José Machado está de regresso ao Algés, onde foi nadador e jogador de polo aquático - Foto: A BOLA

«O Benfica era a minha cadeira de sonho, por isso a desilusão foi maior»

Não tendo o contrato renovado pelas águias após uma temporada na Luz, José Machado esteve pouco mais de um mês no 'desemprego' e passará a liderar o Algés, onde aprendeu a nadar e fez toda a carreira como atleta. Diz-se desiludido com o antigo clube, e agora leva seis nadadores para o projecto algesino, mas que até poderia ter acontecido no Belenenses

Dispensado do Benfica há pouco mais de um mês após ter sido uma das grandes apostas das águias no início da passada temporada — o clube mantém Miguel Frischknecht como treinador principal —, José Machado integrou, esta semana, a liderança técnica da natação do Algés, ao lado de André Ribeiro que permanece na centenária coletividade e continua a ser o coordenador da equipa de natação.

Aos 60 anos e quando temia não voltar ao topo da natação nacional, regressa ao clube onde cresceu, competiu durante nove anos e também jogou polo aquático três. Traz seis nadadores do Benfica: os seniores Yuri Fomin, Ema Conceição e Cláudia Borges, e juniores Carlota Boleixa, Li Tongueer e Ana Pires, e agora cresce a ambição de poder lutar pelo título feminino no Nacional de clubes. Razões para A BOLA conversar sobre o momento com o ex-diretor desportivo para todas as disciplinas da federação de natação, assim como da hipótese de ter rumado para o Belenenses.

— Como é voltar ao clube onde cresceu, nadou e competiu, mas do qual nunca foi treinador de natação?
— Pois não… A sensação especial foi quando cheguei com as novas nadadoras na segunda-feira e senti o ambiente. Embora as condições não sejam as mesmas, é um ambiente muito mais acolhedor do que no Benfica. Depois, tenho uma coisa que é a minha esperança: os assuntos são resolvidos com o presidente [António Bessone Basto].É o que me está prometido. Pelo menos é uma coisa que nunca irá acontecer com o Benfica, onde vi o vice-presidente uma vez. Falou uma vez comigo, Aqui isso pode jogar a favor, ter um presidente que, no fundo, tem no clube a sua atividade mais importante. Mas, sinceramente, nunca sonhei com a possibilidade de um dia vir treinar o Algés.

— Esta não era a sua cadeira de sonho?
— Não, não é a minha cadeira de sonho. A minha cadeira de sonho era aquela, no Benfica. Pensei que estava tudo bem, por isso é que foi a maior desilusão. Já não o era depois de estar lá, porque aquilo que fiquei mais convencido que podia ter no Benfica era concentrar-me só nos treinos, não ter que fazer o papel todo: andar a discutir pistas e piscinas para se treinar. Pensei que ali era possível, mas não foi. Os outros detalhes, quero esquecer o mais rapidamente possível. Uns dias depois de ter sido dispensado as coisas agravaram-se muito, muito... Já tive oportunidade de enviar algumas coisas para o grupo dos treinadores que ficaram, haviam entrado comigo, e supostamente iam ser todos meus adjuntos. Apresentei provas documentais de que pelo menos havia uma pessoa daquele grupo que sabia antecipadamente que eu iria ser dispensado. Isto porque, dois dias antes, foi convidar um técnico adjunto para ele. Aconteceu a 7 de agosto. Mas também soube que no dia 5 já tinham conversado com um nadador, com o argumento, o mais reles possível, que uma vez que eu já lá não estava ele podia voltar. Só que nunca mandei embora qualquer nadador do Benfica. Nenhum! Foi o Benfica que o fez.

— Para quem, depois de ter sido dispensado do Benfica, estava com receio, até pela sua idade, de talvez ser difícil arranjar um clube para manter-se a competir em Portugal ao mais alto nível, ficou surpreso com a velocidade com que as coisas resolveram?
— Fiquei e não fiquei, porque também considero que é uma boa proposta não terem que se preocupar nada em termos de vencimento e eu ainda trazer para o Algés pelo menos seis nadadores que acredito poderem dar completamente a volta no campeonato nacional de clubes [Benfica é campeão em masculinos e o Sporting nos femininos]. É essa a minha expectativa, que o Algés, que na época anterior foi quinto classificado em femininos e quarto em masculinos. possa passar a discutir o primeiro lugar. Isto em condições normais, porque nunca se sabe quem é que vem ao campeonato [nadadores estrangeiros contratados]. Mas também estou esperançado que no Algés vá ter quem se interesse pela naturalização do Yiri Fomin [russo], o que será uma mais-valia brutal para alguém que tem vindo a competir extra competição e dará um salto brutal.

— Como é que fica em termos de treinador com o André Ribeiro?
— Como quando o Algés começou os treinos, a 1 de setembro, ainda não se sabia se havia a possibilidade de ingressar, o André fica com o grupo principal que já tinha e eu junto aos seis nadadores que vieram comigo alguns de segundo plano do clube, Assim as coisas ficam mais ou menos equilibradas em termos de número para os treinos.

— É verdade que o Belenenses também esteve interessado em si?
— Não, não é. É exatamente o contrário. Quando achei que as coisas poderiam não se concretizar no Algés, avisei que iria apresentar a mesma proposta ao treinador do Belenenses [Fernando Couto]. Que poderia ir para lá com um grupo de nadadores. Quero deixar claro que em ambas as situações ninguém me convidou, ninguém andou atrás de mim, eu é que fui à procura de uma solução e comecei por falar com o presidente do Algés. Acreditei que tudo se ia concretizar, mas depois houve um revés, até porque não existia noção de que espaço total existente para se treinar. Avisei o presidente que aguardaria alguns dias e se não tivesse resposta ofereceria o mesmo plano ao Belenenses. O que aconteceu. O treinador do Belenenses até mostrou muito entusiasmo e interesse, mas depois existiu um mal entendido. Fiquei com a ideia de que ele me iria dizer alguma coisa até ao final do dia após apresentar o projeto e arranjar mais espaços para os treinos. E ele ficou a pensar que era eu que lhe telefonava…

— Neste momento, e face ao facto de trazer consigo cinco nadadoras que eram do Benfica, significa que o grande objetivo da época para o Algés é o Nacional de clubes feminino?
— Quero os dois, masculino e feminino, mas pronto, sei que nos homens será mais complicado. O masculino, se tivessem vindo os nadadores que falaram comigo inicialmente as hipóteses seriam maiores, só que depois houve uma alteração em termos das garantias que o Benfica lhes passou a oferecer em termos económicos que não foi minimamente possível acompanhar. É que a maior parte dos nadadores do Algés pagam mensalidade. Estamos a falar entre trazer uma nadadora a quem, depois, lhe dizem: pede-me o que quiseres, e a vinda para um clube onde se pagam mensalidade, grande parte das deslocações às provas e tudo mais. São diferenças grandes. No entanto, acredito neste projeto porque o presidente mostrou muito entusiasmo e falou com os novos nadadores e os que já estavam, garantindo que fará tudo para ajudar. Quero acreditar que será assim. Por isso também estou entusiasmado. Sobretudo a partir do momento em que se consiga concretizar algum espaço extra no Jamor para os treinos, pois comigo vieram nadadores que estão habituados a treinar toda a temporada em piscina de 50 metros.