Eduardo Quaresma exulta com o primeiro golo dos leões, da sua autoria
Eduardo Quaresma exulta com o primeiro golo dos leões, da sua autoria

Faltou emoção da incerteza mas sobrou certeza da força do leão (crónica)

Meia hora de sufoco total do Sporting ao Estrela da Amadora, feito de pressão alta e jogo de sentido único, com três golos pelo meio, que até podiam ter sido mais. Resolvidos os três pontos, e com a vantagem engordada para um ‘poker’ aos 54 minutos, os leões ‘fecharam a loja’ e trataram de cuidar do jogo de sexta-feira, na Luz

Do ponto de vista estratégico, sabendo o que se aproxima, viagens à Luz e à Allianz Arena, de Munique, Rui Borges pensou bem, e os seus jogadores interpretaram ainda melhor a ideia do treinador: entrada fortíssima, feita de pressão alta de enorme qualidade, que não deixava o adversário respirar, muito menos passar do meio-campo, e aos 25 minutos já ninguém tinha dúvidas quanto ao destino dos três pontos: o Sporting marcara três golos, e o Estrela a única coisa que podia ainda almejar era que a humilhação não fosse demasiada e, quando muito, assinar o ponto na baliza de Rui Silva.

Foi um jogo entre equipas com cilindradas muito diferentes, e nem o 5x4x1 com que João Nuno tentou tapar os caminhos para a baliza de Renan Ribeiro, de regresso a Alvalade, impediu a turma da Reboleira que, perante a avalanche atacante do Sporting, começasse a revelar na defesa mais buracos que um queijo suíço.

Trincão, a jogar entre linhas, em princípio nas costas de Luis Suárez, mas com ordem para percorrer os caminhos que bem entendesse, dinamitou a organização amadorense, e a partir desse desequilíbrio os leões limitaram-se a não deixar jogar e, uma vez recuperada a bola, muitas vezes no terço defensivo do Estrela, a colocar os olhos na baliza com a assumida vontade de resolver tudo depressa.

Valerá a pena focarmo-nos um pouco nesta questão da pressão alta e no seu principal intérprete, Morten Hjulmand, que tinha a responsabilidade de decidir qual era o momento certo para atacar o portador da bola, sendo seguido, em bloco, pela equipa que capitaneia. Aliás, se houver um jogador que seja que não se dê a esta forma de jogar, mais vale optar pela zona, que permite descanso a uns e trabalho redobrado a outros.  

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Mas Hjulmand esteve bem acompanhado, Morita voltou em grande (vale a pena ver e rever o trabalho de pés que fez na assistência para o 4-0 de Suárez), e a defesa, desta feita a beneficiar da profundidade que a velocidade de Eduardo Quaresma lhe dá (enquanto Diomande oferece outra presença física), manteve a equipa junta e apta a ter quem desse sempre linhas de passe. Resumindo e concluindo, até aos 3-0 viu-se um dos maiores sufocos da época, e, acima de tudo, um Sporting mecanizado, oleado e preparado para jogar a alta intensidade. 

João Nuno, aos 33 minutos, ainda trocou um dos centrais (Chernev por Otávio), mas os males eram maiores do que questões individuais. Para se ter uma ideia do que foi o primeiro tempo, o Estrela só rematou (ao lado) pela primeira vez aos 41 minutos, por Lopes Cabral, e teve um remate enquadrado, aos 43 minutos, por Kikas, fraco e à figura de Rui Silva.

Sexta-feira há mais 

Na metade complementar, os leões surgiram com Matheus Reis no lugar de Maxi Araújo que, de cabeça quente, foi arrefecer o sangue uruguaio no duche. Já o Estrela trocou Montóia por Stoica e passou a libertar-se um pouco mais através de um 4x1x4x1 que tinha Ngom a seis e Kikas a nove.

Mas esta maior ousadia do Estrela fez com que o Sporting passasse a sair de trás ainda com maior facilidade e foi numa situação dessas que Suárez chegou ao 4-0, aos 54 minutos.

Esse era o momento em que o árbitro devia ter mandado toda a gente para casa, porque o Sporting, compreensivelmente, baixou a intensidade, começou a poupar jogadores (Hjulmand, Trincão, Fresneda) e a dar minutos a quem deles precisava, com Pedro Gonçalves à cabeça, o jogo descaracterizou-se, partiu-se — o que foi um alívio para os forasteiros, que terminaram em enormes dificuldades físicas — e perdeu a qualidade.

Mesmo assim o Sporting ainda teve duas ocasiões para marcar, uma escandalosa, por Suárez (81), e outra, não tão evidente, por Pedro Gonçalves (90+1); enquanto isso, o lance mais delicado que o Estrela conseguiu foi resolvido, com superior mestria, por Morita (62), não chegando, sequer, a apoquentar Rui Silva.

Se Rui Borges tivesse de escrever o guião deste jogo, não teria colocado nada diferente do que aconteceu, desde o sufoco inicial, aos golos que começaram a aparecer com naturalidade, sem esquecer a possibilidade que teve de gerir o plantel a seu bel-prazer, a pensar, sobretudo, no dérbi da próxima sexta-feira. 

Num jogo em que estiveram em campo dois sportingues diferentes, o primeiro de nível-Champions, a mostrar que não é por acaso que tem 10 pontos na Liga milionária, e outro, mais poupadinho, que jogou o q.b à espera que os 90 minutos se esgotassem sem castigos nem lesões, no final Rui Borges terá ido para casa satisfeito por ter atingido todos os objetivos que delineara; e João Nuno regressou ao José Gomes, por certo, aliviado, porque, mesmo assim, a despesa que teve de pagar ficou muito aquém do que podia ter sido.