«Autogolo», um jogador «intocável» no Sporting e Benfica «cada vez melhor» - tudo o que disse Mourinho
— Faça uma análise a um jogo que, não sei se concorda, teve duas partes distintas, ou se calhar ali a partir dos 30 minutos de jogo, mudou.
— A partir dos 30, concordo. Duas partes é sermos demasiado simpáticos com o Sporting e um bocadinho antipáticos com os nossos. Acho que começámos mal e, por nós começarmos mal, o Sporting consequentemente começou bem. Marcámos um auto-golo... o golo do Luis Suárez é um auto-golo que me chateia sobremaneira, porque, como sempre, trabalhámos a construção, fazemos a construção de maneiras diferentes consoante o adversário e o modo como o adversário pressiona. E no nosso trabalho havia uma regra que era: nada de triângulos em zona baixa, nada de triângulos entre o guarda-redes e o médio. Martelámos muito sobre isto, trabalhámos as outras maneiras de construir. Primeiro pontapé de baliza que tivemos: auto-golo. E depois, obviamente que há ali um período em que estamos mal, em que perdemos muita bola, onde a equipa estava a sentir a pressão do resultado e do mau início, e voltámos a perder mais algumas bolas em zona baixa. Depois, há uma boa reação ao golo e os últimos 10/15 minutos da primeira parte são um bocadinho já o preâmbulo daquilo que ia ser a segunda. Na segunda parte fomos francamente melhores, fomos dominadores, não tivemos uma única situação de perigo na nossa área. Se não me engano, tivemos o único pontapé de canto já ao minuto 90 e qualquer coisa...Dominámos. Obviamente que num jogo desta dimensão, contra um adversário tão bom como o Sporting, obviamente que não íamos ter 5, ou 6, ou 7 oportunidades gigantes de golo. Mas a bola parada em que o Rius cabeceia de fora para dentro, normalmente dentro faz golo (foi o Luis Suárez que tirou). Depois o remate do Ríos de pé esquerdo, na diagonal em que eu estou, a bola parece que vai dentro e depois faz a curva para fora. Temos mais outra do Aursnes, temos algumas recuperações com transições perigosas... Na segunda parte fomos francamente melhores. Depois quando entra o Ivanovic, entra para esticar um bocadinho, para ir à procura da profundidade, fresco... E depois ficámos com um jogador a menos e, com um jogador a menos, depois, obviamente que o jogo, nos últimos 6 ou 7 minutos que o árbitro deu, já teve outro cariz.
— Na segunda parte o Benfica acerta muito bem a pressão que faz sobre os jogadores do Sporting. Foi esse o ponto fulcral?
— Acho que sim. Nós na primeira parte, já na parte final, já estávamos a interpretar um bocadinho melhor. Quando faltavam ali 10 minutos para o fim da primeira parte, pedi ao meu analista que fosse para o balneário e que me preparasse duas ou três imagens que eu tinha selecionado durante a primeira parte. Mostrámos aos jogadores como é que tínhamos que ajustar a pressão e acho que sim, acho que eles interpretaram bem. Depois, quando tens gente como o Barreiro, como o Ríos, que é gente muito, muito forte na pressão, são jogadores com intensidade, nós controlámos bem ali naquela zona.
— Tem alguma explicação, ou se conseguiu já perceber dos jogadores, porque é que acontece aquele início de jogo assim?
— A questão... e eu já lhes pus essa questão é: por que razão é que eu tinha posto como regra fundamental não fazer? Por que razão é que fizeram? Depois, a tremideira, depois tudo o resto é uma consequência, porque eles sabem que erraram. O guarda-redes sabe que errou, o Enzo sabe que errou, o António sabe que errou... Houve ali um... não foi só na construção do golo do Sporting, mas houve depois mais uma ou duas muito, muito parecidas. E obviamente que depois tu também sentes... Num algum momento, quem está lá dentro sente um bocadinho também a reação do público, que percebe que as coisas não estão a correr bem, e houve sim, alguma intranquilidade ali. Eles depois acalmaram. Obviamente que o golo do empate volta a pôr as coisas no patamar zero, e também no patamar zero emocional. Eles depois já se recompuseram. Na segunda parte foi tudo com muito mais confiança. Também não tivemos nenhum pontapé de baliza, porque o Sporting não fez nenhum remate à baliza, mas jogámos... não quero dizer no meio-campo adversário, mas pelo menos em dois terços de campo, e o Trubin não toca na bola.
— Este empate, que o técnico do Sporting considerou como aceitável e justo, coloca em causa as aspirações do Benfica em matéria de conquista e de ambição de conquistar o título?
— Não. O Rui [Borges] normalmente é supercorreto nas análises que ele faz. É difícil para um treinador dizer que o adversário foi mais forte e merecia ganhar, mas também aceito que ele tenha dito que o resultado se aceita. Porque o Sporting é uma equipa que teve dificuldades, mas que nunca perdeu a sua estabilidade. Tem um banco fortíssimo que faz modificações que tentam mudar o cariz do jogo. Você viu, por exemplo, que quando tenho o Enzo com cãibras e que tem que sair, entrou o Manu, que claramente evidenciou as dificuldades que ainda tem neste momento. O Sporting fez o jogo que conseguiu fazer contra nós. Eu não acho que eles tenham vindo aqui para empatar, honestamente não acho. Acho que foram condicionados e que depois saem com o empate que lhes satisfaz. Mas não penso que eles tenham vindo aqui jogar para o empate, não penso de todo. Eu considero-me na luta. Pode ser uma luta desigual, mas considero-me na luta. Estamos a três pontos do Sporting, estamos a quanto do Porto? A cinco? Estamos a cinco do Porto com um jogo a mais [menos], que se pode transformar em 6, 8 ou continuar em 5. Mesmo que seja um 8, considero que a equipa está cada vez melhor. A equipa tem as suas limitações, mas vai crescendo e vai tentando esconder as suas limitações. Mas a equipa é uma equipa. Joga como equipa, interpreta o jogo como equipa, sabe afrontar as dificuldades e os momentos maus como equipa. E fundamentalmente acho que esta semana parecia que o Sporting vinha aqui... e não digo isto com desrespeito pelo Sporting, de todo, porque o Sporting foi extremamente correto na maneira como falaram e como se apresentaram, mas parecia que menos de 5 era bom para nós. Parecia que éramos uma equipa de coitadinhos, parecia que a segunda equipa do Sporting vinha aqui à Luz e ganhava fácil. Enfim, não foi assim. A nossa equipa tem as suas limitações, sim, mas é uma equipa séria e é uma equipa que cresce.»
— Rodrigo Rêgo passou a titular ao não ter nenhum minuto, qual a razão?
— Rodrigo Rêgo passou de andar escondido nos Sub-23 e na equipa B, e nunca ser chamado a uma seleção nacional, de ter zero internacionalizações... passou daí a, numa semana, jogar no Benfica na Champions League, na Taça de Portugal e no Campeonato Nacional. Essa é a trajetória do Rodrigo Rêgo, que merece ser realçada.
— Este empate pode ter impacto na equipa para o próximo jogo, com o Nápoles?
— Não, não penso que tem impacto. Se o Sporting era uma equipa difícil, o Nápoles também é uma equipa muito difícil, com um treinador que eu conheço bem e que é um grande treinador, um grande estratega, que prepara as suas equipas muito bem. Será seguramente um jogo difícil para nós, mas não vejo como é que o jogo de hoje possa ter algum impacto. Se pode ter algum impacto, será o impacto da positividade. O impacto de uma equipa que, mesmo em situação difícil, consegue sair dela, consegue entrar no jogo e depois consegue dominar o jogo e partir de uma situação de desvantagem e chegar quase à vitória. Penso que só podem sair coisas positivas deste jogo e nenhuma negativa.
— Porque é que só mexeu na equipa depois dos 80 minutos?
— O treinador sou eu. Sou eu que decido. Sou eu que leio o jogo. Sou eu que tomo decisões. E estou absolutamente convencido... não posso fazer aqui o idiota e dizer que ia ganhar o jogo se tivesse 11 contra 11 até ao fim... não vou fazer o idiota, porque a minha missão é mais difícil do que a dos comentadores que fazem sempre o fenómeno. Eu infelizmente não posso fazer sempre o fenómeno. Estou convencido que as substituições foram feitas no momento certo para serem feitas. Sem perder nunca o equilíbrio da equipa, porque era importante não perder o equilíbrio. E há uma coisa que às vezes as pessoas têm uma certa tendência a errar na maneira como olham para a coisa: quando a equipa está bem, quando a equipa está superior, quando a equipa é aquela que está mais perto de ganhar, quando um treinador anjinho é pressionado por ideias como a sua, ou de alguém que lhe telefonou a dizer para você me fazer essa pergunta, às vezes estragam aquilo que está bem. E é preciso ter tranquilidade, saber estar com tranquilidade no jogo, ler as coisas bem e fazer aquilo que o treinador acha que é a coisa correta a fazer.
— Já jogou muitos dérbis na carreira, em que lugar colocaria este?
— Se calhar joguei 100 ou 200. Em Inglaterra era dérbi todas as semanas. No Inter fiz uns tantos, Madrid igual. Foi um bom jogo. Coisas maravilhosas, golos maravilhosos não, mas foi um jogo bom e competitivo. Um árbitro que cometeu poucos erros. Erros decisivos nem cometeu. Cometeu erros no critério dos cartões amarelos. Não falo do Prestianni, porque é capaz de ser vermelho. Mas nos amarelos, que já estava à espera, há um jogador do Sporting que é intocável. Manda no jogo, faz as faltas que quer e mais uma vez sai do jogo sem amarelo. Relativamente a esse jogador é que há uma dualidade de critérios. Mas já brinquei com ele [árbitro] e disse-lhe que pode sair à rua que ninguém o vai chatear, do Benfica ou do Sporting.
— O favoritismo atribuído durante a semana ao Sporting provocou revolta no balneário?
— Não. O Sporting foi sério, lúcido, sabia que não ia ser fácil. Não houve nenhuma intervenção do Rui [Borges] com língua grande. O Sporting foi respeitoso, foi um bom adversário. Uma coisa é jogar, outra é comentar. Outra coisa é treinar, outra é comentar quem treina. Há comentário fácil. Se fosse comentador, também seria bom. Com um pouco mais de respeito, mas também podia ser um bom comentador sem ser desrespeituoso e às vezes... é melhor nem adjetivar. Ficamos por aqui.
— Como analisa a expulsão de Prestianni?
— Nos outros cartões, não sei se foram já comigo aqui ou não, se foram não me lembro. O cartão de hoje é um cartão importante. É uma ação importante num jogo importante. Se você se recordar, nós perdemos aqui dois pontos contra o Rio Ave porque não fizemos uma falta na última jogada do jogo e numa transição. A mesma coisa contra o Casa Pia. E num jogo contra grandes jogadores, num jogo contra uma equipa fresca... porque o Sporting depois mete Quenda, Allison, Ioannidis, mete aquela rapaziada toda fresca... e um jogo que o Benfica está quase a ganhar, não o pode perder. E numa situação de contra-ataque daquelas, o Prestianni faz a falta não com a intenção de magoar, não com a intenção obviamente de levar o vermelho, com a intenção de fazer uma falta que parasse um contra-ataque. O capitão do Sporting [Hjulmand], por exemplo, na primeira parte, faz uma falta exatamente igual. A única diferença é que agarra. Não lesiona, agarra. Com a mesma intenção, com a intenção de parar um contra-ataque. Portanto, este cartão não é o tipo de cartão que eu condeno no Prestianni. Os outros se calhar sim, mas este não.»
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