do terreno.

O que distingue Pablo Rosario é a leitura de jogo. Com 1,85 metros de altura, alia envergadura física a uma notável inteligência posicional. Atua preferencialmente como médio de contenção, porém oferece aos treinadores a possibilidade de se transformar em várias peças dentro do mesmo tabuleiro: já assumiu o papel de box-to-box, central em linha de três, lateral direito em situações de emergência e até médio mais adiantado em contextos específicos. A sua maior arma é a disciplina tática.

Rosario ocupa os espaços certos, fecha linhas de passe, antecipa movimentos e tem capacidade invulgar de proteger a defesa sem recorrer em excesso à falta. A leitura dos momentos defensivos é complementada por um bom primeiro passe, simples e eficaz, que permite acelerar a transição para o ataque ou estabilizar a posse, para um jogo mais posicional. Embora não seja um construtor criativo de raiz, tem evoluído na gestão da bola sob pressão, assumindo cada vez mais responsabilidades na fase de saída.

É também um jogador que se destaca pelo volume de trabalho: cobre grandes áreas do campo, soma recuperações e é exímio no jogo aéreo, tanto a defender como nos esquemas táticos ofensivos. No Dragão, irá muito provavelmente lutar pela titularidade com o argentino Alan Varela.

A sua solidez está refletida nas estatísticas da última temporada. Jogou 35 partidas, 27 como titular, totalizando 2.295 minutos em todas as competições. Marcou 4 golos – três na Ligue 1 e um na Liga Europa – e fez ainda uma assistência. Foi também um jogador combativo: recebeu oito cartões amarelos e foi expulso em duas ocasiões. Na Liga Europa, disputou 5 jogos, com 1 golo em 431 minutos, enquanto na Ligue 1 esteve em 29 encontros, somando 1.775 minutos.

De acordo com o FootyStats, na Ligue 1 registou 0,15 golos por 90 minutos (percentil 67.º entre os médios), 0,05 assistências/90 (49.º no percentil) e 0,20 contribuições diretas para golo por 90 minutos (58.º no percentil). Já a disciplina pesada surge refletida em 0,46 cartões/90 minutos, valor que o coloca no percentil 94.º. Os números defensivos confirmam a sua vocação: 34 desarmes, 34 interceções, 67 duelos ganhos contra 73 perdidos, 18 tackles e 12 remates bloqueados ao longo da época.

Também no passe se mostra fiável: 2.261 passes tentados, com 1.247 completos e 473 passes longos bem-sucedidos, segundo o site FBref.

Apesar de ter vestido a camisola da seleção neerlandesa, Rosario decidiu em 2024 abraçar o desafio de representar a República Dominicana, país de origem da sua família. Fê-lo no momento em que atingia a maturidade plena, levando a sua experiência europeia para uma equipa que ambiciona crescer no cenário da CONCACAF. Participou nos jogos de qualificação para o Mundial de 2026 e na Gold Cup, tornando-se imediatamente um líder no relvado e no balneário.

Em Nice, Rosario foi até às últimas semanas sinónimo de estabilidade. Não é um jogador que encha capas de jornais ou faça grandes manchetes, mas é daqueles que qualquer treinador deseja ter. Um médio que sustenta equilíbrios, resolve problemas e permite aos mais criativos arriscar. Aos 28 anos, está no auge da carreira e será certamente um ativo valioso tanto para o FC Porto, caso a transferência se concretize, como para a seleção dominicana.

Seja a trinco, central improvisado ou médio todo-o-terreno, Pablo Rosario construiu um perfil raro: o do jogador indispensável.