O cantinho português onde Renato Sanches festejou os 19 anos e Vítor Pereira se zangou

Em Munique, onde esta quarta-feira Portugal disputa com a Alemanha um lugar na final da Liga das Nações, A BOLA descobriu o restaurante de um amigo do Tino de Rans e que é o preferido de muitos craques do futebol

Nas paredes, há Amália e Eusébio, há Camões e caravelas, há Sintra e há os Clérigos. Há a ponte sobre o Tejo, há Coimbra e o castelo de Guimarães. Estamos em Munique, podemos garantir, mas atravessar a porta do restaurante Portugal, situado à beira do centro da capital da Bavaria, é embarcar imediatamente numa viagem espaço-temporal de 2.000 quilómetros rumo ao cantinho à beira-mar plantado que viu nascer o proprietário, o sr. Manuel, que há 28 anos deixou a freguesia de Rans, sim a mesma do famoso Tino, rumo à Alemanha em busca de melhores condições de vida.

É neste espaço tão lusitano que, sobretudo aos fins de semana, dezenas de portugueses vêm matar saudades da terra-natal. É que, além da decoração, também à mesa se sente Portugal. Há Sagres e Super Bock, há vinho das Beiras, do Minho e do Alentejo, há bacalhau e sardinhas, frango assado e bitoque; há cataplanas de peixe e vitela à Lafões; e há peixe espada com arroz de tomate e carne de porco à alentejana. Não há pormenor que escape, mais ainda à beira de um Alemanha-Portugal, já esta quarta-feira, precisamente em Munique. Mas não é só de portugueses que se faz a clientela do restaurante.

O sr. Manuel, dono do restaurante Portugal em Munique

«Os alemães adoram a nossa cozinha, sim. E vem gente de todo o mundo à procura dos sabores portugueses. E, curiosamente, vêm muitos chineses, muitos mesmo», conta-nos o sr. Manuel, explicando-nos, depois, com algum orgulho, que alguns dos clientes são famosos…

Um cantinho português em Munique:

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Com efeito, foi neste espaço que, em agosto de 2016, Renato Sanches festejou, o seu 19.º aniversário, ele que, consagrado campeão europeu em Paris pela Seleção, se tinha mudado para Munique há poucos dias, na sequência da transferência milionária do Benfica para o Bayern.

Renato Sanches assinou a camisola de Eusébio no restaurante Portugal, em Munique

«Foi muito engraçado, porque ninguém estava a conhecê-lo. Eu é que passei pela sala e, de repente, olha, está aqui o Renato Sanches. E depois percebi ele fazia anos naquele dia. Então levámos-lhe um pastelzinho de nata com uma vela e cantámos todos os parabéns naquela sala. Foi muito bonito», diz-nos o sr. Manuel.

O sr. Manuel e Renato Sanches em 2016

Era igualmente aqui, neste cantinho português de Munique, que João Cancelo, que esteve no gigante bávaro por empréstimo do Man. City entre janeiro e junho de 2023, vinha por vezes jantar com a sua mulher. «Uma simpatia de rapaz, muito simples, simpático, ninguém diria que é uma estrela do futebol. Quanto terminava a refeição, ficava sempre no bar comigo à conversa por largos minutos. O que pedia? Acho que optou algumas vezes pela francesinha», atira o sr. Manuel: «E o Vítor Pereira também.»

O sr. Manuel com Vítor Pereira, que treinou o TSV Munique em 2017

Vítor Pereira, antigo treinador do FC Porto e hoje no Wolverhampton, treinou o TSV Munique entre janeiro e junho de 2017. «Vinha cá muitas vezes, ele e os colegas da equipa técnica. Eram muito simpáticos e gentis, falavam muito de futebol. Um dia, numa discussão mais acalaroda, Vítor Pereira zangou-se a sério. Até saiu porta fora, chateado e a esbracejar. Depois voltou e ainda se riram todos muito. Foram tempos muito giros», lembra o dono do restaurante.

O que o sr. Manuel já não consegue precisar é se algum destes ilustres clientes «teve a sorte de ver Rafinha», internacional brasileiro que esteve oito épocas no Bayern, «atuar no palco do restaurante». «Era uma festa o Rafinha. Chegava, deixava o Ferrari ali à porta e ia logo para o palco com o cavaquinho, tocar e cantar. Uma alegria. Contagiava a sala toda. E trazia com ele muitas vezes outros jogadores do Bayern», conta-nos o sr. Manuel.

Rafinha (à dir.), antigo internacional brasileiro que jogou oito épocas no Bayern

O que, sim, consegue precisar, em nova viagem pelas memórias, é as escolhas de Renato Sanches: «Isso é fácil. Era quase sempre o bitoque. Também chegou a pedir o frango no churrasco e o bife Portugal», recorda. Para trás, ficou, entretanto, a final da UEFA Champions League que, em Munique, consagrou Vitinha, João Neves, Nuno Mendes, Gonçalo Ramos e o PSG como campeões europeus.

É uma casa portuguesa, com certeza!

«Celebrámos muito aqui. Montei o ecrã gigante e foi uma grande festa portuguesa também.» Festa, essa, que se prolongou por mais uns dias. É que, já esta quarta-feira, é a hora de Alemanha e Portugal medirem forças por um lugar na final da Liga das Nações. «Há um ano, a meia-final do Euro-2024 que seria de Portugal era aqui em Munique. Infelizmente, perdemos nos quartos de final com a França e foram os franceses e os espanhóis a disputar o jogo aqui na cidade. Foi uma pena, o Europeu é que era», lamenta o dono do restaurante Portugal, virando a agulha para a atualidade.

Portugal está em todo o lado neste restaurante de Munique

«Agora, finalmente, vamos mesmo ter aqui a Seleção Nacional. É uma alegria muito grande, um enorme orgulho, é mais um bocadinho de Portugal que vem até nós. E só têm de vencer! Ganhar aqui à Alemanha seria fenomenal! E, com isso, garantíamos que ficavam cá até domingo», expressa o sr. Manuel, referindo-se ao facto de a final ser em Munique – se perder, a Seleção disputará em Estugarda, também no domingo, o encontro que definirá o 3.º e 4.º lugares da competição.

A viagem pela história do sr. Manuel volta, entretanto, ao passado. Para trás, estão 28 anos de trabalho na Alemanha, 16 deles aqui no restaurante Portugal. «O começo foi difícil. São sempre difíceis os começos, não é? A língua, as saudades… Entretanto, tenho este negócio já há 16 anos. Estive antes no Castelo, outro restaurante português, agora estou aqui com a minha mulher. Os meus filhos também estão cá. Um já nasceu cá, o outro nasceu em Portugal. Eles agora têm um bar aí numa piscina. Tenho tido muita sorte, tenho tido, graças a deus. Mas isto já esteve melhor, já. A Alemanha já esteve melhor.»

Isso quer dizer que o regresso a Portugal está para breve? «Para já não. De vez em quando, damos lá umas voltinhas. Porque, mesmo estando aqui, com tanto de Portugal no restaurante, é diferente estar lá. Vamos agora em agosto, como sempre, passar três semanas. Fechamos sempre esse período em agosto e vamos todos, em família. E a seguir, é voltar. É preciso voltar, para continuarmos a trabalhar…»