O dia em que Amorim mudou a história do Sporting

É justo dizer que existiu um Sporting antes e outro depois do dia 8 de março de 2020. A data que marcou a estreia oficial de Ruben Amorim no comando do Sporting. Com 35 anos, recém-completados, os leões renasceram com um técnico que inverteu o rumo de uma história carregada de nuvens negras. Entrou num clube instável, dividido, com um estádio a ferro e fogo, fruto de uma turbulência provocada por um clube que estava em jejum de um título nacional há 19 anos. Ruben Amorim começou por mudar tudo há precisamente cinco anos.  

Rapidamente se percebeu que o elevado investimento, um dos maiores de sempre na contratação de um treinador (Sporting pagou €10 milhões ao SC Braga pela cláusula) seria compensado. Com juros, vitórias e títulos. Entrou nesta altura, na reta final da Liga, para tomar o pulso da revolução que se seguiria na época seguinte. Dispensou alguns nomes consagrados e conseguiu compor um plantel com pouca experiência, de jogadores que não estavam habituados a vencer, sem cultura de vitória, de pouca valorização de mercado. E foi nesse dia, a 8 de março de 2020, quando o país estava prestes a entrar em confinamento devido à pandemia Covid-19, que nasceu um novo e renovado Sporting que durante estes últimos anos apareceu mais confiante, mais competitivo, mais estável e mais robusto em termos financeiros.  

Esse pontapé de saída teve o Aves como anfitrião. Primeiro jogo, primeira vitória. A primeira das 164 que somou ao serviço dos leões nos 230 jogos realizados. Apenas 34 empates e 33 derrotas. Uma percentagem de 71% de triunfos, uma das mais altas da história dos leões. Assinando e quebrando vários recordes. 511 golos em 230 jogos, média de 2,2 golos por jogo, superando registos de Jorge Jesus no Benfica e Sérgio Conceição no FC Porto. Entre outubro e dezembro de 2021, por exemplo, teve a melhor e maior sequência de vitórias: 12. A maior de todas, curiosamente, aconteceu com o próximo adversário dos leões, o Casa Pia, com uns esmagadores 8-0, em 2023/2024.  

Recuemos, então, ao ponto de partida. Esse jogo de estreia com o Aves. No qual Sporar (62’) e Vietto (68’) foram decisivos para o primeiro sorriso do técnico. Dois nomes que, convém lembrar, haveriam de sair no final dessa época. Um jogo que o treinador, bem mais recentemente, lembrou em várias ocasiões. 

«Ninguém imaginou estar no momento em que estamos. Há um diferença enorme entre o treinador que era e sou hoje. Nesse dia o ambiente no estádio era muito diferente. É a coisa que mais me marcou. A tensão que estava nesse momento foi algo que me marcou. Passado este tempo o que mudou foi mesmo o momento no estádio. Os sócios são o coração dos clubes. Entrar hoje no estádio de Alvalade é completamente diferente do que nessa altura», disse.

Desse onze de estreia poucos resistiriam para o futuro imediato. Apenas Coates, que se haveria de transformar numa das grandes referências da equipa, reforçou posição.  

Nenhuma destas proezas seriam lembradas sem a conquista de títulos. E Ruben Amorim também não falhou nisso. Foi com Amorim que os leões quebraram o longo jejum no que a campeonatos diz respeito e que durava desde 2011/2022. Fez a festa em 2020/2021 e juntou-lhe o da temporada passada. Mas também recheou o museu de Alvalade com uma Supertaça (2021) e duas Taças da Liga (202/2021 e 2021/2022).  

Uma mão cheia. A quem muitos auguravam mais um, precisamente esta época. Com um arranque demolidor mas que despertou a atenção do Manchester United que avançou para o jovem técnico, deixando o leão numa instabilidade que já não tinha desde a sua entrada há cinco anos. A despedida ocorreu diante do SC Braga, a 10 de novembro do ano passado, com uma vitória retumbante por 4-2.  

Depois de Amorim... já por ali passou João Pereira, uma passagem fugaz, oriundo da equipa B e que voltaria à procedência pouco tempo depois. Entrou Rui Borges e este, apesar do legado pesado, mantém o leão na luta pelo título e terminar um trabalho que foi iniciado por Amorim. Há cinco anos...