André Villas-Boas e José Pereira da Costa - Foto: FC PORTO
André Villas-Boas e José Pereira da Costa - Foto: FC PORTO

FC Porto: do abismo financeiro à bonança nas contas em (apenas) 15 meses

Desde maio de 2024 até agora, equipa liderada por André Villas-Boas operou um verdadeiro milagre no universo azul e branco. CFO José Pedro Pereira da Costa é um dos rostos escondidos deste enorme sucesso

Quando assumiu a presidência da FC Porto, em maio de 2024, André Villas-Boas deparou-se com um clube e uma SAD amarrados a dívidas, com salários em atraso, a viver de empréstimos dos associados, completamente fragilizado no mercado e com as receitas de direitos televisivos antecipadas. Se no campo desportivo as coisas não correram de feição na época passada, nos gabinetes toda a equipa que escolheu para tirar o FC Porto do precipício financeiro — mormente o CFO José Pedro Pereira da Costa — conseguiu inverter o rumo das contas, até alcançar a bonança. Meses de intenso trabalho, que deram lugar a um desafogo das finanças que permitiu investir em força no plantel este verão.

Houve iniciativas estruturantes indispensáveis para que o FC Porto saísse do espectro de falência técnica. No arranque do mandato, houve a organização de programa de papel comercial (€12 M a 5%), acrescido do financiamento do presidente (500 mil euros sem juros), iniciativas para incremento de receitas comerciais a custo zero, como a campanha de sócios, lugares anuais, bilhética, corporate hospitality e contenção de custos, nomeadamente salariais, quer ao nível da equipa principal, quer ao nível dos funcionários, incluindo Administração. Processaram-se igualmente fornecimentos e serviços externos com redução expressiva, janela de transferências de verão com receitas significativas provenientes de vendas e empréstimos de jogadores (€59 M fixos e € 20M em variáveis), custos de intermediação reduzidos, movimentos que permitiram o cumprimento do controlo/monitorização da UEFA «Solvabilidade/Overdue Payables» a 30 de junho e a 30 de setembro.

Antes do final de 2024, efetivou-se a conclusão da operação de venda de 30% da Porto Stadco à Ithaka com revisão do valor de 65 para até €100 M, com primeiro pagamento a passar de €40M para €50 M e com opção de recompra do capital. Foi ainda negociada a possibilidade de emissão de dívida com base na Porto Stadco, a operação Dragon Notes (115M€ a 5,6%), dívida com maturidade de 25 anos e sem garantias — operação que permitiu ao FC Porto passar a operar sem dificuldades de tesouraria —, nova emissão de obrigações de retalho 2024/2027 no valor total de €21M. O passivo de curto prazo foi, finalmente, reduzido significativamente, nomeadamente na dívida vinculativa a clubes, que foi totalmente regularizada, bem como a dívida a fornecedores gerais, permitindo o cumprimento do controlo da UEFA a 31 de dezembro. No caso dos fornecedores com mais dívida, foram negociados acordos de pagamento.

Por fim, no início de 2025 (janeiro a março) deu-se a conclusão do mercado de transferência com vendas na ordem dos €111 M e aquisições de apenas €13M, sendo de realçar o facto de o FC Porto não ter necessidade imperiosa de vender para resolver questões de tesouraria. Isso permitiu a André Villas-Boas esticar ao máximo o valor de venda, como foi o caso de Nico Gonzaléz, que saiu pela cláusula de rescisão. Neste período, houve ainda a emissão obrigacionista de retalho 2025-2028, no valor total de €50 M, refinanciando a totalidade da emissão anterior. Operações que possibilitaram cumprir a 100% o indicador «Estabilidade/Football Earnings» da UEFA no exercício 2024/2025, sem considerar a venda dos 30% da Porto Stadco à Ithaka, fundamental para evitar que o FC Porto fique de novo sob alçada do 'Fair-play financeiro'. Estas operações possibilitaram igualmente ao FC Porto efetuar as amortizações da dívida financeira mais onerosa, nomeadamente a de €52 M à Apollo — dívida contratada a 11% juro — e outros financiamentos.

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