Há um clube em Cascais que nasceu para tirar crianças das ruas através do Râguebi. Ali os sucessos não são medidos apenas em troféus. Reportagem de Adérito Esteves, com imagem de André Carvalho

Do berçário ao Benfica, sempre de mão dada

Tomás Picado e Belo Fonseca são os melhores amigos desde os três anos e fizeram o percurso no râguebi sempre lado a lado

Tomás Picado e Belo Fonseca não são gémeos, mas falta-lhes pouco. Nasceram com quatro dias de intervalo, mas não se lembram da vida um sem o outro. Conheceram-se aos três anos e nunca mais se largaram. No Jardim de Infância, em todas as escolas, no râguebi da ERG, no Benfica e em todos os principais eventos da vida um do outro.

Desde logo, o facto de um andar no râguebi foi razão para puxar o outro para lá também. «O Belo já era o meu melhor amigo e já andava no râguebi. No ATL puxavam-nos muito para isso e eu chateei a minha mãe até ela me deixar entrar. E depois foi um amor à primeira vista. Tínhamos um campo de cimento, mas desde o primeiro dia tive uma conexão instantânea. Senti logo que estava em casa», revela Tomás, deixando os maiores elogios ao melhor amigo.

«Eu e o Belo somos unha e carne. Quando me veem a mim veem sempre o Belo também porque andamos sempre juntos. Andámos no mesmo jardim de infância, nas mesmas escolas, fomos para o Benfica juntos. E fazer a minha vida ao lado daquele rapaz é incrível, porque ele é a melhor pessoa que eu conheço. Todas as pessoas deviam ter um Belo na sua vida», resume, sorridente.

Confrontado com os elogios do amigo, Belo dá uma gargalhada tímida. Mas retribui. «Já são muitos anos a aturar o Tomás. Conhecemo-nos no jardim de infância aos três anos e andámos sempre juntos desde então. Complementamo-nos muito. Eu sou mais calmo e introvertido e ele mais extrovertido. É uma pessoa que sempre me apoiou muito e que me conhece de trás para a frente. Nem precisamos de falar porque uma troca de olhares permite-nos saber o que o outro precisa. E ter alguém ao nosso lado a acompanhar-nos sempre ao longo de um percurso facilita muito», reconhece.

Conciliar o Benfica com uma fábrica de azeites e o sonho dos Sevens

A origem humilde, o exemplo da mãe e os ensinamentos da Galiza deram a Belo a consciência da necessidade do trabalho. Depois dos primeiros anos no antigo bairro de lata do concelho de Cascais, Belo e a família foram realojados no bairro da Adroana, onde ainda hoje moram.

Belo representa o Benfica depois de ter sido formado na ERG

Mas essa casa foi a única coisa que receberam. E têm feito para dar em troca. Além do râguebi. O filho do meio de Maria tirou um curso de Gestão de Recursos Humanos. E depois de ter optado por não seguir na empresa de segurança onde fez o estágio para se focar no râguebi, Belo não deixou de trabalhar. Mesmo na época passada, a segunda ao serviço do Benfica, o jovem de 24 anos conciliou a atividade nos encarnados com um emprego numa fábrica de azeites em Sintra.

«Enquanto posso, quero dedicar-me ao râguebi. Não é fácil viver apenas do râguebi. Esta época conciliei o Benfica com uma fábrica em Sintra. Treinava de manhã, à tarde ia trabalhar, e voltava para os treinos da noite. É preciso disciplina. Porque também é preciso comer bem, descansar», nota.

Ainda assim, e a recuperar de duas operações, uma ao joelho e outra ao ombro, Belo Fonseca tem os objetivos bem definidos.

«O râguebi é a minha felicidade», atira. Mas nem precisava de o dizer. Basta ver-lhe o sorriso cada vez que a conversa converge para o desporto da bola oval. «Adormeço e acordo sempre a pensar no râguebi. E o meu objetivo é chegar à seleção de Sevens», confessa.