Justiça tardou mas não falhou em São Miguel (crónica)
Logo após o jogo, Vasco Matos destacou os dados estatísticos deste Santa Clara-Alverca. E se, por vezes, os números são mentirosos, desta vez explicam bem a justiça do resultado. Os ribatejanos tiveram bons momentos, mas, no geral, os açorianos, a jogarem em casa, foram superiores e mereceram a vitória. Tiveram mais bola, remataram mais e estiveram mais tempo mais perto da área adversária, ainda que, um minuto antes do apito final, o 2-1 ainda não fosse uma realidade.
A partida chegou empatada ao intervalo, mas não por falta de esforço do Santa Clara. A maior constante dos açorianos foi Brenner Lucas, que, de início a fim, foi uma dor de cabeça para o lado esquerdo da defesa ribatejana, com arrancadas, iniciativas no 1 para 1 e insistências que colocaram Julián Martínez uma e outra vez em xeque. Foi logo aos 8 minutos de jogo que o central do Alverca, que não realizou uma partida feliz, deu o ouro ao bandido: um atraso para André Gomes ficou a meio caminho, o extremo adversário antecipou-se, ficou na cara do guardião e, depois de ser herói num primeiro instante, o guarda-redes emprestado pelo Benfica rasteirou o brasileiro. Serginho assumiu a marcação da grande penalidade e não desperdiçou.
Os insulares foram, de resto, superiores no primeiro tempo e, não fosse um corte providencial de Naves após incursão de Brenner Lucas, Gabriel Silva — mais apagado do que lhe é costume — até podia ter feito o segundo. Mas os oito remates que fizeram antes do descanso valeram o mesmo que os dois do Alverca. Os ribatejanos tiveram 10 minutos de boa resposta que foram suficientes para que, a cruzamento de Figueiredo, Lincoln aparecesse no coração da área para marcar à equipa que já representou. Momento de passividade açoriana que nenhum mérito tirou tanto ao centro certeiro do extremo-esquerdo como ao cabeceamento perfeito do extremo-direito.
Mesmo com 1-1 no marcador, Custódio Castro e os seus jogadores não terão certamente ficado satisfeitos com o que aconteceu no primeiro tempo. A resposta foi quase imediata, com uma bela incursão de Sabit pelo centro que acabou por ser aliviada e, quatro minutos depois, um passe longo de Naves encontrou Marezi que, na cara de Gabriel Batista, não conseguiu desviar com força suficiente. Estava dado o aviso e os acertos ribatejanos cresciam. Os anfitriões iam tendo mais bola, mas não conseguiam criar perigo. Só que, com o aproximar do apito final, a pressão crescia mais e mais.
Já nos minutos finais, a equipa do Alverca assumiu uma postura mais cautelosa. O Santa Clara, que teve mais posse ao longo da partida, assumia a procura mais insistente pelo golo, ainda que a projeção tivesse permitido que Tiago Leite, num ataque rápido, se isolasse a passe de Sandro Lima, mas o remate cruzado foi defendido por Gabriel Batista. Tanta foi a pressão que, na sequência de um canto, a muralha lá acabou por cair, da maneira mais dramática possível: aos 90'+7, o canto de Matheus Pereira foi certeiro para onde MT apareceu para, de cabeça, provocar a explosão de alegria no Estádio de São Miguel.
O 2-1 final adequa-se ao que aconteceu ao longo dos mais de 90 minutos. É de louvar a reação do Alverca, que entrou na segunda parte de cara lavada, mas o Santa Clara foi melhor durante mais tempo e em mais momentos. Mais três pontos para a turma açoriana, que, depois de perder os primeiros dois duelos da Liga, soma duas vitórias e dois empates nos últimos quatro.
As notas dos jogadores do Santa Clara: Gabriel Batista (5); Sidney Lima (5), Frederico Venâncio (5) MT (6); Lucas Soares (5), Adriano Firmino (5), Serginho (6), Matheus Pereira (6); Brenner Lucas (7), Vinícius Lopes (5), Gabriel Silva (5); Luquinhas (5), Anthony Carter (5), Pedro Ferreira (5), Diogo Calila (5), Elias (5)
O que disse Vasco Matos, treinador do Santa Clara:
Ganhar a acabar tem um sabor especial, sem dúvida. Procurávamos os primeiros três pontos em casa. Entrámos muito fortes, podíamos ter feito mais um golo. O Alverca reagiu bem. Na segunda parte fomos para cima, foi se calhar o jogo em que tivemos mais posse de bola. 14 remates, sete cantos, quatro grandes oportunidades contra uma, a estatística não mente. É fácil interpretar este jogo. Acabámos por fazer o golo já no final, deixa-nos muito contentes e dá-nos muito alento para o que aí vem.
As notas dos jogadores do Alverca: André Gomes (4); Naves (6), Sergi Gómez (5), Julián Martínez (4); Nabil Touazi (5), Alex Amorim (5), Sabit (6), Chissumba (5); Lincoln (6), Marezi (5), Figueiredo (6); Isaac James (5), Davy Gui (5), Tiago Leite (5), Nuozzi (5), Sandro Lima (5).
O que disse Custódio Castro, treinador do Alverca:
Um golo ao último segundo na bola parada custa muito, especialmente num jogo que teve o Santa Clara melhor em alguns momentos, o Alverca melhor noutros. Foi um jogo bastante equilibrado. Respondemos bem ao lance do penálti, conseguimos o empate. Na segunda parte o jogo foi equilibrado, acabámos por ter duas boas situações para fazer golo e acabámos por sofrer no último lance, de bola parada, nada fazia prever. Estamos insatisfeitos com o resultado e agradecemos aos nossos adeptos pelo apoio que nos deram. Queríamos outro resultado, acabámos por não conseguir. É difícil falar imediatamente após sofrer o golo, que acaba por ditar uma derrota e dizer se estou feliz com alguma situação. Vamos ter a semana para analisar. Neste momento estamos frustrados. Não sinto falta de nada. Provou-se hoje em campo que somos capazes de ser competitivos com qualquer jogador em campo.