Quando o Casa Pia ajudou a formar leõezinhos
O Sporting desloca-se este domingo a Rio Maior para, a partir das 18h00, defrontar o Casa Pia, clube que regressou à Liga no início de 2022/2023 após uma longuíssima ausência de 83 anos do escalão maior do futebol português.
Durante a travessia pelos escalões secundários, os gansos celebraram, no início do milénio, um protocolo de cooperação com o Sporting. O acordo entrou em vigor em setembro de 2001 e teve a duração de seis temporadas, abrangendo o futebol de formação e, também, o profissional.
Em regime de empréstimo por parte dos leões estiveram em Pina Manique, entre muitos outros, três jogadores que chegaram a internacionais por Portugal: o guarda-redes Beto Pimparel (2002/03), e os avançados Silvestre Varela (2004/05) e Yannick Djaló (2005/06). Mas também muitos outros como Miguel Ângelo, Duarte Machado, José Semedo, jovens que procuravam uma afirmação em Alvalade.
Os três internacionais emprestados pelo Sporting no Casa Pia
Guilherme Farinha, hoje com 69 anos e um currículo vasto em países da América do Sul, como o Paraguai, e da América Central, como a Costa Rica, orientou os casapianos por dois períodos nessa altura (2001/02 e 2003/04 a metade de 2004/05), sendo que na segunda passagem, com o emblema lisboeta na então II Divisão B, teve oportunidade de escolher alguns jogadores do quadro leonino.
«Tive o privilégio de ir ao Sporting puder assinalar alguns futebolistas e levei o central José Semedo, que é o melhor amigo do Ronaldo, o Miguel Ângelo, também defesa, o Silvestre Varela que toda a gente conhece e o Mateus, que fez carreira muito longa em Portugal e foi internacional por Angola», recorda.
O professor, como é tratado nas Américas, garante que o protocolo era «benéfico para as duas partes». «O Casa Pia ficava a ganhar porque dispunha de jogadores de qualidade e o Sporting via os seus atletas maturarem num quadro competitivo de qualidade», explica, pois, por essa altura, a SAD decidiu terminar com a equipa B depois desta não ter conseguido a manutenção na Zona Sul da II Divisão B.
Guilherme Farinha cedo perspetivou que Silvestre Varela chegaria a um patamar alto no contexto do futebol nacional, algo que não aconteceu de leão ao peito mas quando rumou ao FC Porto, na temporada 2009/10. «Há uma história muito curiosa. Ele quando foi para o Casa Pia começou a ser chamado com regularidade à seleção de sub-21. E depois dum jogo fora dessa equipa, a mãe foi buscá-lo ao aeroporto. E o Silvestre, em vez de ir para casa, quis ir para Pina Manique para treinar connosco. Como é óbvio, não o deixar entrar em campo porque ele estava desgastado, mas logo aí deu para ver como era comprometido com a profissão. Nunca tive dúvidas de que chegaria a um patamar elevado, como acabou por acontecer», conta.
Depois dum jogo fora dos sub-21, a mãe de Silvestre Varela foi buscál-o ao aeroporto e ele em vez de ir para casa quis ir para Pina Manique porque queria treinar-se. Não o deixei fazê-lo mas percebi logo o nível de comprometimento que tinha com a profissão
ARREPENDIMENTO QUE NÃO PASSA
Já se passaram 20 anos, mas há uma mágoa que Guilherme Farinha ainda hoje guarda. «Em janeiro recebi um convite do Sportivo Luqueño, do Paraguai, através do seu presidente, Ramón Gonzaléz Daher. Ele disse-me que me queria no clube dele e eu respondi que não podia porque tinha contrato com o Casa Pia. Daher foi direto: ‘Se não vens, nunca mais voltas ao Paraguai’. Cedi e fui porque já lá tinha estado no Cerro Corrá e tinha adorado. Não o deveria ter feito, porque quando saí o Casa Pia estava em primeiro e acabou em quinto. Se tivesse continuado, teríamos conseguido a subida de divisão, não tenho dúvidas. É um arrependimento que tenho até hoje», garante.
Guilherme Farinha destaca que na altura o plantel tinha «uma grande união dentro e fora de campo» e que a amizade entre todos se mantém até hoje. «Passados todos estes anos, quando pudemos, juntamo-nos em almoços no restaurante do estádio e estou sempre a pedir desculpa aos meus jogadores por os ter deixado. Eles já me perdoaram mas a mim é que a mágoa não passa», finaliza.
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