«Diogo Costa parecia um astronauta quando apareceu! Cotoveleiras, joelheiras...»
Adílio Pinheiro parecia já estar a contar com o contacto de A BOLA. «Eu sei que o Diogo vai fazer 200 jogos, ando sempre atento aos nossos miúdos», afirma, ao ser informado da marca redonda do guarda-redes. «Ele tinha tudo para ir longe, mas daí a fazer 200 jogos num clube como o FC Porto... Eu imaginava-o a chegar a um Aves, ou assim», admite o primeiro mentor do internacional português nos Pinheirinhos de Ringe, onde Diogo Costa, com apenas seis anos, deu os primeiros passos no mundo do futebol.
«Começámos a notar ali alguns pormenores. Ele não queria ser guarda-redes, era um matulão em relação aos outros miúdos. Tinha um pontapé forte... No centro da Vila das Aves andava a partir montras», solta, entre risos. No entanto, o recuo de Diogo até à baliza estava destinado. «Comigo sempre foi assim. O ponta de lança de hoje, pode ser guarda-redes amanhã. Naquele ano tínhamos uma boa equipa, o Vitinha também lá estava. E dava-me jeito ter o Diogo na baliza», conta.
O agora capitão do FC Porto não gostou da mudança. «Eu e ele fizemos um acordo. Fazia meio jogo na baliza e outro meio à frente. Chegámos a fazer torneios em Santo Tirso em que ele foi o melhor marcador mesmo começando a guarda-redes!», recorda, saudoso, o senhor Adílio.
Mas o que levava Diogo Costa a rejeitar a posição que, anos mais tarde, faria dele uma referência à escala planetária? «Ele não queria atirar-se para o chão. 'Se te conseguires meter à frente das bolas, ótimo. Nem precisas de te sujar', disse-lhe. Quando não conseguires, aí vais ter de te safar», avisou o treinador de então, hoje com 74 anos. O aprendiz de guardião lá ganhou coragem e, no dia seguinte, primou na indumentária: «Parecia um astronauta quando apareceu! Cotoveleiras, joelheiras... Começou a ganhar gosto e acabou por fixar-se na baliza». Foi o ponto de viragem.
A partir daí, como se diz na gíria, o resto é história. «Muito trabalho, muita canseira da família... Antes de o Diogo ir para o FC Porto ainda chegou a jogar numa equipa do Benfica da Póvoa de Lanhoso. Mas eu cheguei a um acordo com o FC Porto para mandarem uma carrinha que apanhasse o Diogo, o Vitinha e mais uns miúdos. Saíam daqui de manhã e, ao final da tarde, chegavam com a escola e os treinos feitos», lembra Adílio Pinheiro, incapaz de esconder o orgulho que sente por ver os «rebentos» de outrora vingarem ao mais alto nível. «Já se sabe como é. Trabalho, humildade... Mas às vezes não acontece. Costumo dizer que, como o Diogo e o Vitinha, há um em 500 mil. Mas connosco até foram dois», remata.