Fim da pergunta mais importante

Tantos anos a fazer a mesma pergunta; e que maravilha que é, que maravilha que foi

H Á em mim uma crescente sensação de que não vale a pena. Como se tem dito, é a primeira vez desde 2005 que Messi e Ronaldo não estão nos quartos da Champions e isso, se para jornalistas ou adeptos mais velhos, ou mais novos, talvez possa ser mais suportado, para quem tem 40, como eu, corresponde a uma absoluta sobreposição da carreira.
Um dos primeiros textos que escrevi n’A BOLA foi sobre Ronaldo, ele era juvenil no Sporting e eu tinha começado a trabalhar semanas antes. Um jogo em Óbidos, Sporting-FC Porto. Escrevi que ele fora o melhor, apesar de se ter agarrado muito à bola. Sobre Messi escrevi de longe, exceto numa entrevista em Barcelona, há uns anos.
Vi-os um contra o outro só uma vez, numa meia-final da Champions, no Bernabéu. Nunca vi ambiente como aquele num estádio. Um amor odiado, um ódio amado. Divisão perfeita.
Não virão outros como estes, assim ao mesmo tempo, partilhando toda a carreira. É por isso que vê-los fora dos quartos me transmite a sensação de que não vale a pena, de que agora vai ser tudo pior. Vamos deixar de nos poder chatear com a deliciosa banalidade da pergunta: quem é o melhor, Messi ou Ronaldo? Iremos aos poucos esquecendo também a suposta superioridade da resposta: «Não faz sentido que me pergunte isso.»   Claro que faz sentido. Não pode, aliás, fazer mais sentido, de tão rara a oportunidade.
Não creio que Ronaldo volte a ganhar a Champions. Messi tão-pouco.
Chegou agora o dia em que vou deixar, como jornalista, de fazer a pergunta banal. Vou deixar de ouvir gente que se enfada com a necessidade  de escolha - «Não posso gostar dos dois e pronto?!» -, gente que não entende que essa é, ou foi, uma das mais importantes perguntas da história do desporto.