Anselmi lembra FC Porto: «Sinceramente, já me sentia esgotado»
Martín Anselmi quebrou o silêncio depois da saída do FC Porto. O treinador argentino chegou no decorrer da época passada, sucedendo a Vítor Bruno, e deixou o Dragão após o Mundial de Clubes, em que os azuis e brancos foram eliminados na fase de grupos.
«Por um lado sinto-me bem. Voltei à Argentina depois de sete anos. Creio que precisávamos, eu e a minha equipa técnica, de um travão. Passámos sem travão e parar por três países diferentes e culturas diferentes. Era necessário estar um pouco sem trabalhar para olhar para o processo, para que apareçam novas ideias e ganhar frescura. Sinceramente, já me sentia esgotado. Não é o mesmo que estar três ou quatro anos no mesmo lugar, tivemos de nos adaptar. Sou uma pessoa que gosta de saber onde estou. Chegar, saber quem representamos, a sua cultura, o que pretendem os adeptos, como são as pessoas, a cidade. Agora estou a fazer o que queria há muito tempo. Quero desfrutar dos meus pais, amigos, poder treinar todos os dias, retomar o inglês, que tinha abandonado um pouco e agora posso estudar. É um momento, por um lado, espetacular. Depois, no final, em muito pouco tempo fizemos demasiado», disse, em entrevista no podcast Clank!.
O técnico recordou a chegada ao FC Porto e as vendas de Nico González e Galeno no mercado de janeiro.
«Chegámos a um clube enorme como o FC Porto, com muito prestígio na Europa, não só em Portugal. Calhou-nos, e sabíamos, meia época, que vinha a ser má, com uma direção que tem muita vontade de mudar, fazer coisas novas e renovar. Não a cultura, porque é uma essência enorme e espetacular. Mas a maneira de fazer as coisas. Chegámos a meio dessa primeira temporada. Havia um plantel desfalcado e tínhamos um pouco de absorver essa pressão. Havia jogadores que necessitavam de alguém que absorvesse a pressão e que pudesse, de alguma forma, protegê-los. Fizemos um trabalho durante cinco meses de sobrevivência», começou por referir.
«Chegámos e o plantel era um. Fomos à Sérvia no primeiro jogo para a Europa League. Se empatássemos estávamos fora. Não podíamos sequer empatar. Ganhámos por 1-0 com golo de Nico González, que no fim da semana estava no Manchester City. Nesse mesmo dia vendeu-se Galeno para a Arábia Saudita. Não pudemos cobrir, talvez, os dois jogadores mais importantes que tínhamos no plantel. O plantel estava fechado. A partir daí, competir com o que tínhamos. Exigiu muito de mim a nível pessoal e sem dúvida que é bom ter agora alguma distância. Porque, quando te afastas, começas a ver o processo de outra forma. Estás a caminhar pela rua e lembras-te de certa situação», acrescentou.
Mundial de Clubes
O FC Porto não conseguiu qualquer vitória no Mundial de Clubes. Os dragões empataram com Palmeiras, de Abel Ferreira, e Al Ahly, e perderam com o Inter Miami, de Messi e companhia.
Tinha a dúvida se jogava o Jordi Alba ou o Segovia e isso mudava tudo. Achei que ia ser o Alba e jogou o Segovia
«Planificámos muito bem o jogo com o Palmeiras, porque tivemos muito tempo. Sabíamos que era o nosso primeiro adversário. Chegámos aos Estados Unidos com quatro ou cinco dias para preparar o jogo. Esse jogo levou-nos aos limites, muito intenso, com muito calor. Desfrutei do ambiente, da intensidade, do ritmo, da tática, porque fizemos alguns ajustes defensivos que sabíamos que o Palmeiras não queria, mas o Abel mudava e nós também mudávamos a seguir», apontou, abordando igualmente os duelos com Inter Miami e Al Ahly.
«Tínhamos não sei se três dias para o jogo seguinte e disse aos jogadores que íamos recuperar, mandei-os ir passear a Nova Iorque e desfrutar um pouco. Precisávamos. Tinha a dúvida se jogava o Jordi Alba ou o Segovia e isso mudava tudo. Achei que ia ser o Alba e jogou o Segovia. Eram quatro por dentro e tínhamos inferioridade por dentro. Queria tirar a bola ao Inter Miami. Aos 15 minutos, percebi que era preciso meter um médio. Quando esperava para entrar, o Messi marca de livre e o jogo partiu», atirou.
Martín Anselmi revelou que teve uma «conversa dura com o plantel».
«Sentia que nos tinha faltado uma certa humildade. Não tenho problemas em dizer aos jogadores que me enganei, aconteceu muitas vezes. Mas também temos de ter a humildade de ver-nos e perguntar em que nos enganámos. Antes do jogo com o Al Ahly, disse que podíamos ter ali um botão em que, se carregássemos, íamos de férias. Ou podíamos enfrentar o jogo e depois íamos de férias. Que fazemos? Jogámos o jogo ou carregamos no botão e vamos de férias e já está, acabou a temporada e o Mundial? Se é para ficar, temos de estar concentrados. E o que correu a equipa nesse dia... o calor, o Marcano, com 38 anos e último homem, transições...», disse.
Saída do Cruz Azul para o FC Porto
A chegada de Anselmi ao FC Porto proveniente do Cruz Azul foi atribulada e polémica.
«O FC Porto é um dos maiores clubes da Europa, com tudo o que significa a sua história. Sentia que, com este clube, os adeptos iam compreender. As coisas não estavam muito bem e lá e era um desafio que não podia recusar. Não deixei que o FC Porto negociasse, era entre mim e o presidente, unia-nos uma amizade. Quando renovámos contrato, dissemos para deixarmo-nos de tantas cláusulas e que, quando surgisse algo bom da Europa, que me motivasse realmente, eu falaria. Da mesma forma que, se eu fosse um desastre, eu também não iria executar todas aquelas cláusulas. Também não o fiz agora, no FC Porto, no acordo que tivemos de fazer», referiu, lembrando que os dragões não tinham condições para pagar a cláusula completa.
«Não quis que o FC Porto negociasse com o Cruz Azul, fui eu ao gabinete e expor a situação. Não havia condições para o FC Porto pagar a cláusula completa e, então, só pedia que os presidentes dos clubes conversassem e eu tivesse uma conferência de Imprensa para falar aos adeptos. Chegaram a um acordo e explodiu tudo na Imprensa e puseram-me entre a espada e a parede. Foi uma situação muito dura a nível pessoal e familiar. A minha família ia ficar no México, mas as coisas escalaram tanto que eu achei que os meus filhos não podiam estar cómodos na escola», rematou.