A antiga internacional portuguesa, Ana Seabra, é agora selecionadora nacional do Irão

Ana Seabra, a nova selecionadora do Irão: «Nunca tive medo de desafios»

Antiga internacional portuguesa assinou um contrato de dois anos com a Federação de andebol do Irão para treinar a seleção feminina. Uma aventura diferente de tudo o que viveu e já com o Mundial à porta

A única guerra que preocupa Ana Seabra neste momento é a que tem com o lenço com o qual deve cobrir o cabelo em cerimónias oficiais agora que é selecionadora da equipa de andebol feminino do Irão.

«É uma luta, eu e os lenços não nos damos muito bem. Acho que por isso, tiveram o cuidado de me oferecer quatro chapéus e dizer de forma muito simpática: 'olha, não há problema, já percebemos que a coisa não está a funcionar muito bem, podes usar o chapéu'», contou a antiga internacional portuguesa.

«Pediram-me para usar apenas em situações oficiais, o que é normal. Nesses momentos, devo colocar o lenço na cabeça, cobrir pernas e braços. É uma questão cultural que deve ser respeitada», acrescentou com tranquilidade, revelando que no dia a dia não são necessárias essas regras rigorosas.

Mundial à porta
O primeiro grande desafio de Ana Seabra acontece já no próximo mês de novembro e será o Campeonato do Mundo que se realiza na Alemanha e nos Países Baixos. O Irão garantiu a sua presença no Mundial com a quarta vaga no apuramento asiático e vai ter como adversárias Suíça, Hungria e Senegal. Para já o objetivo é claro: «Aproximar o nível de jogo de outras seleções internacionais, sobretudo das asiáticas. Países como Japão, Coreia do Sul e China... No fundo, as referências que temos na região», explica Seabra, que procura agora realizar jogos particulares antes de pisar o grande palco. «O Irão merece uma oportunidade e não tenho medo de coisas que dão trabalho. Encontrei jogadoras com muita vontade, um grupo de miúdas guerreiras, com um potencial incrível! Gostei muito do que vi, o que me motiva ainda mais», contou satisfeita. «É um desafio muito interessante e a oportunidade de trabalhar num país que quer investir no andebol, onde há muito para fazer, claro. Precisa muito de crescer, mas tem um grande potencial», explicou a treinadora, que, enquanto ponta-esquerda, jogou no Madeira SAD no Colégio de Gaia.

Ana Seabra continua a treinar as espanholas do Atlético Guardés, da Galiza e que acumula com o novo desafio de liderar a seleção do Irão nos próximos dois anos.

«É uma oportunidade de crescer profissional e pessoalmente numa outra realidade e cultura, o que para mim é super-interessante e curioso, porque gosto de desafios. Nunca tive medo de desafios. Acima de tudo, gosto de conhecer e de aprender», explicou Seabra a A BOLA, que já esteve com as atletas num estágio na capital Teerão e encontrou ótimas condições para desenvolver o trabalho.

Ana Seabra com as jogadoras da Seleção do Irão

«Foi tudo incrível! Desde as pessoas super atenciosas e cuidadosas à atitude das atletas, dedicadas e com muita vontade de aprender e evoluir. O Mundo não conhece a realidade iraniana. Obviamente, têm os seus problemas, mas a verdade é que fiquei muito contente e surpresa com tudo o que encontrei», confessou.

«Facilitaram muito a minha presença, fizeram tudo para que me sentisse à vontade. Também me ajustei a algumas coisas que para eles eram muito importantes, não por eles mesmos, acho, mas pelo governo e pela cultura. A influência da religião tem muito peso e as autoridades levam muito a sério e são muito exigentes», assumiu.

Ana Seabra confessa que sente que o desporto ajuda à emancipação feminina das iranianas.

Mas, claro, se ao sucesso desportivo que procura com as suas novas pupilas, puder juntar algo mais ficaria ainda mais satisfeita.

«Por vezes, sinto que estou também numa missão pessoal, além da excelente oportunidade profissional. Gostava de contribuir para ajudar jogadoras ou um povo que raras vezes tem a oportunidade de trabalhar com pessoas do estrangeiro. Por medo, por não saberem o que pode acontecer no Irão ou o perigo da guerra. Senti-me muito grata por ter esta oportunidade. Tenho vontade de contribuir para desenvolver o grande potencial que encontrei», contou a treinadora que confessou que não sentiu dificuldades na adaptação à cultura.