O golo da vitória, de Adriano, do Internacional sobre o Barcelona na final do Mundial de Clubes de 2006 - Foto: IMAGO

O melhor LFV

'Remate de letra' é o espaço de opinião semanal de Hugo Vasconcelos

Isto tudo pode ser um sonho. Se for, por favor, não me acordem

Luís Fernando Veríssimo, em crónica sobre a vitória do Internacional no Mundial de Clubes, em 2006

Luís Fernando Veríssimo morreu faz hoje uma semana. Não há registos de que tenha alguma vez dito «qualquer dia um homem sério já não pode andar no futebol», mas foi o melhor LFV que o futebol alguma vez teve, diria que no top-3 (para o caso de estar a esquecer-me de alguém) de cronistas, apenas um bocadinho de tanta escrita que nos deliciou, das Comédias da Vida Privada a Borges e os Orangotangos Eternos.

Foi ele quem, por exemplo, coligiu as Regras do Futebol de Rua, o manual definitivo para a melhor versão do melhor desporto do mundo. «Da duração do jogo – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.»

Foi ele quem, numa conversa com o próprio coração, no Mundial de 1998, explicou que «o coração não tem time» e que não quer saber do futebol: «Você deliberadamente me trouxe a um evento em que eu posso parar de repente, mesmo não tendo nada a ver com isso? Não era para ser um campeonato de futebol, um esporte, um divertimento?».

Também falou dos jogadores «imarcáveis», dos que recebiam «marcação corriqueira» e dos outros que «nem precisavam disto, pois marcavam a si próprios. Alguns até com uma certa violência.»

Em Time dos Sonhos: paixão, poesia e futebol, de 2010, estão alguns dos melhores textos alguma vez escritos sobre futebol. Que «existe para representar o grande desperdício nacional, o grande paradoxo de um país que não se aproveita. A função do futebol, no Brasil, é ser metáfora.»