Ian Cathro respondeu, através de um comunicado, ao Santa Clara e anteviu o jogo que colocará o Estoril frente ao Tondela, este domingo. Foto: D.R.

«O meu nome é Ian Cathro, tenho 'balls' e digo que não vale tudo»

Técnico do Estoril abriu conferência de imprensa com a leitura de um comunicado de resposta ao Santa Clara; considera que paragem de uma semana «é o que é» e aguardará pelo apito inicial para perceber se o estado do relvado terá influência no resultado em Tondela

Antes das habituais questões, uma declaração… e longa, por parte de Ian Cathro, na antevisão do Estoril ao embate com o Tondela, através de um comunicado de mais de nove minutos e meio no qual foi, como é seu timbre, cáustico e direto ao assunto.

«Quero ser muito claro: o meu nome é Ian Cathro, tenho balls para assumir tudo o que digo e digo que não vale tudo em futebol», transmite o treinador estorilista, no texto que fez questão de ler aos jornalistas presentes.

Na mensagem emitida, Cathro visou diretamente o comunicado emitido pelo Santa Clara na quinta-feira, alusivo à controvérsia que envolve os dois clubes face ao reagendamento da partida entre ambos, pela 3.ª jornada da Liga e acrescenta: «digo, mais uma vez, tenho balls e não faz sentido vender a ideia de que é normal jogar numa data FIFA. Não faz sentido», critica.

Face a esse adiamento, o Estoril enfrentou uma paragem forçada no passado fim de semana – defrontará, tudo o indica, o Santa Clara na próxima semana, no decurso da data FIFA – e o escocês procura encontrar pontos de encorajamento para a deslocação a Tondela, este domingo.

«Acho que temos de ter uma postura um bocadinho de é o que é. Quando alguma coisa assim acontece, completamente fora do nosso controlo, nós podemos ou chorar ou olhar para isso a criar uma maneira de passar este tempo de uma forma produtiva», encarou, focado no objetivo de se apresentar competitivo e vencer os beirões.

Ainda assim, Ian Cathro não esqueceu ainda a indefinição que chegou a existir sobre o local no qual a partida irá realizar-se, nomeadamente devido ao mau estado do relvado do Estádio João Cardoso, deixando uma bicada na sua resposta.

«Sou uma pessoa curiosa, que gosta de aprender e procuro oportunidades para melhorar como pessoa e como treinador. Acho que era muito óbvio que íamos jogar no estádio deles», reagiu o técnico, que aguarda pelo apito inicial para perceber se o relvado influenciará, ou não, o resultado da partida.

«Não sabemos, mas o jogo vai começar, o árbitro vai apitar e haver uma bola e duas balizas; pensar em muito mais do que isso, acredito que não nos vai ajudar», declarou, por fim.

Eis o comunicado de Ian Cathro:

«Nunca, em momento algum, ataquei alguma pessoa de algum clube, em particular do Santa Clara. O que fiz foi questionar uma norma e uma decisão que marca um jogo da Liga para uma data FIFA, com os prejuízos que se sabem - para nós, para o Santa Clara e para o próprio espetáculo que a Liga procura promover.

Pelo contrário, alguém escondido atrás de um comunicado do Santa Clara, questionou o meu profissionalismo e referiu-se a mim como “o treinador escocês”, sem referir o meu nome e erradamente dizendo até que sou mais preocupado com o futebol do meu pais - quando praticamente não falo e não tenho ligação ao futebol escocês e quando se sabe que ,sobretudo em termos de futebol, sou muito mais português que escocês…

Pois eu quero aqui ser muito claro: - O meu nome é lan Cathro, tenho balls para assumir o que digo e digo que não vale tudo em futebol. Não quero saber o que cada um faz fora do futebol, se vai ver as vaquinhas, ou se vai jogar golfe… eu vou passar tempo com a minha família, com a minha filha! É a minha escolha, tenho vida e não sou menos profissional por causa disso, pelo contrário: tenho orgulho e sinto-me mais forte por causa disso.

Por isso, peço que tenham a elevação de discutir o essencial e não ataquem pessoas. Mais: eu lan Cathro, vivo muito feliz com a ideia de ter escolhido Portugal para trabalhar porque gosto das pessoas, admiro as equipas e o talento dos jogadores e sinto que gostam de mim. Por isso, näo deixa de ser engracado que alguém, lá está, escondido atrás do nome do Santa Clara, me reduza ao treinador escocês como se fosse menor ser estrangeiro por aqui, num pais e numa Liga abertos ao mundo, numa Liga aberta ao investimento e ao talento estrangeiro, como säo exemplo tantos clubes, como é exemplo o próprio Santa Clara…

Ainda sobre a falta de profissionalismo: sabem o que é profissionalismo? É defender a competição. Tentar proporcionar as melhores condições às equipas e o melhor espetáculo aos adeptos. Por isso, temos de pensar diferente – por exemplo, pedi ao clube um relvado novo, no Estadio António Coimbra da Mota, um investimento significativo que tirou espaço para o clube ser mais ativo no mercado, mas são investimentos para melhorar as condições e o nosso clube, para contribuir para melhorar o nível de jogo e a imagem de futebol português, do campeonato português.

E eu, porque me preocupo verdadeiramente com a competição e porque tenho balls, digo mais uma vez: não faz sentido vender a ideia de que é normal jogarmos numa data FIFA! Não faz! Querem assumir essa discussão? Querem falar tranquilamente e ver as datas alternativas ou continuar a fazer comunicados que se desviam da questão essencial? Porque um dia se fez uma norma, näo pode haver bom senso para alterá-la? Acho que que pode. Não acredito que essa norma vá existir na próxima época e será normal que seja alterada, chama-se a isso discussäo, bom senso e inteligência, chama-se a isso evolução e, sim, chama-se a isso profissionalismo! Fiz o meu contributo para este tema - passei a minha opinião e experiência.

Tenho algum tempo de carreira, trabalhei a maior parte da minha vida em Inglaterra em clubes como Tottenham, Wolves, Newcastle, vários anos ao mais alto nível naquele que dizem ser o melhor campeonato do mundo; oiço muita gente falar em dar saltos, elevar o nível, chegar aos big 5…e sabem? Não é comum ver prejudicar os clubes com jogos numa data FIFA. Como disse, o meu contributo está feito; agora, senhores dirigentes dos clubes, da Liga, façam como entenderem.

Deixo só mais uma nota sobre o Santa Clara: tenho pena, sinceramente, muita pena mesmo, que não tenham conseguido alcançar o que queriam na Europa, que obviamente era importante para todo o futebol português. Tenho muita admiração pelo trabalho feito pelo Vasco Matos nos últimos dois anos, a construir uma das boas equipas deste campeonato. Está de parabéns pelo trabalho feito e há uma coisa de que tenho a certeza: não seria ele a escrever aquele comunicado. E pronto, ponto final. Não falarei mais sobre este assunto.»