Maxi, Catamo, Trincão e Suárez festejam golo do colombiano (Foto: MIGUEL NUNES)
2.º: Sporting (33,18 milhões de euros - 15,51% do total da Liga) - Foto: Miguel Nunes

Belgas marcaram três em cima e foram esses três que marcaram (crónica)

Club Brugge optou por marcações cerradas (à anos 80), a Quenda, Suárez e Trincão e o Sporting venceu com segurança com golos de Quenda, Suárez e Trincão. Dez pontos e oitavo lugar com as portas escancaradas para a fase seguinte

Noite em cheio para o Sporting. Bateu o Club Brugge por claro 3-0 e, pela primeira vez esta época, não sofreu golos na Champions. Rui Borges afirmou que não era um jogo-chave, mas talvez o fosse mesmo, pois a seguir aos belgas vinham os poderosos Bayern (fora) e PSG (casa). Os leões somam agora dez pontos e, com quatro de avanço sobre o 24.º classificado, a ideia que fica é que as portas estão escancaradas para seguir em frente. Se direta ou indiretamente, logo se verá. Há um ano, nos últimos três jogos, só houve uma troca entre os primeiros 24: caiu o Dinamo Zagreb, subiu o PSG.

O Club Brugge entrou em Alvalade como se estivesse ainda nos anos 80, com marcação cerradíssima a muitos dos mais perigosos homens do Sporting: Ordóñez com Suárez, Onyedika com Quenda e Mechele com Trincão. Só Catamo, encostadinho à direita, não andava relativamente livre.

O Sporting demorou alguns minutos a entender qual a melhor forma de livrar-se deste inusual homem-a-homem, até porque, nos primeiros 15 minutos, os belgas andaram sempre muito perto de Rui Silva. E de repente, ao minuto 9, as mais de 41 mil pessoas presentes no estádio ficaram mudas: cartão vermelho a Morten Hjulmand, num lance aparentemente inofensivo. Porém, o VAR chamaria o árbitro alemão e este recuou e transformou o vermelho num simples, mas sempre perigoso para um médio-centro, cartão amarelo.

Pouco depois, por fim, o Sporting percebeu qual a forma ideal para fugir às marcações sobre os seus jogadores mais criativos: velocidade e mobilidade. Trincão recuava, Suárez passava a jogar nas zonas do esquerdino e Quenda tornava-se num pequeno vagabundo. E tudo mudou, de forma radical, ao minuto 20, quando Onyedika viu o cartão amarelo por falta sobre o endiabrado Quenda. Logo a seguir, na sequência da jogada, Catamo rematou ao lado. O jogo invertia-se pouco a pouco. O que era dominância do Club Brugge passou a ser dominância do Sporting.

O primeiro sinal de verdadeiro perigo surgiu pouco depois, por intermédio de Suárez, num remate à entrada de área, com o guarda-redes Jackers a desviar com alguma dificuldade. O Sporting crescia e o Club Brugge, talvez embaraçado naquela tripla marcação à anos 80, abria espaços por onde entravam os velozes e virtuosos leões. Até que, aos 24’, Trincão simulou que ia para a esquerda e foi para a direita, Fresneda optou por um passe vertical para a entrada de Catamo e este entrou da direita para o meio, rematando para o desvio incompleto de Jackers. A bola parecia perdida, mas Quenda viu-a bem à sua frente, rodopiou sobre si próprio e rematou para o merecido primeiro golo. Jogada brilhante, golo brilhante.

O Club Brugge sentiu o golo. O Sporting também. E foi explorando as debilidades do adversário e aquelas estranhas (e inofensivas) marcações a Suárez, Trincão e Quenda. Os marcadores iam atrás destes três e, assim, estavam constantemente desposicionados, abrindo espaços para as entradas de diversos leões. E aos 31’, enorme buraco na defesa belga, muito bem explorado por Gonçalo Inácio, metendo a bola em Catamo, com este a isolar Suárez frente a Jackers, com o colombiano a não falhar e a aumentar a vantagem do Sporting: 2-0.

Até ao intervalo, o Sporting quis apenas controlar o jogo e descansar com a bola em seu poder. E, quando o descanso chegou, havia duas certezas. Os leões estavam a jogar bem e tinham alcançado algo que há mais de quatro anos não conseguiam: marcar dois ou mais golos até ao intervalo de um jogo de Champions. A última vez fora no 3-1 ao Dortmund, a 24 de novembro de 2021, com Pedro Gonçalves a marcar aos 30 e aos 39.

O intervalo, porém, fez muito mal ao Sporting. Suárez ainda teve possibilidade, logo aos 49’, de marcar o terceiro golo, isolado (melhor: isoladíssimo) frente a Jackers, mas a bola foi ao poste esquerdo. O leão, mesmo com este quase 3-0, regressou lento e sem conseguir ter bola, o que, juntando ao facto de o Club Brugge ter abdicado de duas das três marcações cerradíssimas (só Ordóñez continuou de olho em Suárez), transformou o jogo e colocou-o a pender, de forma clara, para o lado belga. O jogo, entre os 45 e os 65, foi igualzinho ao que fora entre os 15 minutos do primeiro tempo: Club Brugge por cima e Sporting a sofrer. E, neste arranque da etapa complementar, o Sporting sofreu muito. Sem que Rui Silva tenha sido colocado à prova, sim, mas com a equipa muito recuada e, sobretudo, sem bola.

Rui Borges, apercebendo-se da quebra coletiva, decidiu mexer e dar mais frescura ao meio-campo: João Simões por Morita. A melhoria não foi imediata. Aliás, a melhoria do jogo coletivo apenas se deu quando Francisco Trincão, após bela jogada de Quenda pela esquerda, fuzilou a baliza de Jackers, num remate cruzado. Jogo fechado aos 70’, com o 3-0 dos leões. Pouco depois, o treinador dos leões voltou a mexer, desta vez refrescando as alas: Catamo e Quenda por Alisson e pelo estreante Blopa.

Sporting e Club Brugge limitavam-se agora a esperar pelo apito final do árbitro alemão. Rui Borges, pertinho do fim, ainda trocou Suárez por Rodrigo Ribeiro e Maxi Araújo por Matheus Reis. Fim do jogo: dez pontos e oitavo lugar para os leões. Portas escancaradas para, pelo menos, ir ao play-off da Champions.