Editorial: As 100 chibatadas de Ronaldo
Segundo a imprensa iraniana, largamente reproduzida no resto do Mundo, Cristiano Ronaldo incorre numa pena de 100 chibatadas, por ter feito algo que no Irão é considerado adultério: tocar numa mulher solteira.
N. d. r.: a notícia foi entretanto desmentida, conforme se pode ler aqui:
E é verdade, na recente visita do Al Nassr a Teerão, onde defrontou, para a Champions asiática, o Persopolis, CR7 encontrou-se com a pintora Fatemeh Hamami, 34 anos, que tem uma paralisia de 85 por cento e realiza o seu trabalho artístico com os pés, abraçou-a e beijou-a na face, como reconhecimento pela obra que lhe ela lhe ofereceu. Segundo os media iranianos, a sentença será executada na próxima vez que Cristiano Ronaldo for ao Irão, a não ser que se mostre arrependido pelo que fez.
Mas, pergunta-se, arrependido de quê? De ter-se mostrado grato? De transmitir carinho a quem por ele tinha revelado admiração? Por dar expressão a uma artista diferente de todas as outras, capaz de superar limitações e fazer a sua vida, com aquilo que os 15 por cento que lhe restam permite? É evidente que só o facto de esta notícia vir a público reforçará a luta, em particular das iranianas, pela igualdade perdida desde que foi instaurado o regime dos Aiatolás. E o futebol (sem esquecer a coragem dos selecionados iranianos durante o Campeonato do Mundo do Catar) vai cumprindo a sua missão social de criar condições para a igualdade.
Entretanto, na Arábia Saudita, o desporto em geral, mas o futebol muito em particular, estão a ter um papel determinante na mudança, lenta mas segura, de mentalidades. Num país onde as mulheres não podiam, até há bem pouco, conduzir, a Liga Saudita feminina de futebol vai ser transmitida, integralmente, num dos canais estatais de televisão. E mais: estão previstas contratações de jogadoras de primeiro plano mundial, à imagem do que tem acontecido com a versão masculina. Se isto não é uma revolução, enquadrável no plano mais vasto de suavização do regime e de maior integração na comunidade internacional, não sei o que será.
Até 2034, ano em que a Arábia Saudita irá receber o Mundial de Futebol (regressa a versão Novembro/Dezembro), a transformação continuará, e a partir daí não haverá volta a dar. Aliás, graças à sua linguagem universal, o futebol, não sendo panaceia única para os males do Mundo, tem sido um agente de integração e tolerância...