Pavlidis ficou em branco no dérbi
Pavlidis ficou em branco no dérbi

Benfica demorou muito a acordar, mas quando o fez mandou no jogo

Nenhum saiu feliz com o empate, mas, depois de um início de grande superioridade leonina, o Terceiro Anel empurrou as águias para uma exibição consistente, que obrigou o rival a ‘cautelas e caldos de galinha’. A equipa de Mourinho esteve mais perto da vantagem até à expulsão de Prestianni, depois o Sporting voltou a querer ganhar, mas faltou-lhe tempo...

Estavam jogados 24 minutos e 25 segundos, o Sporting vencia por 0-1 desde os 12, o Benfica padecia de uma apatia absoluta, e o Terceiro Anel fartou-se. Há perder e perder, e perder sem dar luta não faz parte do léxico encarnado. Por isso, face à ausência de agressividade perante as trocas de bola da defesa dos leões, ouviu-se na Luz uma vaia monumental, que serviu de despertador aos jogadores do Benfica. Imediatamente Ríos e Pavlidis pressionaram, com ‘ganas’, Dahl e Barreiro secundaram-nos, e os leões perderam a bola. Esse foi o momento em que o jogo verdadeiramente mudou, não deixando de ser verdade que o golo de Sudakov, aos 27 minutos, ajudou a dar confiança aos de encarnado e a tirá-la aos de verde. 

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Mas até ao minuto 24’25’’, os bicampeões nacionais passearam-se no relvado da Luz, dominando as operações a seu bel-prazer, e para tal bastou-lhes duas coisas: a primeira foi impedir linhas de passe ao Benfica nas saídas de bola; a segunda foi apostar no erro do adversário, trocando pontualmente, sempre que lhes cheirava a ‘sangue’, a defesa zonal a 30 metros das redes de Trubin, por uma pressão alta que viria a mostrar-se letal para os donos da casa.

E até nem foi ao primeiro erro (quando, aos três minutos Sudakov deu uma bola ‘queimada’ a Aursnes, que foi desarmado por Suárez, dentro da grande área, valendo à equipa de Mourinho uma grande defesa do seu guarda-redes ucraniano) mas ao segundo, aos 12 minutos, quando Trubin passou a bola, de forma displicente, a Barrenechea, que quando se quis virar foi imediatamente cercado por Hjulmand, que recuperou o esférico, endossando-o de imediato a Pedro Gonçalves.

Este, com um ‘penálti em andamento’, colocou muito justamente os leões na frente do marcador. E até ao ‘despertador’ do Terceiro Anel ter tocado, só deu Sporting, ficando no ar a ideia de que estávamos em presença de duas equipas em muito diferentes estádios de maturidade. 

TÁTICA E DINÂMICA 

Benfica e Sporting apresentaram na Luz os seus figurinos habituais, talvez mais cauteloso Mourinho ao preencher o meio-campo com Aursnes, Barreiro e Sudakov, deixando Prestianni e Schjelderup de fora das contas iniciais. Rui Borges, por seu turno, também tomou alguns cuidados, por exemplo ao começar a defender muito mais atrás, ao invés do que, por exemplo, tinha feito com o Estrela da Amadora. Portanto, como a diferença não esteve na tática, o que importou realmente para a história deste dérbi foi a dinâmica, e nesse particular, quem mais contribuiu para a melhor fase do Benfica – grosso modo dos 25 minutos aos 90+2, quando Prestianni foi expulso, foi Richard Ríos, que assinou a melhor exibição desde que veste de águia ao peito. Foi quase sempre bem secundado por Dedic, enquanto que do outro lado Sudakov só começou a libertar-se de Fresneda quando as movimentações rápidas dos encarnados começaram a abrir brechas na muralha leonina, e o lateral espanhol teve de ajudar a apagar alguns fogos longe de Sudakov

Quando o intervalo chegou, o resultado era justo, praticamente meia parte para cada um tinha valido um golo a Benfica e outro a Sporting. 

MAIS BENFICA 

A metade complementar trouxe mais Benfica, ou seja, incidindo especialmente em Diomande, que denotou dificuldades na saída de bola, os encarnados deram a provar aos leões o veneno que estes tinham utilizado, e dessa superioridade, que teve também a ver, além de Ríos e Sudakov, do regresso de Aursnes à sua carburação normal e de Barreiro à chegada à área e à pressão, resultaram alguns momentos que Rui Silva resolveu bem – remates de Pavlidis (62), Aursnes (64) e Sudakov (65), sem que houvesse reação declarada do Sporting, que só viria a beneficiar o primeiro canto na segunda parte aos 90+1.

O Benfica, a perceber que podia chegar aos três pontos, esteve muito perto de marcar aos 74 minutos, quando, após um livre de Sudakov e um cabeceamento de Ríos, Suárez tirou o ‘pão da boca’ a Barreiro que se preparava para gritar golo; e sete minutos depois, através de Ríos que, com um pontapé-canhão de pé esquerdo, falhou por muito pouco o alvo.  

O jogo entrou então numa fase quezilenta, que cortou ritmo à partida, e aos 81 minutos Mourinho jogou uma cartada ofensiva – Sudakov por Prestianni – trocando de ponta de lança quatro minutos depois, na mesma altura em que Rui Borges, que à hora de jogo tinha lançado os juniores Quenda (Pedro Gonçalves) e João Simões (Morita), o primeiro para dar mais profundidade à esquerda, o segundo para refrescar o meio-campo, resolveu, sem mudanças táticas, dar mais pulmão à equipa,  com Alisson e Ioannidis, aos 85 minutos. Mas o jogo já tinha decaído e não era difícil vaticinar que o Benfica, se não tinha conseguido ganhar na altura certa, dificilmente o faria na reta final, quando Manu foi ainda render Barrenechea (esgotado), acontecendo então, aos 89 minutos, o lance que mudou os minutos finais.

Uma entrada imprudente de Prestianni, por trás, sobre Catamo, foi sancionada por António Nobre com cartão amarelo, que o VAR reverteu em vermelho. Faltavam jogar seis minutos e Mourinho viu-se forçado a passar Ivanovic para a esquerda, ficando Leandro Barreiro a ponta-de-lança, num 4x4x1 pensado para travar a investida final dos leões. Estes, apesar do domínio territorial que recuperaram, não voltaram, contudo, a apoquentar Trubin. Um ponto para cada um deixou o campeonato em aberto – ainda há muitos jogos pela frente – mas pode devolver conforto a um FC Porto saído de uma noite amarga com o Vitória de Guimarães.