Mercadejos e antimercadejos

Chelsea e Juventus; Jesus e Eustáquio; Sérvia e Croácia; Diogo Jota e Pedro Gonçalves; vantagem de dez pontos que agora é de seis

Ébom descobrir palavras. Mercadejar, por exemplo. Se não fosse Ivo Rosa, poucos saberiam o que significa. É qualquer coisa como auferir rendimento ou benefício de forma ilegal. Ou corrupção sem ato concreto. Talvez o Chelsea, por exemplo, tenha mercadejado no jogo com o FC Porto. Sérgio Conceição insinua que a sua equipa foi prejudicada por não pertencer a um campeonato do top-5 europeu. Ou seja, o Chelsea obteve rendimento de forma ilegal. Mercadejou, portanto. O FC Porto, nos dois jogos com a Juventus, nos oitavos de final da Champions, foi beneficiado por não terem sido assinaladas duas grandes penalidades sobre Ronaldo. E não era do top-5 europeu, enquanto a Juventus era. Ou seja, o dragão mercadejou. Jorge Jesus diz que, se fosse presidente do Paços de Ferreira, multava Stephen Eustáquio por, com a sua expulsão frente ao Benfica, ter prejudicado a sua própria equipa. JJ colocou-se, assim, no lugar de quem mercadeja, embora não tenha chegado a mercadejar. Só quis ser quem não era. O que, ficando-lhe mal, não é mercadejamento. É apenas parvoíce.
 

PORTUGAL quase veio abaixo quando a Sérvia, mercadejando, empatou 2-2 quando devia ter perdido por 2-3, não fosse o golo de Ronaldo tivesse sido validado. Porém, também Portugal foi mercadejado, meses antes, frente à Croácia, quando Diogo Jota dominou a bola com a mão antes de a ceder para João Félix fazer golo.  Ora somos mercadejados, ora mercadejamos. O leão Pedro Gonçalves já tentou mercadejar: estava dois centímetros em fora de jogo e fez golo. Foi anulado. Talvez aqui não tenha sido mercadejo. Foi apenas mercadejozinho, se é que a palavra existe. Se tivesse cortado as unhas, já não teria mercadejado. Chegou até a dizer ao árbitro, antes da decisão deste em anular o mercadejamento, que não mercadejara. Mas mercadejou. Aliás, todos mercadejamos: eu mercadejo, tu mercadejas, ele mercadeja, nós mercadejamos, vós mercadejais, eles mercadejam. O futebol é, no fundo, um desporto de mercadejos e em que tudo se mercadeja.
 

OUTRA pessoa que mercadeja é Rúben Amorim. Diz que não é candidato ao título, quando é. Diz que não é favorito ao título, quando é. Porém, será mais correto dizermos que o treinador do Sporting é um anti-mercadejante. Não quer o benefício para o qual está, de forma legal, a trabalhar há 26 jogos. Perdeu quatro pontos nos últimos dois jogos e agora, mercadejando ou não, tem oito jogos para gerir ou solidificar a vantagem de seis pontos.