Fecho de ciclo vitorioso
Marcar cedo é sempre bom e um objetivo que as equipas devem procurar, porque muitas vezes define decisivamente o destino do jogo. Por outro lado, é bom não esquecer, quanto mais cedo se marca, mais tempo sobra para o adversário reagir... Além disso, começar a ganhar logo no início cria também, muitas vezes, a ilusão de superioridade clara e a sensação que o jogo está ganho ou quase, o que frequentemente dá mau resultado.
Em Alverca, o Benfica teve um início forte e pressionante, empurrando o adversário para perto da sua área. Foi nessa primeira fase de ataque posicional que surgiu o ressalto que Schjelderup aproveitou, beneficiando da forte presença atacante na área. A atenção, o acreditar que a bola pode sobrar e o tempo de desmarcação, foram fundamentais para fazer golo em posição legal, contrariando a subida da defesa adversária.
A abertura do marcador premiou um jovem que tem sabido esperar e aproveitar as oportunidades. Com a partida do seu maior concorrente, o jovem ala respondeu afirmativamente e confirmou que o lugar pode ser dele.
O Alverca não se rendeu, tendo ameaçado várias vezes o empate durante a primeira parte. Os dois novos médios do Benfica, mesmo com o reforço pela frente de Barreiro, procuram ainda o melhor entendimento e a mais eficaz transição defensiva que equilibre a equipa atrás. A direita do ataque voltou a ser predominante, com Aursnes, autêntico padrinho do setor, a coordenar a subida de Dedic e a participação de Ríos. Do lado contrário, Dahl e Schjelderup em bom nível, mas sem a proximidade de Enzo, um jogador menos móvel e mais equilibrador. No eixo, embora esforçado, Ivanovic não teve o espaço que procurou, culpa do bom trabalho do trio de defesas-centrais do Alverca.
Na segunda parte, o jogo esteve controlado até à expulsão de Dedic, autor brilhante do segundo golo. Os jogadores têm de ter a noção do perigo que representa um amarelo, especialmente em Portugal, onde o apito é tão fácil. Mais do que criticar o perfil da nossa arbitragem, que não adianta, devemos cuidar do controlo que o amarelado é obrigado a ter para não correr riscos. O Benfica viveu a perigosa inferioridade numérica em dose dupla, em Istambul e Alverca, períodos de risco maior, aos quais sobreviveu com coletivismo, mas que convém evitar.
Gestão atacante
Achei curiosa a expressão que ouvi de alguém, relativamente às equipas que «procuram acomodar» os seus melhores jogadores no mesmo onze, mesmo que para isso se torne necessário alterar taticamente os seus sistemas. A realidade atual de Benfica e Sporting colocam na mesa das opções a utilização simultânea dos seus dois principais avançados. O Benfica já utilizou de início os seus com sucesso, sem a certeza, porém, que a fórmula vá ser permanente. Para essa dúvida contribuem as características do adversário, mas também a qualidade dos médios da própria equipa.
Entretanto, a vinda de Sudakov traz ao Benfica o que se considerava em falta, depois das saídas de Kokçu e Di María, dois jogadores muito diferentes entre si, mas tendo em comum a grande influência na criação e concretização de lances ofensivos. Ambos bons rematadores e capazes de fazer diferença pelo passe, algo que importava repor.
Já o FC Porto, juntou a Samu a experiência de Luuk de Jong. Neste caso, sendo jogadores de perfis muito aproximados serão mais difíceis de coordenar, a não ser em situações de urgência extrema. A verdade é que a época será longa e cansativa, obrigando a alguma rotação dos concorrentes aos desejados lugares no onze. Também as eventuais lesões e castigos justificam os recursos alternativos de qualidade. No entanto, a gestão nunca é fácil, tendo em conta as credenciais dos seis avançados, todos eles internacionais e habituados a jogar sempre.
Florentino
Florentino deixa muitas saudades. Mais do que o requinte técnico de outros, um homem feito no seu clube e com os valores do clube. Sóbrio, equilibrado, simples e, acima de tudo, coletivo. O cúmulo da fiabilidade e entrega. O currículo estatístico de Florentino não reflete o contributo do médio agora transferido, porque vai para além da contabilização de golos e assistências, às quais se dá mais relevo. As áreas percorridas, as bolas intercetadas e recuperadas significam afastar o perigo para longe da nossa baliza, a sua especialidade.
O Benfica tem a sorte, ou teve a arte, de reunir nesta equipa vários exemplos, que juntam a sua capacidade com a simplicidade da sua natureza. Aursnes e Barreiro são, tal como Florentino, unidades preciosas em qualquer equipa, para jogar ou para ajudar no que for pedido. A equipa está primeiro, em vez de cada um.
Mercado
Os grandes clubes portugueses fizeram um mercado sem precedentes neste verão, tais foram os investimentos realizados. As expectativas crescem e os adeptos esfregam as mãos com aquilo que os reforços prometem. Finalmente o extremo canhoto que o Benfica pretendia acabou por chegar, com características que prometem agitar. Agora têm a palavra os treinadores na integração dos novos elementos e estes na sua capacidade de adaptação rápida. Não há tempo a perder e a concorrência aperta.