Rui Borges assumiu que a equipa não teve energia na segunda parte - Foto: Miguel Nunes
Rui Borges assumiu que a equipa não teve energia na segunda parte - Foto: Miguel Nunes

Falta de energia, os conselhos da almofada e as contas do título: tudo o que disse Rui Borges

Treinador do Sporting puxou dos galões quando questionado sobre o porquê de os leões continuarem sem conseguir vencer nos jogos contra grandes: «É uma narrativa vossa. Desde que cheguei ainda não perdi fora...»

- O Sporting foi melhor nos primeiros 25 30 minutos e podia ter resolvido o jogo nesse período, depois caiu na segunda parte. O que se passou?

- É algo que temos de analisar com mais calma. É certo que na primeira parte, no cômputo geral fomos melhores, podíamos ter feito o 2-0 nalgumas situações de finalização, o Benfica na primeira parte tem dois lances, o do golo e depois um cruzamento na nossa área, cresceram ali um bocadinho com ajuda do público depois do golo, fomos falhando um ou outro passe, perdemos equilíbrio, no finalzinho da primeira parte conseguimos novamente ter bola. Na segunda parte o Benfica melhor no sentido de conseguir ter mais bola, nós não conseguimos tê-la, falhámos muitos passes, não estávamos com energia tão boa como na primeira parte, mesmo com uma ou outra nuance diferente do Benfica, que estávamos preparados para elas, fomos perdendo ali alguns timings de pressão, algumas más leituras de pressão e de posicionamento táticos, deixámos o Benfica empurrar-nos para trás, tentou acelerar o jogo e teve ajuda do público, a energia que passa de fora para dentro. Na segunda parte melhor o Benfica com bola, sem nos criar grande perigo, nós falhámos mais passes e mais leituras de pressão que queríamos, mas o futebol é isso. Notou-se claramente que a energia da equipa caiu um bocadinho, de forma geral, e quem entrou falhou um outro lance, não ganhou a confiança correta, foram crescendo com o tempo.

- Sai daqui satisfeito com o empate? Em matéria de campeonato como ficam as contas tendo em vista a conquista do tri?

- A minha confiança é total. Já disse que este jogo não decidia nada, independentemente do resultado, não decide o campeão nacional, falta muito jogo, há muito ponto para ganhar. Não saio satisfeito poque queria ganhar, queria que a equipa tivesse feito mais na segunda parte, tentar perceber o porquê de não o conseguirmos, às vezes mérito do Benfica outras demérito nosso, não estávamos tão proativos, notou-se claramente que a energia não estava igual, de forma coletiva, por isso, satisfeito não saio, queria muito ganhar.

- Já falou várias vezes da falta de energia, deu sensação de que a equipa quase ficou resignada com o empate.

- Não estávamos resignados com o empate, longe disso, não estávamos era a ser capazes, tenho de falar com o grupo quando dissecarmos o jogo para perceber o porquê da quebra de energia, que foi muito coletiva. Tentámos refrescar, era natural termos de descansar o Pote [Pedro Gonçalves] aos 60 minutos, Morita tinha amarelo, o Pote com algum cansaço acaba por perder movimentos ofensivos de lateral, Morita já tinha que vir às coberturas, tentámos refrescar, Quenda e [João] Simões são dois miúdos com muita irreverência e energia, só que logo naquele primeiro momento não entraram muito bem, criaram ali alguma ansiedade, não ajudou no sentido que achávamos que ia ajudar nessa batida inicial, depois foram melhorando. O Benfica do outro lado mais agressivo em duelos, fomos perdendo alguns, mas mais do que isso foi em termos táticos falharmos pressão na saída do Benfica, com o Barrenechea a criar com três à esquerda, algo que fazem muito e tínhamos identificado claramente, faltou-nos melhor leitura. Sem o Benfica nos criar grande perigo naquilo que era a qualidade de jogo, tinham mais energia do que nós e o que recebiam de fora para dentro, vindo da bancada. É algo que temos de ver o que poderíamos ter feito de melhor forma.

- A haver um vencedor, na sua opinião, quem seria? Que comentário lhe merece a arbitragem?

- Não vou comentar arbitragem. Por honestidade digo que o empate acaba por se ajustar ao que foi a primeira e segunda parte.

- Trincão ficou tocado e desapareceu um pouco do jogo. Porque não mexeu logo na equipa?

- Tirar o Trincão ao intervalo por causa de uma pancada? Não! Não foi por aí, foi muito coletivo, não foi só o Trincão. Começámos a falhar mais passes, os dois médios não estavam com energia da primeira parte, mas é o que é, não podemos mexer em todos. Não fomos capazes de voltar a ser o que tínhamos sido na primeira e é isso o que nos identifica depois para a capacidade técnica individual. Tentámos mexer em jogador que tínhamos de mexer naquele momento, até com miúdos irreverentes e com energia muito própria, mas mesmo assim não fomos capazes de voltar a ser aquilo que tínhamos sido na primeira parte, umas vezes mérito do adversário, outras demérito nosso, mas o jogo é isto, não vamos estar sempre 90 minutos muito bem, jogámos contra uma boa equipa.

- Na antevisão ao jogo disse que ia ver o que a almofada lhe dizia sobre a equipa a apresentar na Luz. Como tomou decisão de trazer Ioannidis e o que esperava que ele trouxesse?

- Dá-nos coisas boas. Sabíamos que não estava capacidade de fazer muitas coisas, não pela lesão, mas pela paragem. quando falei na antevisão era algo que tinha de perceber com ele também, treinou, disse como se tinha sentido, ouço muito, gosto muito de falar com os jogadores, quero percebê-los, foi por aí. Como é que o senti esta noite? Não dormi com ele [risos]. Senti-o bem, confiante, queria muito ajudar a equipa. É jogadores destes que definem um grupo e uma equipa de futebol, a vontade dele querer ajudar a equipa, a personalidade dele e o caráter é extraordinário, no que é a resiliência e a capacidade de recuperação, surpreendeu muito no que foi o combater a lesão, quando esperávamos que viesse ao fim de seis semanas e, de repente, aparece ao fim de três, ele merece que se enalteça isto.

- Falando dos jogos grandes, o Sporting voltou a não conseguir vencer, apesar de alguma superioridade. Como justifica isso?

- Isso é uma narrativa vossa. Não vou por aí. Vou dizer os jogos da Champions, depois dizem 'Ah mas ganhou ao Marselha porque tinha dez, contra o Brugge tinha de ganhar, mas no ano passado não ganhámos; empatámos com a Juventus', vão sempre buscar a narrativa que vos interessa, a mim preza-me dizer que desde que estou no Sporting ainda não perdi fora de casa. Não me importo em perder os jogos grandes e ganhar todos os outros, sou campeão nacional.

- Muito se falou sobre a escolha Quenda ou Pedro Gonçalves, o que o levou a apostar no segundo? Quenda não podia ter dado outro resultado no bom arranque de jogo que o Sporting teve?

- São suposições. Pote entrou, jogou bem, fez golo. Foi uma decisão minha, são jogadores diferentes, naquilo que era a estratégia do jogo, faria mais sentido o Pote. Até porque antes de se lesionar estava a ser o melhor jogador do Sporting, por isso, nesse sentido não era difícil decidir. No que foi o tempo do Pote em campo deu muita qualidade ao processo ofensivo, não mudava na mesma.

- O Sporting na segunda parte não faz nenhum remate. O que é que ainda falta para dar um passo a cima nestes jogos grandes?

- Mas porquê nestes jogos? É uma narrativa vossa. São adversários competitivos, mais agressivos. Na Supertaça fomos melhores e perdemos, com o FC Porto sofremos dois golos em cinco minutos, o futebol é isto, momentos específicos. Não ganhámos, mas fizemos de tudo para ganhar.