Lúcia Alves reafirma importância de desfrutar no Campeonato da Europa

Lúcia Alves: «Podemos fazer coisas muito bonitas por Portugal»

Após uma época fustigada por lesões, a lateral-esquerda do Benfica regressa à melhor forma mesmo a tempo do Europeu. Guiada pela vontade de surpreender a Europa, a internacional lusa frisa onde mora o segredo do sucesso

Na antecâmara do Campeonato da Europa, Lúcia Alves corre contra o tempo para atingir o pico de forma que a colocou no topo do futebol português em 2023/24. Depois de falhar os primeiros seis meses da temporada seguinte devido a uma lesão aguda no joelho esquerdo, novo problema físico impediu que a lateral-esquerda realizasse mais de 14 jogos antes da terceira fase final da carreira.

Ainda assim, a internacional lusa mantém-se como um dos canivetes suíços de Francisco Neto, pela polivalência, ambição ofensiva e energia inesgotável. Em entrevista a A BOLA a lateral-esquerda garante que está pronta para o Euro, desvaloriza o futuro e dribla a pressão como se de uma adversária se tratasse.

Como é que se sente neste momento depois de ter falhado o fim da época por lesão? 

— Sinto-me bem. Estou a trabalhar para estar na melhor forma. Sinto-me melhor a cada dia que passa 

Se o Europeu começasse amanhã estava em condições de ser titular?  

­— Sim, cada vez que entro em campo é para dar o máximo. Demonstro isso diariamente no clube e na Seleção. Se me dissessem que teria de meter a cabeça ou o pé eu iria estar apta. 

Lúcia Alves após a operação ao joelho no verão de 2024 (Benfica)

Como é que lidou com uma temporada fustigada por lesões. O maior desafio é físico ou mental? 

— Qualquer pessoa tem que estar forte quando passa por uma lesão. Passa muito por obedecer ao corpo. Quando apita é perceber que há algum problema. 2023/24 foi uma época incrível, mas esta não deixa de o ser porque se calhar fez-me crescer em outras coisas.  

— Qual é o balanço individual e coletivo que faz desta época?  

— Individualmente, não foi a minha época de sonho como tinha sido a anterior, mas quando estive lá senti que estava pronta e que pude ajudar a equipa. A nível coletivo, os objetivos foram conquistados, fomos campeãs nacionais. Quem me dera poder estar presente na Taça de Portugal, iria acrescentar, mas se o corpo quis assim, é assim que tem que ser. Nota-se que já estamos noutro patamar, é bastante positivo.

Mesmo a meio gás, Lúcia Alves decidiu o dérbi lisboeta nos quartos de final da Taça de Portugal (SL Benfica)

Várias colegas de Seleção foram apontadas ao Benfica. Sente que o contigente de internacionais portuguesas encarnadas pode aumentar? 

Não sei nada, prefiro focar-me no clube. Se vierem vão acrescentar, se não vierem está tudo bem na mesma. Cabe-me trabalhar e estar na melhor forma.  

Tem contrato com o Benfica até 2026. Pensa no futuro?

Não, o Benfica é um clube que eu amo. O objetivo passar por dar sempre o meu melhor.

— Fecha-se a porta da época de clubes, abre-se a da Seleção. Portugal vai disputar a terceira fase final consecutiva. Sente já há a obrigação de lutar por algo mais do que a qualificação?  

— Quem não gostar de pressão, é melhor não praticar este desporto. Portugal já demonstrou que está num outro patamar, nós queremos este patamar. Temos de estar fortes, unidas e conseguir mostrar a todos os países aquilo que Portugal é. Estamos a trabalhar para chegar à Suíça, não sentir pressão e ,desfrutar do momento.

Qual é o objetivo principal da Seleção na Suíça?

Estar na melhor forma possível, como grupo trabalhar mais a cada dia para poder chegar à Suíça, dar alegrias e mostrar a todo o país que podemos fazer coisas muito bonitas por Portugal.

Na sua ausência, a Joana Marchão acabou por estabelecer-se no corredor esquerdo. Como é que vê essa concorrência? 

­— Aqui não há concorrência, cada uma faz o seu trabalho e acrescenta. A Joana tem umas coisas que eu não tenho, eu tanto posso chegar à esquerda como à direita. É importante que se a Joana estiver na sua melhor forma, eu também esteja. 

A prestação de Portugal na Liga das Nações pode ter alterado a perspetiva exterior? 

— Cada jogo tem a sua história e se nos focarmos no passado daqui para a frente nada vai resultar. Antigamente também diziam que Portugal era isto e era aquilo e com o passar do tempo começámos a demonstrar ser muito mais daquilo que as pessoas diziam. É não focar no passado e desfrutar que possa vir no futuro.  

Lúcia Alves regressa à Seleção no momento certo (IMAGO)

É benéfico defrontar a Espanha e a Bélgica pela terceira vez num ano?  

— É sempre bom poder jogar contra equipas que já jogámos porque acabamos por perceber mais do jogo das adversárias, sabemos os pontos fortes e os pontos fracos.

O seu regresso, o da Kika e o da Jéssica Silva podem ser decisivos?  

­— Tanto a Jéssica como a Kika são jogadoras excepcionais, mas se o coletivo não for forte, o individual não importa.

—Durante grande parte do estágio em Portugal o grupo foi composto por 26 atletas, mas só 23 foram escolhidas para disputar a fase final. O corte anunciado influenciou o dia-a-dia?

— Acaba por ficar de lado, é trabalhar diariamente e tentar estarmos na nossa melhor forma, depois é o mister que decide. 

— Quando começou a jogar, esperar que 20 anos depois estaria a caminho da sua terceira participação em fases finais?  

— Claramente que não, mas tinha esse objetivo. Trabalhei para poder estar neste momento, poder representar o meu país e estar a um nível que eu própria nunca imaginaria, mas o segredo é trabalhar diariamente.