Projeto do novo estádio do Neom

Há um novo clube a prometer abanar o futebol da Arábia Saudita

Neom SC quer alterar a dinâmica do poder no país

A Arábia Saudita habituou o mundo, nos últimos anos, a investimentos de grande escala e contratações sonantes. Depois de Al-Hilal, Al-Nassr, Al-Ittihad e outros históricos terem consolidado a sua posição na liga, surge agora novo protagonista: o Neom SC. Um projeto desportivo que pretende revolucionar o panorama futebolístico do país e associar-se a um dos maiores empreendimentos urbanos do planeta.

O clube não é totalmente novo, é herdeiro do antigo Al-Suqoor Club, fundado em 1965. Durante décadas, viveu entre a segunda e a terceira divisões, com breve subida em 2011, antes de cair novamente. O destino mudou em 2023, quando a empresa NEOM, responsável pelo gigantesco projeto urbano com o mesmo nome, se tornou proprietária. A partir desse momento, o clube ganhou fôlego e conseguiu ascender até à Saudi Pro League, principal escalão saudita, onde procura afirmar-se como potência emergente.

A ligação ao megaprojeto The Line, uma cidade linear planeada para o deserto da província de Tabuk, é a face mais futurista da iniciativa. Com 170 quilómetros de comprimento, 500 metros de altura e 200 de largura, o complexo urbano está a ser desenhado para funcionar sem ruas nem automóveis, apostando num sistema subterrâneo de transportes e numa fachada espelhada voltada para o Mar Vermelho. É neste cenário que nascerá o NEOM Stadium, um recinto suspenso a 350 metros de altura, pensado para ser uma das joias arquitetónicas do Mundial de 2034.

O interior do novo estádio do Neom (projeto)

O estádio, que terá capacidade para 45 mil espetadores e acessos apenas por mar ou transporte público, começará a ser construído, em tese, em 2027 e ficará concluído em 2032. Embora a visão impressione, não faltam vozes críticas. Especialistas apontam o risco ambiental e o elevado impacto no carbono por parte do projeto, com alguns a classificarem-no como uma «atrocidade ecológica e moral». A ambição contrasta, assim, com dúvidas sobre a viabilidade e a sustentabilidade do plano.

Dentro de campo, o Neom SC também não poupou esforços para se destacar. Com um investimento de cerca de 90 milhões de euros, construiu um plantel recheado de nomes conhecidos do futebol francês: Alexandre Lacazette, Said Benrahma e Cheick Doucouré foram contratados, juntando-se a jovens promessas como Nathan Zézé (20 anos) e Saïmon Bouabré (19), provenientes de Nantes e Mónaco, respetivamente. A escolha do treinador não é um acaso: trata-se de Christophe Galtier, francês que já foi campeão no seu país por PSG e Lille. Nas camadas jovens, há dois técnicos portugueses, com Sebastião Macias a camandar os sub-17 e Hugo Falcão os sub-15.

A aposta massiva em atletas gauleses faz lembrar um mini-PSG no Golfo, mas com um enquadramento muito distinto: o de um clube associado a uma cidade ainda em construção, símbolo da modernização saudita e do poder financeiro do reino. O desafio será transformar esta visão em realidade desportiva, num campeonato cada vez mais competitivo.

Vista aérea do novo estádio do Neom (projeto)

O futuro do Neom SC é, por isso, incerto, ainda que fascinante. Entre as promessas de arquitetura vanguardista, críticas ambientais e a expectativa em torno da performance de uma equipa recheada de figuras francesas, o clube representa o lado mais ousado do futebol saudita. Para já, o que é certo é que o mundo estará atento ao desenrolar deste projeto.