«Estamos a perder a maior oportunidade que o andebol já teve»
Nesta parte da conversa, quisemos saber como Paulo Jorge Pereira e Ricardo Costa perspetivam o futuro do andebol português, que atravessa o melhor momento de sempre. Apesar do excelente momento que se vive dentro de campo, com resultados de excelência, tanto um como o outro apontam para um cenário… preocupante. A começar pelo selecionador nacional.
PJP: Para responder a isso é preciso ir lá bem atrás. Em primeiro lugar, o desporto em Portugal tem de ter um valor que ainda não tem. Tenho um tio que mora em Amarante e que me pergunta: 'o que é que tu fazes?'. Ele não sabe o que eu faço como treinador. Não faz ideia nenhuma. Acha que eu pego na bola, dou-a à rapaziada e eles jogam. As pessoas não fazem ideia do que é estar um dia inteiro a preparar um jogo ou um treino. Em Portugal, 90%... 99% das pessoas não faz ideia do que é isto de preparar uma equipa para competir.
O desconhecimento é quase total...
PJP: Por isso é que eu digo que temos de ir lá atrás perceber qual é o valor do desporto em Portugal. E do andebol em particular. Qual é o valor? Quanto é que geramos em termos financeiros para o país? Mas também no plano social: que valor é que gera o andebol para o país? Nós não sabemos. Em Espanha eles têm essas contas feitas e sabem. Em Inglaterra também sabem o contributo para o PIB. Aqui não sabemos quantos postos de trabalho o desporto cria. Se podíamos ganhar mais? Podíamos, se conseguíssemos também o marketing a funcionar. Eu não percebo nada disso, não quero ser impostor, mas sei que noutros países o desporto tem uma visibilidade enorme. E valor gera valor. Nós vemos lá fora os jogadores de andebol a fazerem publicidade a marcas de referência e em Portugal ainda não temos isso.
RC: Estou totalmente alinhado com isto que o Paulo diz. Temos de investir no marketing e na nossa imagem. Temos de ter pessoas na nossa modalidade que trabalhem o produto. Porque o produto é espetacular, é apelativo e nós estamos a fazer a nossa parte. Dentro de campo as coisas estão a funcionar. Precisamos que de fora, alguém vá bater à porta das empresas e venda aquilo que é feito por aquelas caras bonitas que estão dentro de campo. Porque as empresas de certeza que vão achar o produto interessante. Mas temos de lhes ir bater à porta. E se nos disserem que não, temos de insistir. Nós não estamos a fazer isso e estamos a perder a maior oportunidade de sempre que alguma vez o andebol teve. E o tempo corre contra nós.