Diogo Ribeiro irá disputar o terceiro Mundial de piscina longa da carreira e já tem três medalhas Fotografia Simone Castrovillari/FPN

Mundial: Os quatro fantásticos em Singapura

Com a segunda Seleção mais pequena de sempre (e que o correu o risco de ser ainda menor), Portugal começa, nas próxima madrugada, o 22.º Mundial com ambições distintas e muitas contrariedades ultrapassadas. Diogo Ribeiro defende os títulos dos 50 e 100m mariposa conquistados em Doha-2024, mas a concorrência está feroz

Com a segunda equipa mais pequena do historial de Portugal em campeonatos do mundo de natação pura, nas anteriores 19 presenças apenas em Fukuoka-2001 contámos com quatro elementos e em Budapeste-2022 com dois, a Seleção Nacional, composta por Diogo Ribeiro (Benfica), Camila Rebelo (Louzan), Diana Durães (Benfica) e Francisca Martins (Foca) inicia, na próxima madrugada e até 3 de agosto, a participação no 22.º Mundial de Singapura.

Com a direção técnica agora sob as orientação de Ricardo Antunes, a manter a fasquia que já existia na direção federativa anterior de apenas convocar quem tenha alcançado mínimos A da World Aquatics, ou seja, que nos últimos 15 meses tenha obtido tempos que podem aspirar a meias-finais e finais, o quarteto nacional, ainda que com mais ou menos capacidade devido a contratempos de alguns elementos, está na rica e poderosa cidade-estado da Península Malaia, com tais objetivos mínimos.

No entanto, é, naturalmente, de Diogo Ribeiro que todos, incluindo os que não acompanham a modalidade regularmente e há ano e meio despertaram para ela, esperam que vá mais longe depois de, na temporada passada, o nadador do Benfica ter concretizado o sonho impossível ao conquistar dois títulos de campeão mundial ao ganhar os 50 e 100 mariposa.

Os primeiros ouros de Portugal no evento e apenas o segundo e terceiro pódio depois de o próprio já ter sido prata aos 50 mariposa em Fukuoka-2023.

«Não estou a pensar em medalhas, nem estou a pensar em finais. Só quero melhorar os meus tempos, acima de qualquer outra coisa. Sei que se melhorar esses tempos vou estar a lutar por outras coisas. Gostava de nadar as quatro provas [100 livres e 100 mariposa], mas não sendo possível para passar a finais, as que tenho mais na cabeça para obter melhores resultados são os 50 livres e 50 mariposa», afirmou o olímpico a A BOLA à partida para o estágio de adaptação de uma semana em Macau que antecedeu a viagem para Singapura.

Francisca Martins Fotografia FADU

E Diogo, 20 anos, sabe bem do que estava a falar e de como será já difícil chegar à final num campeonato do que se espera extremamente competitivo. Nos 50 mariposa, prova que nada já amanhã — Francisca Martins estará nos 400 livres — e na qual costuma ser dominante, surge com o 7.º tempo (22,87s) da entry list enquanto nos 50 livres é 12.º (21,67s). Só que, em prova, Ribeiro habituou-nos a grandes momentos de superação e isso pode leva-lo a estar nas decisões para acabar no pódio.

SELEÇÃO NACIONAL
DIOGO RIBEIRO Data nascimento: 27 de outubro de 2004 (20 anos) Naturalidade: Coimbra Altura: 1,84m Clube: Benfica Treinador: Samie Elias Mundial: 3.ª participação Provas: 50 (21,67s RN) e 100 livres (47,98s RN), 50 (22,80s RN) e 100 mariposa (51,17s RN) CAMILA REBELO Data nascimento: 3 de fevereiro de 2003 (22 anos) Naturalidade: Vila Nova de Poiares Altura: 1,70m Clube: Louzan Treinadores: Vítor Ferreira/Gonçalo Neves Mundial: 3.ª participação Provas: 100 (1.00,52m RN) e 200 costas (2.08,95m RN) DIANA DURÃES Data nascimento: 8 de junho de 1996 (29 anos) Naturalidade: Fafe Altura: 1,70m Clube: Benfica Treinador: Samie Elias Mundial: 5.ª participação Provas: 800 (8.29,33 RN) e 1500 livres (16.15,12m RN) FRANCISCA MARTINS Data nascimento: 27 de junho de 2003 (22 anos) Naturalidade: Felgueiras Altura: 1,74m Clube: FOCA Treinador: Simão Marinho Mundial: 2.ª participação Provas: 200 (1.57,85m RN) e 400 livres (4.07,50m RN).

«Esta é uma umas das Seleções para Mundiais mais pequenas dos últimos anos, são apenas quatro nadadores, mas a experiência que estes quatro já tiveram representa muito. Trata-se de uma equipa bastante forte, focada, e que já passou por muito a vários níveis», começou por afirmar o treinador nacional Samie Elias, que prepara Diogo Ribeiro e Diana Durães no CAR Lisboa.

«Ainda esta temporada todos tiveram momentos de superação e de bastante entrega», salienta, lembrado as lesões que poderiam ter afastado Diogo (labro ombro esquerdo) e Diana (reconstrução do tendão do ombro esquerdo) do Mundial ,enquanto Francisca sofreu, em fevereiro, a morte repentina do pai. «Mas, como referi, se olharmos para a história dos quatro esta época, viveram um pós-olímpico super duro, com muitas coisas para ultrapassar mas todos já apresentaram excelentes performances», reforça.

CURIOSIDADES
20 em 22. Em 22 Mundiais, Portugal só não esteve presente nas duas primeiras edições: Belgrado-1973 e Cali-1975. Histórico. Diogo Ribeiro é o único nadador nacional a ter sido medalhado num Mundial de piscina longa, com a prata aos 50 mariposa em Fukuoka-2023 e o duplo ouro nos 50 e 100 mariposa em Doha. Antes dele, Alexandre Yokochi foi quem ficou mais próximo de subir ao pódio ao ser 5.º nos 200 bruços em Perth-1986. Finalistas. Portugal tem apenas seis presenças em finais e três são de Diogo Ribeiro. Mais ninguém foi repetente, há uma estafeta de 4x50 livres em Perth-1991 e só lá chegou uma mulher, Ana Barros em Perth-1991, 50 costas. Recordista. Com a presença em Singapura-2025, Diana Durães passa a ser a portuguesa com mais campeonatos do mundo disputados, cinco, ultrapassando os quatro em que participaram Victoria Kaminskaya e Tamila Holub e tendo apenas à frente o recordista Simão Morgado, com sete, e Diogo Carvalho, com seis.

Analisando mais especificamente, Elias considera que Diogo «tem adversários extremamente fortes e está apenas focado em melhorar as suas marcas e avançar as várias fases». «Já a Diana, vem de um período de treino em crescimento a pensar para no projeto Jogos de Los Angeles-2028. Está no bom caminho, com uma evolução surpreendente, mas uma coisa é treino e outra são as competições. E é para isso que está cá, para começar a regressar às suas principais provas. Será mais um desafio gigante que irá ultrapassar», diz convicto.

Camila Rebelo Fotografia Simone Castrovillari/FPN

No que se refere a Camila Rebelo e a Francisca Martins, Samie Elias tem sobretudo o receio de terem chegado a Singapura mais tarde e vindas de outra competição. «Já conquistaram muito na última semana. Vieram diretamente de um desafio em que fizeram grandes exibições nas Universíadas de Rhine-Ruhr, na Alemanha. No entanto, a transição das Universíadas para um Mundial dias depois é algo desafiador. Vai ser complicado recuperar a concentração e o descanso físico para encarar uma das competições mais fortes, pelo menos em termos de tempo de qualificação, dos últimos Mundiais», refere.

Diana Durães Fotografia Simone Castrovillari/FPN

«O bom é que o trabalho foi muito bem feito e tenho a certeza que estão bem, mas, volto a salientar, esta transição em tão pouco tempo e com um fuso horário grande [+8 horas em relação à Alemanha] é um pouco difícil. Mas confio bastante no trabalho do Vítor [Ferreira], do Gonçalo [Neves, treinadores de Camila] e do Simão [Marinho, treinador de Francisca] e que elas vão lidar bem com essa dificuldade assim como que a energia do grupo vai ajudar todos nessa superação», concluiu.