Sudakov e Rui Costa (SL Benfica)
Sudakov e Rui Costa (SL Benfica)

Os jogadores estão cada vez mais caros e também é por causa de Portugal

Valor médio das contratações tem subido em praticamente todas as ligas. Inglaterra é uma ‘ilha’, mas está a ocorrer uma aproximação de valores. Portugueses gastaram quase o mesmo que alemães

O mercado de transferências está em constante mudança e nos últimos anos o valor médio das contratações conheceu uma subida exponencial. Há umas semanas, em entrevista à TVI/CNN Portugal, o ex-presidente e atual candidato à liderança do Benfica, Luís Filipe Vieira, afirmou que as águias deveriam voltar a fazer contratações por €4 milhões, mas a realidade mostra que essa missão revela-se cada vez mais difícil.

Os preços subiram, está envolvido cada vez mais dinheiro, há mais negócios a serem feitos e isso não é apenas no caso em Portugal, em que podemos ver Sporting, Benfica e FC Porto a ultrapassarem os €20 milhões por um atleta, e de forma repetitiva. Até o SC Braga, por exemplo, já passou a barreira dos 10 milhões de euros, e por duas vezes nesta janela - Pau Víctor e Dorgeles.

Esta é uma situação transversal, mesmo com clubes brasileiros a pagarem, ocasionalmente, 20 milhões de euros por contratações - Luis Henrique (Botafogo), Vítor Roque (Palmeiras) ou Samuel Lino (Flamengo) -, quando antes o normal era virem para a Europa mais ou menos por esses valores. Só em 2025, o Palmeiras de Abel Ferreira gastou mais de €100 milhões em reforços, o que diz tudo.

BÉLGICA É A EXCEÇÃO

A subida de valores em mercados anteriormente menos gastadores tem gerado uma perceção de uma mudança estrutural e foi isso que decidimos analisar, comparando as ligas top 5 europeias com as de segunda linha (6 a 10), nas quais se integra a portuguesa. Um dos primeiros aspetos que saltam à vista é que quase todos eles – Países Baixos, Turquia, Portugal e Chéquia – têm vindo a subir gradualmente o valor por jogador (em média) e a diferença está mesmo a reduzir para a primeira metade da tabela.

Apenas a Bélgica se tem mantido constante nos últimos cinco anos, teve um pequeno decréscimo de 0,75% e aponta entre os €4 M e €5 M por atleta. O Club Brugge é claramente o mais gastador, passando sempre os €30 M por janela e chegando por vezes aos €50 M, mas a compra recorde de Yaremchuk (€17 M ao Benfica) é uma situação única. Os restantes grandes negócios são feitos na casa dos €10 M, enquanto os outros clubes baixam a fasquia em metade. E mesmo assim os belgas continuam a ameaçar o sétimo lugar de Portugal no ranking UEFA.

O campeonato que mais se destacou foi o turco (com a maior subida), anteriormente conhecido pelos salários elevadíssimos que ofereciam aos jogadores em virtude de uma carga fiscal menor, mas sem chegar a montantes muito competitivos no pagamento aos clubes. O que se verificou é que ao longo destes cinco anos começaram a apostar mais também nas contratações, registando um crescimento de 380,8% relativamente à quantia gasta por jogador, em média, desde 2021, numa subida gradual de ano para ano, 30% a 40% - mas 2025 a escala rebentou, com uma subida de €5,9 M para €12,5 M (valor médio).

O bolo total pode estar inflacionado com a transferência de Osimhen para o Galatasaray, por números nunca vistos: €75 milhões. Uma quantia impensável para um clube fora do top 5, mas que, esta temporada, aconteceu mesmo (e não ficaram por aqui). Antes o recorde era de En-Nesyri, pedido de Mourinho na época passada para o Fenerbahçe, por €20 milhões de euros.

Por outro lado, a Eredivisie (sexto no ranking UEFA) é outra liga que tem competido com a portuguesa, em campo e fora dele, e houve um crescimento semelhante nos últimos cinco anos, embora em Portugal continua a existir um maior poder de compra: €11,7M (101,72%) contra €7,45 M (81,71%). No entanto, houve uma queda em 2024/25 nos Países Baixos, talvez explicada pela desilusão desportiva do Ajax na época anterior, falhando a Champions, puxando o valor médio para baixo. Mas agora voltaram aos números de 2023/24 e parece que a tendência é para continuar a subir. O Feyenoord, por exemplo, fez um grande investimento em 2025/26, ao nível dos seus rivais.

Por fim, a liga checa está bastante longe das restantes, mas a verdade é que também tem vindo a crescer e de forma gradual (160,8%), tal como se consegue perceber a nível desportivo, embora insuficiente para uma comparação real aos restantes: nem chegam aos €2 M por jogador em média. Em cinco anos, Slavia e Sparta Praga passaram de gastar cerca €5 M por mercado para chegar aos €15 M, chegando a pagar cerca de €5 M por um jogador, o dobro do que acontecia em 2021.

O FENÓMENO INGLÊS

Falando agora das ligas top 5, sem surpresas, há um claro destaque para a Premier League, que continua a ser o campeonato com maior poder financeiro do mundo, tendo neste defeso gastado mais que as outras ligas do top 5 juntas. Isso vê-se não só nos grandes clubes, mas em equipas como o Sunderland, recém-promovido, que gastou quase €200 milhões em reforços.

Cinco clubes ultrapassaram esses valores, três acima dos €300 M e o Liverpool ainda quebrou o recorde do Real Madrid de 2019 numa só janela, chegando aos €483 milhões de euros. O valor gasto por jogador, em média, está nos €43,7 M. A própria liga também superou pela primeira vez os 3 mil milhões de euros de investimento, mas não houve um verdadeiro crescimento comparativamente com os últimos cinco anos e sim uma constante.

Esse também é o caso na maioria dos restantes campeonatos, embora o que se mais se aproxime às ligas do top 6 a 10 é o da Bundesliga. A liga alemã manteve-se sempre entre os €15 M e €20 M, mas desceu nos últimos dois anos e nos últimos cinco quase não evoluiu (6,67%). O RB Leipzig é quem gasta mais e o Bayern não gastou tanto como nos outros anos, exceção feita aos €70 M pelo passe de Luis Díaz ao Liverpool.

O mesmo aconteceu com a francesa (que até desceu -3,16% e esteve sempre entre os €14 M a €18 M), na qual o PSG tem bastante peso: chegou a gastar 450 milhões de euros em 2023/24 e esta época ainda só investiu €100 M, daí essa queda em dois anos. A verdade é que os restantes clubes não evoluíram, alguns até perderam poder de compra, como Lille ou Mónaco. O Lyon está agora também numa situação financeira complicada e o Marselha talvez seja o único a competir com os três grandes lusos: pagaram 30 milhões de euros por Igor Paixão, ao Feyenoord, este verão.

SERIE A CRESCE

Ao contrário da Bundesliga e da Ligue 1, a Serie A está a crescer e a ganhar protagonismo, também pela grande competitividade desportiva ao longo dos anos, com várias equipas a conseguirem investir bastante, chegando mesmo aos €100 milhões. Em 2021/22, davam €13,5 M por jogador e agora essa média subiu para os €18 M, uma subida de 33,33%. Contudo, o maior negócio até ao momento foi o de Nkunku para o Milan, por €37 M, valores não tão superiores para as restantes ligas com menor ranking, embora a frequência deste tipo de transferências seja muito maior e em vários clubes.

Já a LaLiga é um caso particular, muito marcada pela situação financeira do Barcelona e com o Real Madrid, a custas com um investimento milionário na reconstrução do seu estádio e apostando cada vez mais em  contratações cirúrgicas a custo zero (embora a de Mbappé seja diluída no vencimento do francês). Mesmo assim, houve um crescimento de cerca de 20,82% em cinco anos, mas o pico foi na temporada 2022/23 (€27,5 M e atualmente é de €22,4 M). Destaque para os mais de €350 milhões gastos pelo Atlético Madrid só nas últimas duas temporadas, mas o preço médio por jogador é mais baixo do que o rival Real Madrid, porque os colchoneros fazem várias contratações por valores inferiores.

Assim, é certo afirmar que a diferença entre as cinco melhores ligas europeias para as restantes já não é tão grande como há cinco anos, principalmente na Alemanha e em França, embora a Premier League continue a ser um mundo à parte. Mesmo a liga inglesa tem mantido uma constante e fora a Serie A não há um crescimento claro como nas top 6-10. Esses campeonatos têm subido, com ênfase para o caso português, aproximando-se pouco a pouco, e parece que esta evolução sugere uma tendência para os próximos anos.

Conclusões

  • As ligas top 6-10 têm vindo a subir gradualmente, exceto a Bélgica.

  • As ligas top 1-5 é variável, mas a Premier League continua sempre em destaque.

  • Média geral também tem crescido à boleia dos 6-10.

  • Liga turca foi a que mais subiu fora do top 5.

  • Bundesliga continua em formato de poupança