Nascido e criado em Lisboa, apoia o Tondela e festeja subida... no Marquês de Pombal
Leiria, 16 de maio de 2025, minuto 83’.
Depois do golo do Vizela na Madeira aos 73’, o Tondela precisava de um golo para regressar a lugares de subida direta. Quis o destino que o presente e o futuro auriverde combinasse para inaugurar o marcador na cidade do Lis. Miro espoletou a festa beirã a passe de Roberto, que aos 90+4’ selou o regresso tondelense ao convívio dos grandes.
Entre os mais de três mil de adeptos que pintaram o Estádio Magalhães Pessoa de verde e amarelo e que foram à loucura após o golo de Roberto, estava Paulo Miranda, muito provavelmente o adepto mais conhecido do clube.
Contrariando as teorias que associam a escolha de clube à naturalidade, às ligações familiares ou até às genéticas, os destinos do jornalista da Rádio Comercial e do Tondela cruzaram-se na rua do acaso.
Dias depois da conquista da Liga 2 por parte do clube do coração, Paulo Miranda conversou com A BOLA junto à Praça do Marquês de Pombal e explicou como, mesmo a 265 quilómetros de distância, um amor improvável não apanhou trânsito e floresceu: «O meu sogro é de Tondela e passar férias e fins de semana lá fez-me aproximar um bocadinho do clube.»
A receção ao FC Porto B, a 4 de abril de 2015, foi a primeira página de um livro auriverde que teve o primeiro capítulo dourado no final dessa temporada. André Carvalhas foi o herói da primeira subida do Tondela à Liga, acompanhada por Paulo... em directo. «Estava a trabalhar em Lisboa. Nessa altura, dei um grito. Saí da rádio a apitar, directamente para minha casa.» contou, antes de recordar sete épocas consecutivas no convívio dos grandes.
Depois de várias fugas à descida com contornos de ficção, o Tondela foi finalmente apanhado pelas malhas da Liga 2 em 2022, uma semana antes de disputar a final da Taça de Portugal. Paulo recorda uma época «agridoce», mas que terminou com um churrasco no Jamor no qual foi anfitrião. «Foi uma proposta da administração da Rádio Comercial, Mal se soube que o Tondela iria à final da Taça perguntaram “estás nessa?» recordou o radialista que prontamente aceitou.
Nem a derrota frente aos dragões por 1-3, nem a descida à Liga 2 fragilizaram uma relação que Paulo temeu que chegasse a ter como pano de fundo o terceiro escalão: «A primeira época foi extremamente difícil, temos aquele problema de não poder inscrever e é de tirar o chapéu ao plantel que ficou... jogar naquelas condições, com muitos miúdos Eles também são obreiros deste percurso.»
De regresso três épocas depois, pela porta da juventude
Após de um 11.º lugar em 2022/2023, a época seguinte pauta-se por uma maior estabilidade auriverde que, segundo Paulo, serviu de «preparação» para um dos momentos mais felizes enquanto adepto do Tondela.
O jornalista da Rádio Comercial analisa uma época superlativa dos beirões, que apanharam pouco trânsito até à meta: «Nas primeiras quatro jornadas também andámos cá em baixo com quatro empates seguidos e ficou-se com aquele sentimento de “será que é este ano?” Mas depois, com o desenrolar da época percebemos que podíamos chegar longe, falávamos muito do objetivo.»
«Sempre acreditámos que podíamos subir. As últimas cinco jornadas foram muito difíceis, porque tivemos alguns match points que fomos falhando, mas soube melhor assim» reforçou Paulo Miranda, que, ao contrário de há dez anos, esteve presente no jogo da subida.
«Estava de folga, portanto, já tinha a ideia de ir a Leiria, mas foi pura coincidência, porque pensava que esse jogo iria ser realizado a um sábado. Era para ir com a família, mas acabei por ir sozinho» conta a A BOLA, admitindo que as lágrimas desceram pelo rosto depois da confirmação do término da travessia na Liga 2.
Apesar de não ter seguido para a festa em Tondela, Paulo guarda com carinho os momentos em que pisou o relvado do Magalhães Pessoas e pôde conviver com os heróis da subida. Dias depois, o jornalista teve a oportunidade de pintar de amarelo e verde um dos locais mais míticos para os adeptos do futebol português.
Apesar de reiterar satisfação pela subida, já olha para o que 2025/2026 pode proporcionar: « Que possamos ter uma equipa competitiva, que deem o máximo. Provavelmente terei mais jogos aqui para ver na zona da Grande Lisboa, mas, conto, ir ao João Cardoso. Posso não ir muitas vezes, mas vou.»
Para Paulo, a chave de uma época de regresso satisfatória está no banco de suplentes. À primeira oportunidade nos campeonatos profissionais, Luís Pinto subiu o Tondela e os adeptos auriverdes não querem que a parceria fique pelo caminho: « Gostava que ele continuasse e penso que qualquer tondelense tem esse desejo. De qualquer forma, se não ficar, desde que vá para melhor, ficamos felizes. Gostávamos muito que ele ficasse, porque é um treinador jovem, com ideias novas e é incrível a forma como ele mete a equipa a jogar. Tira tudo dos jogadores»
Uma feliz coincidência espoletou um amor alimentado a golos, quilómetros feitos de norte a sol e a batimentos cardíacos demasiado acelerados. Uma coisa é certa: o amarelo e verde beirão chegou ao Marquês de Pombal.