Liderar no feminino num mundo de homens: o exemplo de Joana Oliveira no futebol
Joana não chegou ao futebol por acaso. Chegou por paixão, permaneceu por competência e destacou-se pela capacidade de unir equipas, gerir emoções e tomar decisões difíceis em momentos cruciais. Num mundo ainda profundamente marcado por uma cultura tradicional masculina, a sua presença é um símbolo de mudança, mas, acima de tudo, uma afirmação de mérito.
Formada em Arquitetura, cedo percebeu que o seu verdadeiro desenho era outro. O traço com que construiu a sua carreira foi feito de relações humanas, negociações internacionais e uma capacidade rara de ler o jogo fora das quatro linhas. Iniciou o seu percurso na logística desportiva, organizando estágios e iniciativas com seleções e clubes de todo o mundo, mas rapidamente se afirmou noutras áreas mais estratégicas.
Mais do que ocupar espaço, Joana tem construído pontes: com treinadores experientes, dirigentes influentes e atletas de diferentes gerações. Mantém um diálogo próximo com referências do desporto nacional - nomes que lideraram seleções, clubes e estruturas - e tem-se afirmado como alguém cuja opinião é ouvida, respeitada e solicitada. A sua abordagem combina rigor técnico com uma inteligência emocional rara, algo que, no futebol de alta exigência, faz toda a diferença.
O seu percurso levou-a a colaborar com a Liga Portugal, a UEFA, a FIFA, a La Liga e a Superliga Turca, acumulando experiência e construindo uma rede de contactos que a projetaria para o mundo. Criou a sua própria agência – a Sports Diamond Agency – e, com ela, passou a liderar ativações e projetos de escala mundial. Trabalha com governos, federações e clubes de topo: do Galatasaray ao Fenerbahçe, do Benfica à Arábia Saudita e Emirados Árabes, da China ao Vaticano.
Mas liderar no feminino implica, muitas vezes, um percurso mais exigente. É preciso provar o dobro para conquistar metade. Joana conhece bem essas dinâmicas, mas nunca se deixou intimidar. Pelo contrário: foi encontrando o seu estilo de liderança - firme mas empática, exigente mas humana, com autoridade mas sem autoritarismo. O seu trabalho é feito de pormenores que, no futebol, fazem a diferença: a gestão de um balneário em momentos de tensão, a preparação cuidada de um jogo decisivo, a capacidade de comunicar com clareza e visão em contextos de pressão. É neste equilíbrio entre o detalhe e a visão global que se encontra a força do seu trabalho.
Joana desenvolveu a sua influência nos bastidores, mas deixou marcas bem visíveis: organizou eventos de solidariedade no Vaticano, liderou ativações com lendas como John Terry, Wesley Sneidjer, Rivaldo, Cafu, e foi chamada a contribuir para projetos de soft power desportivo em países onde o futebol é mais do que um jogo - é uma ferramenta de diplomacia, cultura e identidade.
Hoje, Joana é muito mais do que uma exceção no futebol masculino. É um exemplo. Uma referência para jovens mulheres que sonham com um lugar no desporto, não apenas como atletas, mas como líderes. E é, sobretudo, a prova de que o talento e a competência não têm género.
No mundo do futebol, onde tantas vezes se confunde força com dureza, autoridade com grito e sucesso com mediatismo, Joana Oliveira lidera de forma diferente. Com subtileza, com visão, com uma força tranquila. E, por isso mesmo, com impacto.
«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach» e «Organizar para Ganhar» e ainda speaker.