«Não sei responder à pergunta se o João Sousa está para ficar»

João Sousa ouviu A Portuguesa à capela, emocionou-se com o apoio incondicional que recebeu ao longo da semana no Monte Aventino e não poupou elogios ao italiano Luca Nardi que celebrou o 20.º aniversário conquistando o título mais importante da jovem carreira no Porto Open. O vimaranense também falou do futuro, sobre o qual deixou muitas interrogações, reconhecendo ao mesmo tempo que a final, neste regresso à competição ao fim de dois meses de paragem, lhe aguça a vontade de jogar. Eis as palavras do melhor tenista português de todos os tempos depois de ter falhado a conquista do sexto título de nível challenger da carreira.

Sobre a partida:

«Faltou muito pouco para vencer este título, para o final de semana perfeito. O Luca é um grande jogador, demonstrou que é um jovem com muito talento, que evoluiu muito. Treinei com ele no primeiro dia e vi que era um jogador que faz a bola andar facilmente nestas superfícies.  Surpreendeu-me a maturidade dele em reagir ao ambiente que se viveu aqui, que foi um ambiente incrível. Mais uma vez foi o melhor ambiente de toda a semana. O estádio estava completamente cheio. No primeiro set, não entrei muito bem, sofri um break cedo, tive a capacidade de reação de fazer dois breaks e subir o meu nível de ténis. O encontro foi decidido no segundo set, em que não fui muito feliz. Relaxei demasiado depois de ter vencido o primeiro. Ele jogou muito bem em alguns momentos, noutros tremeu um bocadinho, tentei aproveitar-me disso, embora sabendo que quando estava bem e a sentir bem a bola podia ser muito perigoso e foi o que aconteceu no terceiro set. Fui-me fisicamente abaixo, mas acho que a chave do encontro foi naquele 5/4 [segundo set]. Acredito que se tivesse feito o break para o 5-5, as coisas teriam sido diferentes.»

Balanço do torneio:

«Estou muito contente, não estava à espera de fazer uma final, a expectativa não era essa. Vim para desfrutar, jogar, tentar ver como estava fisicamente, acho que me aguentei muito bem para ter sido o primeiro torneio depois de tanto tempo parado. O apoio do público, continuo a dizer, deu-me muita força para vencer, não estava à espera. Foi incrível. Hoje [este domingo] viu-se um ambiente quase de Taça Davis. A cultura do ténis já começa a mudar um bocadinho e isso é bonito de ver, é para isso que jogamos e sentir este apoio é incrível. Antigamente não era tão emotivo, hoje sou mais. E ter o sentimento de que falhei perante esse apoio deixa-me magoado, mas faz parte do ténis. Dei o meu melhor, não consegui acompanhar esse apoio incondicional. Não depende só de mim, o Luca jogou um grande encontro e há que reconhecer-lhe mérito a ele e à sua equipa.»

Rosto tapado com a toalha no final do encontro:

«Acho que foi um momento em que precisava de estar sozinho, coberto pela toalha pude estar comigo e aceitar que as coisas não correm da maneira que nós queremos, queria vencer, era o primeiro a querer vencer, depois de estar na final. Estive muito perto, senti-me frustrado por não dar essa vitória ao público, que tanto puxou. As pessoas ficam um pouco dececionadas e eu sou o primeiro. É um momento de aceitar e perceber que só tenho de estar contente por ter dado o melhor e ficar tranquilo. Podia ter estado fisicamente melhor. Oxalá tivesse estado... As coisas são assim. Tenho idade para aceitar. Costumo dizer que ou se ganha, ou se aprende e foi o caso. Aprendi que não posso controlar todos os momentos, controlei os que consegui e tentei dar sempre o melhor. Acreditei sempre que podia dar a volta, a verdade é que ele jogou muito bem e pouco pude fazer no terceiro set.»

Entrou no court com Hino Nacional cantado à capela:

«Fez-me recordar essa outra final [Millennium Estoril Open de 2018 em que se sagrou campeão], no Estoril foi mais efusivo e acho que todas as pessoas estavam mesmo a cantar o hino e foi mesmo arrepiante. Arrepiei-me, lembro-me perfeitamente. Aqui foi um grupo específico que tentou fazer a mesma coisa, as pessoas aderiram, mas não tanto em massa... Foi muito bonito sentir que o estádio estava a apoiar. Atrever-me-ia a dizer que não há melhor experiência do que essa num campo de ténis. Sentir que o público está connosco e que, além do nosso propósito de querer ganhar, existe o das outras pessoas de quererem o mesmo. É o auge de motivação de qualquer atleta.»

Comparação com final ganha no Challenger de Guimarães:

«São finais completamente diferentes. Em 2013 era muito jovem, já vinha a jogar bem e se calhar ali foi o passo que me deu mais confiança para jogar. Aqui é diferente, dá-me motivação para continuar a jogar. Vou estar algum tempo parado para recuperar, refletir e em breve vou reunir convosco e saber o que realmente vai acontecer. Mas esta semana dá-me motivos para continuar, para perceber que o nível está lá, mentalmente estou melhor e que fisicamente não estou tão mal como achava. Vamos ver como recupero...

Subida de 81 lugares no ranking até 271.º

«Hoje apresentei nível de top-100 e isso é o que me interessa. O ranking é um número. Não sabia qual o ranking em que estava e nem sei qual o que vou estar. O futuro passa por ser feliz no campo e se estou a desfrutar com o que faço. Não devo nada a ninguém.»

João está para ficar?

«Não sei responder à pergunta. Eventualmente no final do ano, vou conseguir esclarecer isso. Neste momento, quero desfrutar do ténis, algo que não faço há muito tempo. Na sequência do que aconteceu aqui o objetivo é voltar à competição, mas há coisas a ponderar. Vou-me inscrevendo semana a semana em torneios, para poder jogar, mas não sei. O ideal seria jogar sempre em casa, mas isso não pode ser. As pessoas não têm a noção da dureza que é o circuito do ténis a nível mental. E ter essa capacidade de viajar, concentrar, jogar, partida a partida é muito duro. O ténis é um desporto difícil física e mentalmente. Vivenciei tudo isso durante muitos anos...»