Bino Maçães antecipa Euro Sub-17: «Temos de estar no topo»
Depois de pendurar as botas que o acompanharam durante uma carreira de 20 anos como jogador que incluiu passagens por Alvalade e pelo estádio das Antas, Bino Maçães aventurou-se nos bancos de suplentes em 2010.
Quinze anos depois, o técnico vai comandar a equipa das Quinas no Europeu Sub-17. Albânia (19 de maio), França (22) e Alemanha (25) são os primeiros adversários de uma campanha que vai suceder ao segundo lugar conquistado no ano passado por Rodrigo Mora, Quenda e companhia.
Entre lamentos da redução da convocatória e comparações entre o passado e o presente, destaca-se o sonho de conquistar a Europa.
-Estabeleceu algum objetivo mínimo para a campanha no Europeu?
-O objetivo prioritário é o primeiro jogo contra a Albânia e depois passarmos a fase de grupos. Queremos apurar-nos para as meias finais. A partir daí veremos quem é que serão os nossos adversários e pensaremos no futuro. Pode cair para qualquer lado. Temos que estar no topo. É muito difícil termos desempenhos tão consistentes durante cinco jogos.
-A caminhada na fase de qualificação sem qualquer derrota acrescenta responsabilidade?
-Houve equipas que também tiveram apuramentos nos quais ganharam os três jogos. É interessante percebermos que nestes três jogos conseguimos, com adversários a jogar de formas diferentes, dar boas respostas e ganhar... os miúdos tiveram mérito. O apuramento é muito interessante para as carreiras deles, mas não nos dá mais do que isso. Eventualmente até pode ser pior, porque os nossos adversários vão estudar-nos melhor. O que fizermos daqui para a frente é o que nos vai valorizar.
-Qual é o ambiente que se vive no seio da seleção?
-O ambiente é sempre muito bom e nós temos vindo a crescer, temos vindo a ficar cada vez mais fortes enquanto grupo de trabalho. No último apuramento, por exemplo, notou-se a força, a dedicação e a ligação que eles vão tendo. Estamos otimistas quanto ao futuro.
-O quão difícil foi cortar dois jogadores da convocatória antes da partida para a Albânia?
-Só 20 podem ir à Albânia. É talvez o pior momento do estágio, quer para os jogadores, quer para o treinador. Como jogador passei por estas situações e sei que é muito doloroso. Isso aumenta a nossa responsabilidade de mostrar que os que estão aqui têm qualidade para representar Portugal e que o vão fazer da melhor maneira. Se houver alguma lesão neste processo já temos pelo menos dois jogadores familiarizados.
-Ainda há o Campeonato do Mundo...
- Até nisso eles não se podem portar mal (risos) porque depois há a expectativa de poder estar no Mundial. É sempre doloroso ouvir que não se vai ficar. O mundo não acaba aqui, há jogadores que não vieram às seleções e que acabam por ter sucesso. Não há um só caminho. Não foi agora, mas há a probabilidade de estarem no Mundial se trabalharem bem.
-O facto de muitos atletas jogarem um escalão acima é benéfico?
-Notamos a diferença entre quem está nos sub-17 e quem está nos sub-19. Nos sub-17 se tens qualidade, torna-se mais fácil ganhares e fazeres as coisas bem. A exigência não é tão grande porque os adversários não te vão criar tantas dificuldades. Quando estás no patamar acima tens que te superar. É na superação que vamos crescendo e ganhando mais consistência no rendimento. Notamos que o crescimento é mais acelerado nesses jogadores.
-O segundo lugar no Europeu do ano passado acrescenta responsabilidade?
-É fonte de inspiração. Portugal tem trabalhado bem nos últimos anos, quer em sub-17, quer em sub-19, tem sempre presenças assíduas em grandes competições. É sinal que estamos a trabalhar bem. Podemos atingi-lo sem a obrigação de o fazer. Dá-nos uma grande vontade de querer superar e poder eventualmente chegar à final. Para já, os nossos pés estão muito assentes no chão, é a Albânia que é fundamental. Depois teremos tempo.
-Como avalia o potencial da geração que comanda?
-Temos jogadores com características diferentes nos vários setores que podem fazer carreiras bonitas. Que no futuro os possamos ver todos pelo menos na Liga e aqueles que tiverem potencial para irem mais acima, melhor ainda. Há uma série de fatores que pode fazer com que os jogadores tenham sucesso ou não.
-A Seleção sub-17 de 2024 contou com vários talentos que, um ano depois, são peças chaves em equipas seniores...
-Temos aqui jogadores nesta geração que podem chegar a patamares superiores. Não gosto de comparar gerações. Muitas vezes aposta-se nos jovens também por necessidade, porque não têm dinheiro ou porque as coisas não estão a correr bem. Sempre que esses jogadores têm a primeira oportunidade, agarram-na e conseguem fazer as coisas bem há uma continuidade. Se não a agarrarem mesmo tendo esse potencial muitas vezes voltam outra vez a ter que baixar e a voltar a um patamar inferior.
- Quais são as principais diferenças desta geração para aquela que representou no Campeonato do Mundo sub-17 de 1989?
-São completamente diferentes. A desvantagem é que os miúdos são mais egoístas, não são tanto de grupo, de partilhar, até porque estando com um telemóvel sentados numa cadeira não precisam de sair para lado nenhum. O convívio que tínhamos, as brincadeiras, levavam-nos a que fôssemos um grupo mais forte, mais consistente em termos de ligações. É um bocadinho a nossa luta, hoje temos algumas regras para a utilização do telemóvel para que eles percebam que quando estão em grupo podem estar em convívio.
-A Seleção já estará em estágio na Albânia quando Benfica e Sporting entrarem em campo na última jornada. Vão acompanhar?
-Quando eles estão no quarto deles a ver o jogo, é o mundo deles e não me quero meter, devem desfrutar. A partir desse momento, foco na Seleção. A nossa missão enquanto selecionadores é podermos ver, porque são jogos muito interessantes. Vemos esses jogos no sentido de podermos aprender, que táticas utilizam, no que é que os treinadores mexem. Isso para mim é o que é enriquecedor, é naquilo que eu me foco mais, independentemente de quem ganhe.