Segundo melhor pontuador do Sporting na Supertaça de voleibol contra o Benfica em conversa com A BOLA

Galabov: a conquista da Supertaça, a paixão por desportos de combate e por carros

Segundo melhor pontuador do Sporting na Supertaça contra o Benfica, o checo Jan Galabov, de 29 anos, vai para a terceira temporada com os leões e mantém-se como um dos elementos relevantes nas táticas de João Coelho. Está encantado com o clube e a dinâmica deste, que diz haver poucos na Europa assim, e também com as pessoas em torno da equipa. Não é muito de futebol, mas já aprendeu a letra de O Mundo Sabe Que, que toca sempre antes das partidas. Ele e a filha mais velha…

— É a sua terceira temporada em Portugal, no Sporting, e disseram-me que podia fazer a entrevista em português?
— Oh, gostava muito, mas ainda não estou assim tão avançado com a aprendizagem.

— Como está o seu português? Que palavras ou frases pode dizer?
— Tenho tentado praticar com o Duolingo [site e sistema de aprendizagem de idiomas], por isso estou a aprender diariamente, sobretudo coisas bastante básicas. Tento saber sobre comida e outras coisas, como contar e toda a terminologia básica do voleibol. É basicamente isso.

— E é mais difícil português ou checo?
— Penso que ambas as línguas são muito difíceis.

Fotografia Miguel Nunes/A BOLA

Mantivemos mais ou menos a mesma estratégia, que surpreendentemente funcionou nos dois primeiros sets.

— No último fim de semana, o Sporting venceu a Supertaça [3-1]. Foi a quinta do clube, mas a sua segunda, seguida. E, como na época passada, foi novamente contra o Benfica. Desta vez foi mais fácil? Porque, a dada altura, pareceu que se tornou muito fácil para vocês, ainda que seja difícil tornar as coisas fáceis?
— Sim, em primeiro lugar, como já jogamos contra o Benfica muitos jogos e a equipa deles não mudou muito, mantivemos mais ou menos a mesma estratégia, que surpreendentemente funcionou nos dois primeiros sets. Depois, eles também mudaram alguns jogadores, que fizeram alguma diferença durante o jogo. Mas, diria que fiquei agradavelmente surpreendido com todo o resultado, da forma como decorreu o encontro e, no final, muito feliz por termos levantado a Supertaça.

— E no campo, qual foi a diferença?
— Essa é uma pergunta complicada porque, normalmente, estas equipas, Sporting e Benfica, são muito iguais. Nunca se sabe como serão os resultados. Eu estava a sentir-me muito natural, sem qualquer stress todo o jogo, estava a decorrer bem, concentrados nas nossas coisas e a fazer o que era suposto fazermos. Tenho de dizer que o Benfica foi muito forte a defender, tivemos algumas dificuldades no início dos sets. Mas, além disso, não senti nenhuma diferença particular entre a última época, por exemplo, os últimos play-offs e o jogo de agora.

Eu, que sou estrangeiro, estes dérbis não são assim tão sensíveis. Imagino que para os portugueses, especialmente os de Lisboa, criados neste meio, sentem mais as coisas do dérbi contra o Benfica. Para mim, não é assim tanto, de certeza, mas fico sempre bastante feliz quando conseguimos dar a alegria aos fãs

— Este é um dérbi da cidade e até para o país. É muito importante. Existe sempre alguma pressão e entusiasmo, com os adeptos e tudo mais. Já o vive como um dérbi ou é apenas mais um jogo normal que tem de ganhar, mesmo estando cá há três épocas, pois não é português,?
— Compreendo perfeitamente o que está a perguntar. Eu, que sou estrangeiro, estes dérbis não são assim tão sensíveis. Imagino que para os portugueses, especialmente os de Lisboa, criados neste meio, sentem mais as coisas do dérbi contra o Benfica. Para mim, não é assim tanto, de certeza, mas fico sempre bastante feliz quando conseguimos dar a alegria aos fãs e proporcionar-lhes um resultado positivo ao ganhar. Não é que deseje tudo de mau ao Benfica e coisas do género. Trata-se mais de um jogo em que tenho de estar concentrado, tentar vencer e, depois, se ganharmos ao Benfica, é um pequeno bónus.

— Estes clubes são de Lisboa, mas a sua dimensão é nacional. Existem clubes destes na República Checa? Com adeptos pelo país todo, equipas com dimensão nacional fora da sua cidade?
— Diria que não, e há uma razão muito boa isso. O Sporting, em comparação com os clubes checos, é uma organização enorme, que não tem apenas voleibol, tem andebol, basquetebol, futsal, que está num nível incrível no mundo, e especialmente o futebol, que carrega todas as outras modalidades. Trata-se de algo único para o Sporting como organização. Essa é, para mim, a principal razão porque têm tantos adeptos em todo o mundo e que simplesmente não se pode replicar na República Checa, porque não existe um clube como este.

Jogar ao lado de Edson Valencia e Sergey Grankin

Fotografia Miguel Nunes/A BOLA

— Na Supertaça marcou 13 pontos. Edson Valencia 23. Como é jogar ao lado dele?
— O Edson é um tipo que traz sempre uma energia positiva. Provavelmente, nunca o vi de mau humor. Nos jogos está sempre a pedir as bolas, a tentar estar escaldante, o que é extremamente útil. Há também muitos outros que estão a trazer coisas positivas para o nosso jogo, como o central Jonas Aguenier. Gosto muito de jogar com todos. Mas o Edson é especial, é verdade.

— E agora que têm o Sergey Grankin, é possível ver o nível a que a equipa vai crescer. Como tem sido treinar com ele?
— O Sergey é um fenómeno no mundo do voleibol. Tinha seis anos quando ele disputou os seus primeiros Jogos Olímpicos, em Pequim 2008. Nunca pensei poder jogar com ele na minha carreira. É uma experiência incrível. Ainda não treinámos muito, por isso espero conhece-lo mais ao longo da época, Por agora, o que posso dizer sobre o seu carácter passada uma semana é que se trata de uma pessoa muito simpática, amigável, que tenta ajudar a equipa. Vê o voleibol de uma perspética diferente dos outros. Vira tudo de pernas para o ar e observa pequenas coisas que ninguém consegue e é isso que torna os seus conselhos especiais. Também dá os conselhos de uma forma muito simpática, por isso é fácil aceitá-los. Acredito mesmo que iremos melhorar ainda mais com ele.

Fotografia Miguel Nunes/A BOLA

— Quando chegou há três anos, disse que queria melhorar o seu jogo e era uma das razões que o levara a vir para Lisboa. O Grankin vai ajudá-lo?
— Oh sim, de certeza. Não se trata apenas do Sergey, mas de todos os que vêm jogar para o Sporting. Aqui não somos apenas jogadores comuns que vêm jogar mais uma época. Quando se vem para o Sporting existe uma toda a atmosfera com as outras modalidades, como referi sobre a organização, que nos absorve completamente e envolve-nos por dentro. Temos bastante orgulho de cá estar e tentamos apresentar-nos da melhor forma. Tenho a melhor impressão de todos os que estão no balneário e na equipa, estão disposto a ajudar, a evoluir e a dar o seu melhor nos treinos e nos jogos.

Mundial das Filipinas e o sonho olímpico

— Já venceu a Golden League em 2002, e no mês passado ficou a uma vitória de ser bronze no Mundial nas Filipinas. Foi mais difícil perder esse jogo para a medalha [Polónia, 3-1] ou a meia-final contra a Bulgária [3-1].
— O Campeonato do Mundo foi provavelmente o maior evento de voleibol em que participei. A República Checa voltou a disputar um Mundial após 13 anos. Foi realmente um grande passo para nós só participarmos num torneio deste género. Tínhamos objectivos principais para avançar no grupo, que era bastante forte. Tivemos o Brasil, China e a Sérvia. Dissemos a nós próprios que, se conseguirmos passar do grupo, será um bom resultado.

Fotografia Miguel Nunes/A BOLA

— Como com Portugal…
— Sim. Mas depois, sobrevivemos ao grupo e passámos com a faca no pescoço, porque na última partida tínhamos de ganhar à China por 3-0. A seguir talvez tenhamos tido um pouco de sorte no quadro. Defrontámos a Tunísia, que, felizmente para nós, estava um pouco mais baixo no ranking. Tecnicamente, éramos favoritos para o jogo [3-0]. Voltámos a passar e nessa altura já estávamos a escrever um pouco a história. Seguiu-se o Irão, adversário muito forte, do topo do ranking. Mas, entre todas as equipas que ainda estavam a jogar, era a mais fraca. Tínhamos algumas hipóteses. Voltámos a conseguir [3-1]. Não sei como, mas foi uma sensação incrível.

Ficámos entre os quatro finalistas, o que nunca tinha acontecido na história da República Checa. A última vez havia sido há 55 anos, ainda como Checoslováquia.

— Estavam na meia-final.
— Ficámos entre os quatro finalistas, o que nunca tinha acontecido na história da República Checa. A última vez havia sido há 55 anos, ainda como Checoslováquia. É um resultado histórico não só para o voleibol, mas também face às outras modalidades, como o andebol e o basquetebol, que não chegaram tão longe num torneio internacional. Isso trouxe algo de especial para o povo checo.
Seguiram-se os dois últimos encontros, para a medalha. Contra a Bulgária [meia-final, 3-1] foi um encontro quente, incrível, cheio de emoções se não contarmos com o Brasil na fase de grupos, o primeiro que perdemos por 3-1. Só que com a Bulgária foi um pouco melhor em alguns aspectos do jogo. Essa foi a principal diferença. Foi muito difícil para nós naquele momento porque sabíamos que ainda iríamos jogar por uma medalha.

Quando nos apercebemos de que ficámos entre os quatro primeiros do mundo e que há tantas outras seleções que querem chegar a essa posição, não deixa de ser algo incrível

— Sim, se tivessem passado à final teriam sempre uma medalha.
— Continuava a ser extraordinário termos chegado tão longe, mas depois seguiu-se Polónia, que, na minha opinião, é uma das três melhores equipas do mundo. Era alguém contra quem, nessa altura, não conseguíamos competir. O nível dos jogadores era outro. Foi também a razão pela qual perdemos a batalha pelo bronze [3-1]. Naquele momento sentimo-nos um pouco tristes. Tínhamos estado tão perto de alcançar a medalha. Mas, ainda assim, passadas algumas horas, quando nos apercebemos de que ficámos entre os quatro primeiros do mundo e que há tantas outras seleções que querem chegar a essa posição, não deixa de ser algo incrível.

Fotografia Miguel Nunes/A BOLA

— E tem o sonho olímpico?
— O sonho olímpico está cá. Estou sempre a fazer piadas com o Edson Valencia [da Venezuela] porque foi aos Jogos Olímpicos. Disse-lhe que queria ser como ele. E agora também temos o Sergey [Grankin, ouro nos Jogos de Londres-2012, bronze em Pequim-2008 pela Rússia], outro atleta olímpico. Mas é algo muito difícil de alcançar, porque agora, acho, já não há qualificação para o torneio olímpico. Baseia-se no ranking mundial. E há tantas grandes seleções europeias. Temos de estar no top 10 do ranking, o que, para já, está muito longe. Chegar aos Jogos Olímpicos é um sonho muito grande que, provavelmente, nunca se realizará.

O ambiente no Sporting e as modalidades

— Como referi, está na terceira época no Sporting. O que é que o leva a continuar em Portugal, porque o único clube em que esteve mais tempo foi no Dukla Liberec [Rep. Checa]?
— Sim. Sabe, é a relação especial com todas as pessoas daqui. Provavelmente, nunca estive num clube melhor no que diz respeito às condições ao que o Sporting pode proporcionar, como todas as instalações. Isto é praticamente único na Europa. Nunca teremos estas condições em qualquer outra liga de voleibol. Há um número muito reduzido de clubes que o podem fazer. Essa é uma das razões e junta-se a toda a atmosfera, como as instalações e às outras modalidades. Sinto-me muito bem aqui. Outra coisa é o facto de a minha família se sentir muito confortável em Portugal. É um país seguro, tem um bom clima, lugares bonitos, algo que apreciamos muito. Mas também as pessoas de cá. O nosso staff, os seis a oito elementos que estão connosco todos os dias. Nunca vi melhor química entre a equipa e os jogadores e a forma como tudo está conectado. Essa será, provavelmente, a principal razão pela qual vou cá ficar três temporadas.

Fotografia Miguel Nunes/A BOLA

— E ao que é que ainda não se conseguiu adaptar em Portugal?
— Ah, o idioma. Ainda tenho de me adaptar à língua. Desejo mesmo aprender mais, falar mais. É uma língua muito difícil para mim. Estou a aprender umas noções básica, para saber mais ou menos o que se está a passar na conversa. Esse o objetivo. Só que não é realmente a prioridade número um, porque quase toda a gente fala inglês. Não se torna num obstáculo.

— Nasceu e cresceu em Praga. Quão diferente é Praga de Lisboa?
— Na verdade, joguei em Praga entre os 15 anos até quase 18. É uma capital. No que se trata à vida normal, é mais ou menos a mesma coisa, não há assim tantas diferenças. Cidade grande, longas viagens se precisar de ir a algum lado.

— Já referiu, por duas vezes, as modalidades do Sporting. Praticou mais alguma além do voleibol?
— Não pratiquei qualquer outra. Tentei um pouco de basquetebol, mas foi muito no início. Tinha seis anos. Estive lá, talvez, cinco/seis meses, e depois desisti. Sinceramente, não me lembro porquê. E também estive dois meses karaté. Houve períodos muito pequenos na vida em que estava a tentar alguma coisa. Mas como toda a minha família tinha jogado voleibol e havia alguns contactos com treinadores, logo aos 7 ou 8 anos comecei no voleibol.

Hóquei... no gelo e desportos de combate

Fotografia Miguel Nunes/A BOLA

— Se não fosse jogador de voleibol, em que desporto gostaria ser profissional?
— Boa pergunta. Temos um hóquei muito bom na República Checa…

— Hóquei no gelo.
— Sim, hóquei no gelo. É preciso dizer isso. Portanto, temos um bom hóquei no gelo na República Checa. Modalidade com contacto, que adoro. Talvez seja algo de que gostasse, dá-me prazer. Ou então alguns desportos de combate.

— Talvez judo?
— Ahhh, talvez judo...

— Porque o Sporting é muito bom em judo.
— É verdade, vi muitos bons judocas cá a treinar.

— Tem campeões do mundo.
—Sim, campeões do mundo. Talvez pudesse ser judo.

Paixão por carros e motos

Fotografia Miguel Nunes/A BOLA

— E se não fosse um atleta profissional, que profissão gostaria de ter?
— Oh, sou um viciado em gasolina. Adoro tudo o que se relaciona com carros e motas. Gosto mesmo muito de arranjar carros. Por isso, provavelmente, trabalharia como mecânico.

— Mecânico de Fórmula 1?
— Fórmula 1? Quem me dera. É um trabalho bastante excitante. Mas, de um modo geral, qualquer coisa envolvendo carros.

O Mundo Sabe Que

— E costuma ir aos jogos de futebol?
— Na primeira época em que cheguei ia muito, mas, sinceramente, não sou grande fã de futebol. Só queria sentir o ambiente, como é num estádio como este onde há 40 a 50 mil pessoas a assistir aos jogos. É algo que não se vê todos os dias. Mas agora, com o crescimento da minha filha e o nascimento de outra, já não tenho muito tempo para esses eventos desportivos. No entanto, de certeza que se houver outro jogo da Liga dos Campeões, um bom jogo, tentarei ir.

Fotografia Miguel Nunes/A BOLA

— Já aprendeu a canção [O Mundo Sabe Que] que tocam sempre antes no futebol e dos seus jogos?
— Sim, essa lembro-me e sei cantá-la, até porque a minha filha também canta isso quase todos os dias em casa.

— E agora a grande questão: será que é esta temporada  que o Sporting vai ganhar tudo: o Campeonato Nacional, a Supertaça, a Taça de Portugal e a Taça Ibérica?
— Boa pergunta, boa pergunta. Gostava que a resposta fosse sim. Mas, em quantas mais competições se participa, mais difícil se torna conquistar cada uma delas. E, especialmente nesta época, que também vamos disputar a Liga dos Campeões, o que será muito difícil para o nosso calendário. Precisamos ter uma mente muito forte para estarmos realmente concentrados em cada jogo. Independentemente da competição, temos de chegar o mais longe possível e conquistar potencialmente todos os troféus.